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Se queres subir, olhe para baixo!

Vanildo Luiz Zugno

 

A crise que estamos vivendo, não é uma crise normal.Mais do que outras que a nossa geração teve que enfrentar, a Covid19 coloca em cheque não apenas a saúde de cada pessoa e o sistema sanitário. Ela põe a economia em frangalhos, provoca crises políticas, tem causas e consequências ambientais, rompe a sociabilidade, fratura afetividades, questiona espiritualidades. É, no sentido mais próprio, uma crise cultural: ela questiona o sentido da existência pessoal e da civilização que, há séculos e a duras penas, estamos construindo.

Por ser radical, a crise provoca reações radicais. Há os que racionalizam, os que deixam emergir os instintos básicos de sobrevivência através da agressão ou da superproteção, os que se aproveitam da situação para lucrar bilhões, e os que, para não enfrentar a gravidade da situação, fingem ignorá-la ou buscam soluções mágicas em terapias sem nenhuma comprovação ou comprovadamente ineficazes. É há os que não aguentam tamanha pressão e, num ato de desesperada esperança, abdicam da própria existência.

Onde encontrar sentido para a vida e esperança para o futuro em meio ao esgarçamento civilizacional provocado pela Covid19?

Há os que se agarram à sua riqueza, ao poder, ao supremacismo social, ao racismo e a outras ideologias que lhes dão a pseudo segurança de que, por fazerem parte de uma elite, não serão atingidos pela crise.

Há os que apostam todos os seus recursos na ciência alimentando a esperança de que em breve teremos remédios, terapias e vacinas que nos livrarão do flagelo. Mas esse “até lá”, a própria ciência o diz, não é para amanhã. E muitos ainda serão os mortos e a destruição antes que tal solução chegue.

E há os que se apegam à religião como solução. Bênçãos, promessas de cura, milagres, orações que garantem saúdea salvação e muita exploração de incautos são uma epidemia tão avassaladora quanto à provocada pelo coronavírus. E da qual as religiões, todas elas, num futuro próximo, sofrerão as consequências.

Acreditar em algo é importante. A ciência é importante. A religião é importante. Neste tempo de crise sanitária, em que o Brasil padece a dor de mais de 100 mil mortos e mais de três milhões de infectados, é crucial lembrar que, para o cristão, não há salvação da alma sem salvação do corpo. Uma exige a outra. Só há ressurreição para aquele que experimentou a salvação na própria carne e na carne dos outros. O ressuscitado com as mãos, os pés e o lado marcado pelos cravos da paixão, é imagem eloquente de que a salvação passa pela encarnação.

Maria, que foi subida ao céu em corpo e alma, também o anunciou: o Deus verdadeiro olha para a humildade de sua serva para elevá-la à mais alta dignidade. Ele derruba do trono os poderosos e exalta os humildes. Sacia os famintos e despede os ricos sem nada. O caminho do céu passa pelo mais sofrido da humanidade. Não há outro caminho. Se queremos, a exemplo do Filho de Deus e de Maria, ir para o alto, precisamos olhar para baixo, para os que sofrem e, tomando-os pela mão, iniciar o caminho da redenção. Da salvação deles, e da nossa salvação.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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