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A confiança fortalece os relacionamentos ...

Miguel Debiasi

O fortalecimento da relação entre pessoas acontece pela mútua confiança. O desenvolvimento de um plano econômico acontece na confiança entre o governo e a sociedade civil. A política econômica só atinge a credibilidade quando tem a confiança do povo. Toda confiança é uma verdadeira pedagogia, construída em conjunto e em prol do outro.

A cada pesquisa, seja a respeito do consumidor em relação ao mercado, dos cidadãos com a credibilidade nas instituições, do leitor nas pessoas públicas, dos investidores com a economia, o resultado não difere muito, os baixos níveis de confiança. A palavra confiança na sua origem do latim confidere, que significa “acreditar plenamente, com firmeza”. O sufixo fidere, significa fé, por isso a palavra confiar é muito usada como sinônimo de fé. No grego bíblico o termo “confiar” significa literalmente “uma segurança forte, confiante e segura”.

Para a filosofia a palavra confiança está, no senso comum, relacionada ao sentimento daquele que confia. Confiança significa fiar-se em algo ou alguém, acreditando que este não lhe falhará. É essa concepção que o pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott utiliza quando estuda a confiança entre a mãe e seu bebê. Para Winnicott a confiança é algo construído a partir da relação estabelecida do bebê com sua mãe e com o ambiente familiar-social que constitui uma unidade.

O estabelecimento de uma confiança aguçada de sensibilidade permite que a mãe se torne capaz de identificar ativamente a necessidade do bebê. Do mesmo modo que é tarefa da mãe estar disposta a atender as necessidades da criança, também é esperado que gradativamente que seu filho passe a não atender tais necessidades respeitando, assim, seu rito de crescimento. Vivendo num ambiente facilitador, proporcionará, gradativamente ao bebê sentimento de confiança que constitui elo com a mãe e com seu próprio desenvolvimento.

Para Winnicott a construção do sentimento de confiança abrange algumas etapas e momentos cruciais para o desenvolvimento da criança, como: a integração do eu; a formação da psique que habita o corpo; e a relação com os objetos de forma objetiva ou a adaptação à realidade compartilhada. O cuidado materno inclui tanto a provisão física quanto a psicológica. Tais cuidados físicos e psicológicos, como de ser sustentado com segurança e ter suas necessidades atendidas, é o que vão garantir ao bebê a confiança necessária para o existir e crescer através do ambiente familiar e social.

Em todo tipo de relações o ambiente é o facilitador, fundamental para a confiabilidade nele depositada. A confiança decorre de um contexto facilitador, que auxilia para entrar em contato com uma realidade objetiva. Com essa descrição percebe-se que numa sociedade civil todos devem convergir numa mesma direção ética: permitir que haja uma interação entre indivíduo e ambiente social, de regularidade, legitimidade e continuidade. A interação do indivíduo deve ocorrer num contexto social de confiança.

Como a mãe busca a provisão ambiental para seu bebê e imprimindo nele a sensação de continuidade e previsibilidade, requisitos fundamentais para a construção da confiança, a sociedade e os governantes devem construir condições éticas para seus cidadãos, transmitindo segurança e ambiente previsíveis, permitindo ações e responsabilidades. Se para a criança vale a confiança em seu ambiente construído pela mãe, a partir de hábitos gerados na interação mãe-bebê. Este modelo, vale para tornar previsível a relação entre governo e cidadãos, governo e empreendedores, governo e nação.

Nesta comparação trazemos presente os níveis de confiança dos empresários brasileiros com relação ao governo federal. O Índice de Confiança Empresarial (ICE), registrou um aumento de 3 pontos em junho, atingindo 94,5 pontos, representando a alta mais expressiva dos últimos anos, conforme reportagem do Valor Econômico. Outro fator positivo para os empresários é que o Brasil teve o maior saldo comercial em julho em toda a história, atingindo US$ 9 bilhões. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) sendo este o maior superávit comercial de todos os tempos no Brasil.

O saldo comercial batendo recordes tem aumentado a confiança dos empresários na política econômica do governo federal. Esta mudança é percebida pela revista britânica The Economist, que destaca que “os investidores estão cada vez mais otimistas com a economia brasileira”. Para a revista britânica esta mudança deve-se ao papel de um ministro da Fazenda “eficiente”, Fernando Haddad, que aproveita o cenário internacional como fatores positivos para contribuir com a economia brasileira. Destaca ainda que vários investidores olham para o país como potencial para produzir energia limpa e tornar-se uma potência verde.

Seja qual for a referência, é possível dizer que a confiança se trata, na verdade, de um processo que se constrói em conjunto num ambiente seguro, de rotina e de hábitos previsíveis e contínuos. Para todo tipo de relação a potencialidade da confiança pode ser traduzida na “perspectiva do cuidado materno”, onde o filho com ajuda da mãe se torna aos poucos, capaz de cuidar de si mesmo num processo cada vez mais confiável, de absoluto crescimento psíquico e social seguro.

Numa análise próxima ao Winnicott, o filósofo alemão Martin Heidegger emprega a palavra confiança no sentido do termo habitar a realidade compartilhada, ou de construir um processo de integração no ambiente social rumo à independência. Neste sentido, a confiança proporciona a pessoa edificação de morada no mundo, em que a realidade é objetiva e compartilhada com os outros de forma segura e previsível.

À luz do que foi refletido, podemos dizer que a confiança possibilita todo ser humano entrar em contato com as realidades e tornar-se um sujeito com os outros. O sentimento de confiança pessoal e coletivo, garante permanência, estabilidade e continuidade, possibilitando as condições de habitar o mundo e tornar-se parte deste sem misturar-se com o mesmo. Para todos e para tudo a confiança é um sólido e fecundo solo para toda e qualquer relação humana e investimento social, econômico, cultural. No Brasil é previsível a sensação de confiança e de sua continuidade.

 

 

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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