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Vestido para irmanar

Vanildo Luiz Zugno

 

Existe roupa para tudo. Roupa para casar, para trabalhar, para jogar futebol, para dormir, para descansar... Sim! Ninguém descansa de terno e gravata ou de macacão. Para relaxar, bermuda, camiseta e chinelo é o ideal. Ou alguém já foi para a praia de roupa camuflada e bota de borracha? Só quem trabalha na limpeza da orla faz isso. Mas aí já não está descansando. Está trabalhando e com a roupa adequada para a tarefa que está desempenhando.

E para irmanar, para ser irmão, existe roupa adequada? Pergunta estranha. Mas ela tem sentido. Francisco de Assis, o irmão universal, nos mostra que sim. E num episódio muito conhecido de sua vida. A cena foi imortalizada no cinema pela obra “Irmão Sol, Irmã Lua”, de Franco Zefirelli. Francisco, diante do bispo de Assis, do pai e da mãe e de toda a cidade, despe-se das roupas e, completamente nu, proclama que, daquele dia em diante, não mais chamará de pai a Pedro Bernardone, mas seu único pai, será o Pai que está nos céus.

O detalhe, registrado pelos biógrafos do santo e que aparece no filme de Zefirelli, é que as roupas que Francisco despiu, eram coloridas. Tomás de Celano, o biógrafo oficial, é mais preciso no detalhe simbólico da cor. Segundo ele, no tempo em que morava e trabalhava com o pai, levando vida de burguês, Francisco usava roupas de cor escarlate.

Na sociedade medieval, a cor da roupa identificava o grupo social ao qual a pessoa pertencia. O vermelho ou escarlate, era a cor reservada à nobreza. Apenas os príncipes, entre eles os bispos, tinham condição e permissão para vestir-se com tal cor. Francisco era de família burguesa. E, para estes, a cor apropriada era o verde. Apenas na medida em que seu poder econômico e social avançava, aos burgueses era tolerado o uso das cores antes reservadas à nobreza. Esse era o caso de Francisco. Para os pobres, não havia coloração de roupa. As roupas que usavam tinham a cor da fibra natural, geralmente o terroso ou bege.

São Boaventura, na Legenda Maior, descreve Francisco abandonando as vestes finas e sendo revestido por um manto pobre que pertencia a um dos camponeses a serviço do bispo. Deixando o lugar de nobre, Francisco passa a viver como um camponês pobre. É a partir dessa nova posição social, mostrada simbolicamente pelas vestes que passa a usar, que Francisco encontra a possibilidade de tornar-se irmão de todos.

Para irmanar, para sentir-se e ser irmão de cada um e cada uma, é preciso colocar-se dentro do sapato do outro, dentro da roupa do outro, no lugar social e existencial em que ele habita. E perguntar-se: e se eu estivesse no seu lugar, como eu veria o mundo?

E assim, com os novos olhos capazes de ver novas roupas e perceber outras cores, poderemos viver a fraternidade universal e rezar “Pai nosso que está nos céus”.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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