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Ter fé e ser na fé

Miguel Debiasi

“A esperança é a última que morre” diz o provérbio popular. O Evangelho convida ao cristãos a viverem na esperança ativa da realização do Reino de Deus na terra. As referências de Jesus sobre o Reino de Deus são muitas no Evangelho. A parábola dos talentos em Mateus 25,14-30, explica a presença do Reino de Deus que exige ousadia e responsabilidade dos cristãos com a realidade humana. O Reino de Deus tornar-se realidade pela fé com suas obras. A fé, palavra tão pequena e de um imensurável significado, quando é acompanhada das obras.   

 

“Padre não tenho fé. Perdi a fé”. Qual o sacerdote que não ouviu essa queixa de um fiel? Essas manifestações são uma constante entre os crentes. Por outro lado, esta não é uma situação desesperadora, mas sinal de uma realidade subjetiva com sua necessidade de maior crença que se materialize enquanto experiência visível aos olhos do crente. Paulo, apóstolo diz que “caminhamos pela fé e não pela visão” (2Coríntios 5,7). A fé cresce da vivência subjetiva do crente no seguimento ao Senhor. A fé não é uma barra de ouro que se pode manter num cofre. Mas é um dom recebido de Deus e a ser valorizado pelo crente. Quando valorizada, a fé, frutifica em nova vida e em boas obras. Oposto da preguiça, do desânimo, a fé é dinâmica, atuação, seguimento diário ao Senhor.

 

Para entendermos a dinâmica da fé, recorremos a parábola dos talentos do Evangelho de Mateus, do homem que viaja para o estrangeiro e entrega aos seus servos talentos. Em Mateus os talentos não são as capacidades humanas, mas é o dom da fé. O homem que viaja é o Cristo ressuscitado e os servos são os discípulos que foram enviados pelo mundo e os cristãos que receberam a fé. Os servos todos receberam os talentos, a fé em Cristo ressuscitado e cada qual recebeu uma quantia diferente: "A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro" (Mt 25,15). Logo, não há discriminação como Mateus diz: "a cada qual de acordo com a própria capacidade" (Mt 25,15). Por um lado, há um risco da parte de Jesus de perder o que é confiado aos seus servos se não aceitarem o dom de crer, da fé. Por outro, ao acreditar Nele, frutifica o dom da fé cada vez mais em maior número de pessoas e amplia os sinais do Reino de Deus na terra.

 

É da esperança de Deus que nenhum servo enterre os talentos recebidos por medo do mundo e das situações adversas ao Reino de Deus. O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “os talentos são como a fé. A fé não desgasta quando é usada. A fé morre quando é enterrada, quando é escondida na terra, se a quisermos guardá-la para nós mesmos. Não se pode ter fé como se tem dinheiro. Pois a fé não é ter, é ser. A fé é viver. Esta não é uma segurança, é um risco que Pascal chamava de aposta. A fé é um investimento de alto risco”. Com efeito, Deus é impotente diante do servo que se recusa a fazer frutificar o talento da fé: "Fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence" (Mt 25, 25). Para este servo que se recusa a viver o dom da fé pensa que o talento pertence ao Senhor, por isso não se compromete com o Reino de Deus. O teólogo francês Patrick Jacquemont escreveu: "Diga-me que rosto você dá a Deus e lhe digo o que você é capaz de receber dele”. A imagem que se faz dele tem consequências, pode-se viver a fé com criatividade ou enterrá-la.

 

Quanto maior é a fé num Deus generoso, mais intensa é atuação do crente com obras do Reino de Deus. Por outro lado, ao duvidar do amor de Deus o crente torna-se incapaz de amar-se a si mesmo e as obras do Reino. Deus dá muito a todos, quando Ele for acolhido por uma fé verdadeira. A parábola dos talentos de Mateus indica o juízo final da humanidade, que pode ser melhor entendido na explicação do francês Éric Julien: "O Senhor na parábola, Deus, não condena quem está errado... porque o seu Amor é mais forte que os nossos erros. No entanto, o seu Amor é impotente diante daqueles que têm medo, que fogem e que enterram seus talentos na terra. Ter medo de Deus é lhe fechar a porta e se desesperar. Ter medo de Deus é morrer aos poucos". Jean Debruynne referindo-se a parábola dos talentos de Mateus, disse: "O que Cristo nos quer fazer entender é que nós não devemos ter medo da nossa fé. A fé ousa o que nunca acreditamos ser possível... Acreditar é ousar". Em suma, para ter fé é preciso ser na fé. Ser em Cristo fortalece-se a fé e se realiza as obras da salvação a humanidade.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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