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As mulheres venceram o medo

Gislaine Marins

Não é preciso esperar o resultado eleitoral para saber quem são os grandes vencedores deste pleito eleitoral: são as mulheres, que venceram o medo, superaram as diferenças políticas e partidárias e foram às redes sociais e neste final de semana irão às ruas para dizerem não à ascensão do neofascismo.

As mulheres brasileiras estão dando um exemplo para o mundo, em um momento histórico, no qual populismos de matriz nacionalista, xenófoba, homofóbica, racista e misógina adquirem aprovação popular, tocando os pontos mais frágeis das pessoas. O neofascismo aposta no medo, as mulheres só podem apostar na coragem e só podem ter coragem amparadas na esperança e na solidariedade, armas que sempre foram naturais para os mais fracos e para os que têm o dom de gerar a vida e de acreditar no futuro.

As mulheres brasileiras estarão no mundo inteiro dizendo não ao que de mais nefasto representa para a democracia: a institucionalização da força para garantir a segurança, da mordaça educacional para garantir o silêncio e a ignorância, do terror para garantir a manutenção do poder.

As mulheres brasileiras dirão isso com a graça, o sorriso, a alegria que nos distingue como povo. Elas dirão com a criatividade que tem marcado a nossa reação à agressividade dos neofascistas. Elas dirão com o espírito de compreensão e de superação das diferenças que infelizmente os partidos brasileiros não conseguiram exprimir ainda. Elas dirão com a força de quem coloca os interesses supremos da nação acima de qualquer outra motivação. Elas dirão com a consciência de quem sabe o valor da democracia, tão jovem e alcançada com tantos sacrifícios e depois de tantas dores. Elas dirão com a fecundidade da intuição feminina e com a ousadia da consciência feminista.

As mulheres brasileiras dirão com voz plural, sem distinção de cor, raça, credo, sexo, idade, nacionalidade. Dirão com o sentimento de brasilidade e de pertença ao mundo. As mulheres brasileiras sabem que o perigo do neofascismo não é apenas nacional, é global. Não é à toa que o movimento das mulheres brasileiras ganhou as páginas dos principais jornais e revistas do mundo. E não será em vão esta primavera: ela já produziu frutos. E, tenho certeza, produzirá muitos mais no próximo verão. E nós poderemos finalmente marejar os olhos de alegria, de alívio e de confiança no nosso país.

Sobre o autor

Gislaine Marins

Doutora em Letras, tradutora, professora e mãe. Autora de verbetes para o Pequeno Dicionário de Literatura do Rio Grande do Sul (Ed. Novo Século) e para o Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas (Editora da Universidade/Tomo Editorial). É autora do blog Palavras Debulhadas, dedicado à divulgação da língua portuguesa.

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