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Reinvente os sentidos (II)

Miguel Debiasi

Ao continuar a reflexão iniciada no artigo anterior, sobre a necessidade de pensar novos paradigmas capazes de superar as crises de sentidos, é interessante questionarmos a visão mecanicista da vida. Nisto, o desafio é defender os pilares essenciais da vida humana, como a experiência do afeto, o sentimento do amor e a imprescindível relação fraterna com as pessoas. É verdade que em tudo isto precisamos da razão, mas o sentido da vida humana não se reduz à compreensão puramente racionalista.

Na cultura moderna, a pessoa como ser racional com livre-arbítrio busca sempre questionar e dar sentido a tudo o que faz e que a envolve. Pensar sobre as coisas torna a vida humana imprescindível de sentidos. Portanto, de paradigmas mais que científicos. O termo paradigma expressa algo como modelo. Isto é, a representação de um padrão a ser vivido. No sentido filosófico, o termo paradigma é a matriz onde o modelo se origina. Quanto mais uma ideia e uma prática são assumidas por uma sociedade, mais podem transformar um conjunto de procedimentos dos indivíduos, o que resulta num novo agir neste mundo.

Neste caso, na sociedade atual as pessoas agem em consonância com seu livre-arbítrio. Ao pensar e relacionar-se assim, a pessoa sendo a razão última em si mesma, nem sequer questiona se existe algo mais profundo e significante ao sentido da existência. Em reverência a esta escolha e posição, as pessoas entendem que o presente acontece e o futuro floresce simplesmente naquilo que a capacidade racional lhe permite criar e experimentar. Nesta máxima racional, o homem guarda esperança em si mesmo e confia naquilo de que é capaz.

Quanto mais a pessoa justifica viver para si mesma, lutará para aprovar seu mundo, seu horizonte traçado pela própria razão. Em resposta ao sentido da vida, a humanidade age por uma necessidade intrínseca, assim como as rosas florescem. Porém, as rosas não se perguntam por que florescem, simplesmente o fazem. O homem, por sua vez, precisa perguntar-se sobre sua humanidade para que venha a tornar-se realmente humano. Por esse motivo, sofre com toda a desumanidade por acreditar em termos puramente humanos, sem transcender a fronteira da razão.

O homem conduzido apenas pela razão afiança que o sagrado parece ter desaparecido. Consagra pessoas e vive sem a experiência de Deus. A fé foi imobilizada. Sim, é possível viver centrado somente na condição humana. As recentes crises de toda a natureza demonstram que o paradigma racional antropocêntrico é incapaz de dar todas as respostas para existência humana. A modernidade pôs o homem em condições de escolher seus modelos. Contudo, na situação humana atual, dependendo do paradigma escolhido, pode ser averiguada a limitação do próprio livre-arbítrio humano.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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