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O paraíso nada religioso e ético

Miguel Debiasi

 

A ciência moderna colocou o ser humano no centro do mundo. O homem foi colocado no alto do pedestal por acreditar na sua historicidade e razão. Com seus princípios materialistas e históricos a razão moderna propõe que o homem aproveite ao máximo o seu mundo. Em contrário, o homem será um inútil, um ser insignificante. Na visão da economia liberal o homem está no mundo para acumular bens materiais, para isto, não há fronteira, nem limites religiosos e éticos.   

A teologia reconhece no homem uma alma espiritual que não se reduz a materialidade histórica, ainda que se apoie nela. Há a impossibilidade de redução da alma espiritual a matéria (Mateus 10,28). A alma espiritual se manifesta na abertura do ser humano ao mundo. O ser humano dá sentido à sua existência história temporal quando seu espírito pensante e suas ações se apoiam na transcendência da vida. Se por um lado, o homem é o centro do mundo, por outro, seu fim principal e último é Deus. A união do ser humano com Deus ocorre na vida temporal que também é espiritual. Assim, a vida humana ascende ao plano temporal espiritual e daí para Deus (João 10,30).

O teólogo Clodovis Boff diz que em sua ascensão para Deus, o homem arrasta consigo todo o mundo material. Na capacidade de conjugar o mundo material e espiritual, o homem representa toda a criação, tanto a cósmica como angélica (Gênesis 1,26; Hebreus 2,5). O mundo só pode chegar a Deus pelo homem. E o homem só pode chegar a Deus pelo mundo. O homem por ser o cume da criação, ele faz do mundo todo chegar ao seu princípio ético, à sua maior perfeição. Pela sua capacidade ético e espiritual, o homem pode colocar-se como uma espécie de um elo entre o mundo e Deus. A união entre Deus e homem supõe um mundo material que serve a toda capacidade pensante e espiritual, portanto, de crescimento humano.

Os padres da Igreja reunidos no Concílio Vaticano II (1962-1965), declararam que o mundo vai a Deus no homem e pelo homem: “o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude” (Gaudium et Spes, n. 14). Para a Igreja, o mundo e todas as criaturas ganham sentido pela existência do ser humano que pela sua “superioridade” sobre os demais seres não reduz o universo a materialidade. Como escreve Santo Tomás de Aquino (1225-1274) “o homem é o horizonte e a fronteira da criação como um todo”. E explica: “o homem é o menor mundo porque nele confluem todas as naturezas: corporais e espirituais”. O homem por inteiro, corpo e alma, é um microcosmos. Porém, o teólogo e são Gregório de Nissa (330-395) advertia: “em vez de esse nome grandiloquente exaltar o homem, o gratificaria com as qualidades dos mosquitos e ratos”. Isto demonstra a pequenez do ser humano frente a Deus.  

Os grandes filósofos consideram a razão como algo divino, como está claro em Aristóteles (470-399 a. C.), Platão (428-348 a. C.), os estoicos e outras correntes filosóficas modernas como de Hegel (1770-1831). A religião cristã também considera a razão como bem dos racionais, como único e incomensurável a qualquer ser humano. O portador de alma e razão é a pessoa. O ministro da economia Paulo Guedes, já disse tantas asneiras, que podemos recordar algumas: “o pobre é vagabundo”, “o desempregado vá servir os ricos na praia”, “empregada doméstica não pode viajar para Disneylândia”, “funcionário público tem que ser extinto”, “o problema do Brasil são as estatais”, “filho de empregado não pode frequentar a universidade”, “pobre não pode reclamar do preço do gás porque não tem feijão para cozinhar”, “o Brasil é o país que mais cresce”. É possível lembrar de outras asneiras, pois, aliás, estas são diariamente ditas.

Todo ódio do ministro da economia, Paulo Guedes, pelo povo, pobres, desempregados, funcionários públicos, estudantes e outros e o desprezo pelas estatais, tem uma razão clara: aumentar seu patrimônio pessoal. O ministro da economia usa do cargo para garantir seus bilhões de dólares depositados em empresa de offshore de paraíso fiscal nas ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. O patrimônio de Paulo Guedes em paraíso fiscais, como ministro da economia valorizou mais 40%. O paraíso de Guedes não é nada religioso e ético. Nesse paraíso Deus não habita. Aliás, como ele mesmo disse: “rico tem que ter vergonha de não pagar imposto. É um absurdo isso”. Paulo Guedes é destes ricos. E absurdo maior é Paulo Guedes, usar do ministério da economia para enriquecer de forma corrupta, enquanto o pobre não tem dinheiro para comprar meio quilo de osso, um bujão de gás, pagar a conta luz, água...

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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