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A destruição da identificação nacional

Miguel Debiasi

 

Os Institutos públicos têm trabalhado seriamente e de forma científica para uma maior identificação da realidade e da vida socioeconômica do país. Os Institutos oferecem estudos sociais amplos em pequena e macroescala. Este mapa de informações ajudam para os avanços em estudos científicos e pesquisas, políticas públicas, estratégias e ações dentro de um conjunto de trabalhos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – o IBGE – tem prestado um excelente serviço a nação e reconhecido mundialmente.  

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos escreve que objetivo de uma análise da realidade social é indicar os fatores relevantes para uma discussão e para postular medidas de superação das distorções dentro de uma escala e perspectiva de ação. As análises sociais e econômicas são uma mediação entre a intenção e a ação, que podem ser aplicadas em diferentes redes e grupos sociais. Toda distorção e ocultação da realidade já é um pressuposto do exercício do poder de regulação e controle social. Os diferentes meios de regulação e controle social suscitam padrões, representações e posições dos grupos e das classes dominantes, que produzem ilusões em políticas públicas.

As distorções da realidade são quantitativas e qualitativas. São distorções que usam dos mecanismos em nível de escala, projeção e simbolização. A escala pequena ou macro omite as informações coerentes da realidade para que os administradores, executivos e legislativos promovam o controle social. Projeção vem sempre acompanhada de ações baseada na orientação e no instrumental de reprodução do poder. Simbolização se funda num fiat sociológico da economia política que encobre a combinação de interesses. A distorção dos dados e informações socioeconômica da realidade usa o mecanismo em vista de maximizar a eficácia da economia, da regulação e do controle social.

Para Boaventura a economia usa a eficácia da orientação, porém, reduzida a um único espectador, o empresário capitalista. À medida que o estudo científico distorce a realidade ou a sua invisibilidade, a sociedade incorpora as reivindicações da classe dominante, dos empresários capitalistas. Os limites que se impõe aos estudos das ciências sociais barram o caminho de uma mudança social. Para superar essa realidade exige-se um caminho sincronizado entre as ciências sociais ou com aquilo que alcançado cientificamente com as ações que mobilizam as pessoas, a comunidade. Todo nivelamento das diferentes realidades gera favorecimento em direção aos padrões dominantes. O nivelamento produz em maior escala agentes sociopolíticos que tende privilegiar a economia e seu poder, produzindo aquilo que se chama corpos dóceis, a dominação social. As distorções e os nivelamentos são práticas sociais que produzem a epistemologia da cegueira. A consequência da epistemologia da cegueira é elevação do homo economicus que parece um herói quando comparado aos corpos dóceis.

O Brasil possui um grande Instituto público e respeitado mundialmente por prestar grandes serviços em favor do avanço da nação brasileira, o IBGE. Criado em 1936, o IBGE constitui o principal Instituto provedor de informações e dados do país nos mais diversos segmentos e setores da sociedade civil, bem como, da esfera pública governamental federal, estadual e municipal. Todo o trabalho do IBGE segue os conceitos, classificações, métodos assumidos pelos órgãos internacionais como da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Isto significa que os dados e as informações oferecidas pelo IBGE tem coerência e eficácia de pesquisa científica, portanto, credibilidade.

Mas, lamentavelmente o IBGE vem sofrendo controle político, intervenção na coordenação do Instituto, na gestão de pessoas e nos trabalhos, corte orçamentário, demissão de técnicos qualificados, redução do quadro de funcionários, restrições nas pesquisas e outras limitações por parte do governo federal. A retaliação com o IBGE deve-se por terem sido divulgados dados e informações precisas da realidade do Brasil, como aumento do desemprego, precarização das condições de trabalho, desmonte dos serviços públicos como da saúde, destruição do meio ambiente, pane na economia e no Produto Interno Bruto (PIB), o retorno do Brasil ao mapa da fome e outros. Acabar com o trabalho do IBGE é destruir a fonte primeira de identificação da realidade nacional. Para qualquer atividade pública e privada necessita-se das informações precisas da realidade, trabalho que o IBGE sabe fazer da melhor forma, em quantidade e qualidade como censo demográfico realizado a cada dez anos. O governo federal ao retaliar o IBGE promove o maior apagão do país, um retrocesso institucional imperdoável.  

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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