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Milhões de brasileiros sem emprego

Miguel Debiasi

A terra é lugar para alguns poucos viverem faustosamente e saciados. Em contrapartida, para muitos é lugar de sofrimento e penúria. Para enfrentar esta desigualdade, o sapiencial seria combater as causas que submetem milhões de seres humanos a privações básicas. Eis uma situação a demandar reflexão.

A taxa de desemprego subiu para 12,4% conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 29 de março. São 13 milhões de pessoas à procura de vaga no mercado de trabalho. À luz dos textos bíblicos, vamos refletir a respeito do valor do trabalho para Deus. Tiago, apóstolo, em sua carta, aponta que Deus deseja para todos seus filhos e filhas: “lembrai-vos de que o salário, do qual privastes os trabalhadores que ceifaram os vossos campos, clama, e os gritos dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos” (Tiago 5,4). O texto continua: “vivestes faustosamente na terra e vos regalastes; vós vos saciastes no dia da matança. Condenastes o justo e o pusestes à morte: ele não vos resiste” (Tiago 5,5). Para Deus o empobrecimento e a violência com que os poderosos e ricos tramam ao justo e fraco é abominável.

Na visão do apóstolo Paulo “o operário é digno do seu salário” (1 Timóteo 5,18). Há uma dupla honra na afirmação de Paulo, trabalhar e receber o fruto deste trabalho. Jesus, em debate com os judeus, diz: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (João 5,17). Em outros termos, Jesus está dizendo que trabalha para realizar a obra do Deus Criador. Seu trabalho jamais cessa: libertar e curar os cegos, coxos, paralíticos e doentes, a exemplo do aleijado que esperou trinta e oito anos pela ajuda do sistema (João 5,3-9). No esquecimento do pobre, Deus Pai e Jesus trabalham para a vida em abundância dos seres humanos (João 10,10).

É isso que explicam as Sagradas Escrituras sobre o sentido do trabalho. Não está somente no benefício do trabalhador, mas também dos outros (Êxodo 23,10-11). O trabalho passa a ser dom de Deus para o seu povo e será abençoado (Salmo 127,1-5). Ademais, o trabalho se equipara a um sistema social de bem-estar coletivo (Levítico19,10; 23,22). Por ser o trabalho a representação do sistema social de bem-estar coletivo, os textos sagrados condenam a sua ausência (Provérbios 18,9). Nessa perspectiva, Paulo, apóstolo, alerta que “se alguém não cuida dos seus, e sobretudo dos de sua própria casa, renegou a fé e é pior do que um incrédulo” (1Timóteo 5,8). Em suma, o cristão é convidado a seguir a atitude e o ensinamento de Jesus: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (João 4,34).

Contudo, para muitos cristãos a vida real se separa entre o material e o espiritual, o religioso e o secular. Nessa visão o trabalho é apenas uma atividade profissional e sem implicações com a fé e com a ética. Na falta de unidade entre o material e o religioso, criou-se a ideia e a prática de que se pode trapacear, corromper, tirar vantagens indevidas e apropriar-se de frutos alheios. Esta concepção aproxima-se da compreensão grega a respeito do trabalho como algo ruim, e por isso era atividade dos escravos. Trabalhar não produz nobreza. Por isso, os homens livres têm escravo para o trabalho. Para o poeta grego Hesíodo (750-650 a.C.), o trabalho começou com Erís, a deusa da discórdia, e o labor veia da caixa de Pandora, como um castigo de Zeus. O orador e escritor grego Cícero (63 a.C.) considerava o trabalho sem valor e sórdido.

Infelizmente, hoje os postos de trabalho vêm diminuindo. Se por um lado o trabalho oferece dignidade, identidade e significado à vida e às relações sociais, como deseja Deus, por outro lado o desemprego ou falta de trabalho fere a vida humana. Sem o trabalho não há direção na vida, muito menos o significado de um sistema social. Os dados divulgados pelo IBGE em março alertam ao governo na condução da economia e do país. Ainda que o presidente Jair Bolsonaro acuse o IBGE: “Parecem índices que são feitos para enganar a população”. Lamenta-se, o presidente que com suas políticas tem aumentado o desemprego, o sofrimento ao povo. No entanto, ao desprezar os números do IBGE a jornalista Miriam Leitão diz “o presidente atinge a inteligência alheia”.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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