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O discurso e os resultados

Miguel Debiasi

“Acabou a recessão”! Michel Temer celebra o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre. Contudo, o crescimento é fruto da safra de grãos e não das medidas econômicas do governo. Em tempo de profunda recessão econômica em setores da indústria e do comércio, a mãe terra e a agricultura têm sido generosas. Da terra vem o sustento da população e o remédio para a superação da recessão econômica.

“O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer mais ainda”, postou no Twitter Michel Temer. No mesmo dia da postagem, 1º de junho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou taxa do desemprego que chegou a 14% no mês de abril. O retrato da catástrofe econômica do Brasil mostra que se eleva mensalmente em 1% a taxa do desemprego. No confronto com o igual trimestre do ano passado o desemprego subiu 23,1%, um aumento de 2,6% de pessoas desempregadas. O presidente do IBGE, economista Paulo Rabello de Castro, contradiz as declarações de Michel Temer e de seus ministros. Rabello foi taxativo ao apresentar os números do cenário econômico do Brasil: “muito ruim” e o ambiente econômico “não melhorou”.

A pesquisa dos Indicadores das Indústrias, divulgada em 1º de junho pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), registrou que o faturamento da indústria caiu 3,1% em abril. Essa queda comparada com março registrou uma retração de 9,9% do comércio. O presidente da CNI Robson Andrade afirma que a maior depressão econômica da história do país “é fruto do golpe parlamentar de 2016”. A própria CNI que apoiou o golpe reconhece o desastre econômico e político estabelecido no país após a queda da presidenta Dilma Rousseff.

Comparada com os resultados divulgados pelos institutos de pesquisa CNI e IBGE, a fala de Michel Temer e de ministros é falácia política. Ao divulgar as taxas trimestrais da economia, Rabello foi questionado por um repórter da Rede Globo se os números não interferiam de forma negativa no momento do Brasil. Rabello, que também apoiou o golpe parlamentar, em defesa do instituto e da pesquisa que coordena, disse: “Que se dane o governo. Eu não "tô" aqui nem para produzir dados bons nem dados ruins para ninguém. Os dados são o que são”. Agravam a situação outros resultados como o indicador da evolução da produção que caiu para 41,6 pontos; o de número de empregados ficou em 47 pontos e o de utilização da capacidade instalada, em relação ao usual diminuiu pra 36,6 pontos. Diante dos resultados, Rabello constata: "Sem grandes perspectivas de melhora no cenário econômico, os empresários continuam pouco dispostos a investir".

Para o sociólogo e cientista político Emir Sader, Michel Temer "... passará também como um pulha, um político subserviente, que colocou sua mediocridade a serviço das piores causas. Que terminou enxotado pelo povo, como o governante que menor apoio teve em toda a história do país, símbolo do mais avacalhado que a política brasileira já produziu, misto de Eduardo Cunha e Aécio Neves".

Na real, os índices de crescimento mostram um pessimismo econômico e a rejeição ao governo. Diante da maior depressão econômica da história do Brasil, a confiança dos brasileiros em relação ao governo e à economia são praticamente nulas. Em suma, os resultados das pesquisas do trimestre captam os sentimentos dos brasileiros enquanto o discurso do presidente e de ministros continua num mundo metafísico, fictício, surreal.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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