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Em defesa da vida digna

Miguel Debiasi

A filosofia busca compreender a natureza com suas leis e todas as coisas referentes a vida humana. É função da filosofia refletir todas as questões que envolve o ser humano. Pensar a vida humana na sua essência e as condições para uma existência digna tem ocupado a ciência da filosofia desde os pré-socráticos ao nosso tempo. Pensar um verdadeiro conhecimento e crítico é a tarefa da filosofia. Por essa razão o campo de estudo da filosofia é muito amplo e tarefa inesgotável.

Para o filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872), a filosofia é a ciência da realidade em sua veracidade e totalidade no seu sentido mais universal da palavra. É papel da filosofia pensar nos segredos mais ocultos nas mais simples coisas naturais. É papel da filosofia pensar até na hipótese especulativa. É pensar no chão que os pés pisoteia. A filosofia se constitui o templo do cérebro. A filosofia como ciência não reduz aos estudos da natureza e das coisas. Pensar abre caminho para o objetivo da maior ciência, da razão do pensamento humano. Pensar, questionar, refutar e efetuar é tarefa da filosofia enquanto ciência humana.

O filósofo alemão Hegel (1770-1831) pensa a realidade como espírito e não como uma substância. Espírito enquanto atividade é um processo. Que é movimento em que o espírito se autogera. Gera ao mesmo tempo a sua própria determinação e superando-a plenamente. Neste movimento o espírito é infinito não no modo puramente existencial, mas de modo sempre ativo realizando-se, como superação do finito. O espírito infinito é um círculo, no qual princípio e fim coincidem de modo dinâmico, como movimento espiral no qual o particular é sempre posto e resumido dinamicamente no universal. O ser é sempre resumido no dever ser. O real é sempre resumido no racional. O real é processo que se autocria enquanto percorre atividade do espírito que é o movimento do refletir-se em si mesmo. O real é racional. E, o racional é efetivo.

Hegel ao refletir a natureza do Estado diz: o Estado é a própria ideia que se manifesta no mundo. O Estado em si e para si, é a totalidade ética. O Estado é a realização da liberdade. A liberdade real é a finalidade absoluta da razão. O Estado é o espírito que está no mundo e se realiza nele com a consciência. O Estado não existe para os cidadãos. É o cidadão que existe para o Estado. O cidadão só existe enquanto membro do Estado. A história é o desdobramento do espírito do tempo. A natureza é o desdobramento da ideia no espaço. Estado, história, natureza é o juízo do mundo. A filosofia é o conhecimento e revelação conceitual dessa racionalidade e desse juízo.

Filosofia é a visão da história do ponto de vista da razão. Razão não enquanto intelecto, mas sim a compreensão. A história do mundo passa por esse processo de racionalidade, da razão de existir do Estado, do indivíduo enquanto sujeito e da natureza enquanto desdobramento do espaço. Isso parece não ter-se realizado nas pessoas dos trabalhadores brasileiros. Os trabalhadores não são valorizados como cidadãos do Estado e cidadãos da história, mas desprezados em sua natureza. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) o salário mínimo no Brasil deveria ser de R$ 5.304 em dezembro de 2020. Os cálculos foram feitos com base no custo das cestas básica que variam de R$ 454 a R$ 631 nas capitais. O trabalhador brasileiro gasta 57% do salário mínimo para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta.

Feuerbach e Hegel indicam que uma função da filosofia é pensar na vida das pessoas enquanto cidadãos do Estado. Ao Estado cabe garantir ao cidadão as condições dignas. E o Estado por sua natureza ética deveria ser um organismo que corrige os erros que descrimina seus cidadãos e refutar toda situação de exploração. A elevação do indivíduo ao estado de cidadão passa por um salário mínimo condizente e real as necessidades da família dos trabalhadores. É tarefa do Estado garantir salário condizentes com a realidade do cidadão. Na visão filosófica o indivíduo desagregar-se da vida do Estado quando não tem as mínimas condições de cidadania. Para superação deste perigo na melhor definição da filosofia hegeliana, cabe ao Estado cumprir sua obrigação ética para o desenvolvimento do indivíduo, que vive num processo e num movimento dinâmico de espírito e de autoconsciência. Uma reflexão por uma política salarial justa para o cidadão de nosso tempo também é função da filosofia. Afinal, o filósofo é cidadão que ajuda a elevar a consciência dos trabalhadores e trabalhadoras.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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