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Esconde-se a verdade sobre as estatais

Miguel Debiasi

 

O processo de descolonização são lentos e complexos. A descolonização exige um amplo movimento dos colonizados. Um movimento concebido à luz da obrigatoriedade de confrontar-se com o presente e propor um futuro emancipado de qualquer forma de colonialismo. Para descolonizar um país é preciso uma organização coletiva e transformadora.

A décadas na América Latina grupos sociais se articulam por um continente livre de todas as formas de opressão política e exploração econômica. Por meio de reflexões sociológicas e antropológicas da realidade política e econômica latino-americana, foram instituindo grupos, movimentos e organizações não governamentais em todo continente. Os contextos acadêmicos e educacionais foram gestores de amplas reflexões e de movimentos como a Pedagogia do oprimido de Paulo Freire. A Pedagogia do oprimido não dirigiu-se apenas aos educadores, mas foi assimilada pelos líderes populares e sociais.

Poderíamos elencar inúmeros grupos sociais e lutas populares na América Latina contra o colonialismo. As inspirações dos movimentos sociais na sua maioria baseia-se na leitura de Karl Marx (1818-1883). Uma corrente do marxismo é reflexão gramsciana ou do filósofo italiano Antônio Francesco Gramsci (1891-1937). Outras inspirações dos movimentos sociais latino-americanos são as lutas populares fomentadas pelo contexto de desigualdade social, de opressão e exploração. Destas reflexões e lutas sociais fortaleceram-se as organizações dos movimentos sociais e levou ao surgimento de lideranças populares e de intelectuais. Muitos destes intelectuais orgânicos e líderes populares se tornaram referência no continente e ao mundo.

Apesar de longas décadas de lutas, a colonização continua enraizada no continente por meio de estruturas e partidos hierárquicos. As recentes reformas trabalhistas e da previdência social são resultados do colonialismo. Os colonizadores continuam com o microfone aberto e com um discurso unilateral em defesa do neoliberalismo globalizante, levando ao extremo o nacionalismo xenófobo, diz o sociólogo Boaventura de Sousa Santo. No discurso unilateral da política neoliberal há o aniquilamento do papel do Estado na regularização da economia. Por um lado, o resultado da economia neoliberal é a erosão dos direitos trabalhistas, esvaziamento da democracia, violência contra a mulheres, negros e minorias. Por outro, é o fortalecimento do fascismo político, mercantilização da religião e a descriminalização social da classes populares.

A colonização é prática do sistema capitalista que visa total controle das riquezas e domínio político dos povos. O controle da economia e da mão-de-obra é o eixo pelo qual o capital articula seu discurso e atuação colonial. A política da privatização e da não interferência do Estado na economia e na legislação trabalhista são obsessão do capital. Enquanto estatais são rendáveis haverá o discurso política da privatização e, consequentemente, um diagnóstico negativo do Estado enquanto gestor de setores estratégicos da economia, da infraestrutura.

O capitalismo global apresenta-se como o caminho de crescimento da economia, contudo, ignorando que a décadas vive sua maior crise econômica. Para esconder sua responsabilidade repete os velhos discursos de enxugar o papel do Estado na economia mediante privatização. O ministro da economia Paulo Guedes e o governo Bolsonaro pretendem em 2021 privatizar as cinco maiores estatais da nação que geram uma média de 70 bilhões de reais anuais, sendo as empresas mais lucrativas do país, conforme os dados fornecidos pela receitas federal. Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, Caixa Econômica Federal, BNDES, são as estatais que todo ano chegam aos melhores patamares de lucratividade, privatizá-las é vender a nação e fazer do povo brasileiro refém dos grandes grupos econômicos transnacionais. Os abusivos preços dos alimentos, combustíveis, serviços de comunicação, desvalorização do salário mínimo e empobrecimento da população é resultado da política neoliberal, a nova face do colonialismo imperial.  

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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