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Em benefício de poucos

Miguel Debiasi

“O capital não tem pátria”! Karl Marx define numa frase a política econômica neoliberal. A exploração burguesa neoliberal se converteu num cosmopolitismo financeiro planetário sem a intervenção governamental. Os chefes das nações se transformam em servidores da força econômica internacional. As forças econômicas se encontram tão acentuadas, num verdadeiro empinar de um muro entre pobres e ricos. Num curto prazo de tempo nenhuma tragédia acabaria com essa exploração burguesa.  

Contudo, o professor brasileiro de economia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Ladislas Dowbor, autor da obra A era do capital improdutivo: novas arquiteturas de poder, afirma que o mundo migra para um novo modo de produção não mais capitalista. Segundo o autor, o capitalismo leva a destruição do planeta em benefício só de uma minoria. Por conseguinte, o capitalismo gerou três grandes crises, a ambiental, da desigualdade econômica e social e da desestruturação financeira. Mesmo sendo a causa, o capitalismo não responderá pelas três crises mundais.

Quando perguntado da situação política e econômica do Brasil, pelo Jornal Brasil de Fato, o economista responde que a situação é agravada pela falta de governo, de rédeas sobre o processo. O que acontece no Brasil é um exemplo que o sistema está se desagregando e o resultado são pessoas inseguras. E, pessoas inseguras tendem a ser mais suscetíveis ao apelo de ódio, porque se sentem perdidas, afirma o economista.

Os motivos da crise do capitalismo estão na excessiva e cada vez maior concentração de renda, relacionada com a financeirização da economia, fazendo com que os ricos deixem de investir em produção, trabalho, empregos. Isto é perceptível por cálculos simples que o economista chama de “bola de neve”. Numa simples comparação, se um bilionário compra R$ 1 bilhão em papéis que rendem 5% ao ano, ele tem um rendimento de R$ 137 mil em um dia. No dia seguinte, como não tem como gastar todo o dinheiro, investe R$ 1 bilhão inicial mais os R$ 137 mil, e assim fica cada dia maior seu rendimento. Tal lógica capitalista, levou à situação em que 1% do mundo tem mais do que os 99% da população. No caso, do Brasil, seis famílias tem mais do que a metade mais pobre da população.

Segundo reportagem da revista Forbes, que sita um dos bilionários do Brasil, Joseph Safra, dono do banco Safra com um patrimônio de R$ 95 bilhões, diz que “não vai investir, porque dá trabalho”. Isso reflete do pensamento dos bilionários do mundo. Destarte, o dinheiro dos bilionários migra para paraísos fiscais ao invés de ser empregado na economia do país, para geração de empregos, serviços e de desenvolvimento. Sem investir no trabalho a economia paralisa. A saída do país é taxar as grandes fortunas para aplicar o dinheiro na economia.

Em 2013, quando a presidente Dilma Rousseff tentou reduzir a taxa de juros para diminuir esse tipo de fortunas, entrou em guerra com o sistema financeiro. Para piorar, com o golpe parlamentar de 2016 vieram às reformas, as quebras dos direitos trabalhistas, demissões e desempregos. O desajuste econômico é tão real que no Brasil tem uma população de 105 milhões de pessoas ativas, mas somente 33 milhões tem emprego formal, de carteira assinada. As décadas douradas no Brasil, foram de 2003 a 2013, apontados pelo Banco Mundial como progresso econômico e social. A única saída do capitalismo é investir nas necessidades da população, com políticas públicas e infraestrutura para aumentar a renda das famílias e a produtividade.

O desajuste financeiro global e do Brasil é escandaloso. O atual sistema está em benefício de poucos, com isso, pode gerar uma população mundial indignada no planeta. O sistema neoliberal durou 40 anos e já mostra que é ineficaz. É preciso buscar um novo sistema e novo modo de produção. Buscar uma coisa nova, conclui o economista. Contudo, parece-nos algo pouco provável que aconteça, o capitalismo se autorregenera. Pois, até com a pandemia do coronavírus os bilionários ficaram mais ricos as custas de mortes de inocentes. Contudo, em algo é preciso concordar na análise do economista, o mundo está em benefício de poucos. Infelizmente!

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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