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Discernimento vocacional

Miguel Debiasi

            No dia 13 de janeiro deste ano o papa Francisco convocou os bispos para um sínodo sobre as vocações, a ser realizado em outubro de 2018. A redução do número de candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa consagrada impacta diretamente no apostolado e no futuro da Igreja. Com efeito, a preparação do sínodo é uma tarefa não restrita aos bispos sinodais, mas aos sacerdotes, famílias e comunidades cristãs. Em razão da problemática, a questão merece a realização de um sínodo extraordinário.

 

            Normalmente compreende-se a diferença entre profissão e vocação. Sem dúvida, uma das características da sociedade capitalista ocidental é a sua organização legal do trabalho e de prestação de serviço. Esta entende como profissão uma atividade ou uma ocupação exercida por um profissional. Nela as profissões são inúmeras e muitas requerem longo processo de qualificação, enquanto outras são executadas mais por capacidades e habilidades. Com base num programa padrão de qualificação, para exercer a profissão de advogado, médico, arquiteto, engenheiro, professor e outras é exigido um tempo mínimo de estudos. Com maior flexibilidade, para exercer a profissão de servente, pedreiro, pintor, faxineiro e outras, normalmente é aceita certa prática sem a apresentação de diplomação. Contudo, seja qual for a profissão, estão relacionadas como uma ocupação com atividade de produção.

 

            No que diz respeito à vocação, não está relacionada à produção de coisas materiais ou a um trabalho, uma ocupação. A origem da palavra vocação deriva do verbo latino vocare, que significa chamar. Na compreensão cristã vocação é um chamado de Deus para fazer alguma coisa em prol do outro. Neste sentido cristão a vocação está relacionada à alteridade. Isto é, voltada para o outro, para a comunidade como uma doação por amor e fé em Cristo. No século III antes de Cristo um dos maiores filósofos gregos, Aristóteles (384 – 322 a.C.), disse: "O homem é um ser social”. Melhor dizendo, por natureza o ser humano é um ser relacional, chamado a viver em comunidade.

            A distinção é clara entre vocação e profissão. A profissão é uma atividade que um profissional executa na sociedade. A vocação é o que a pessoa vive para servir à comunidade. Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) foi um brilhante advogado, político, escritor, filósofo, o maior orador romano. Já idoso, disse: “Vivi de tal forma que sinto ter nascido em vão”. No lamento de Cícero entende-se que a pessoa nasce vocacionada, mas a realização nesse aspecto depende exclusivamente da sua resposta. À vista disto, a antropologia cristã afirma que a realização e a felicidade da pessoa dependem de um bom discernimento vocacional.

 

            Na compreensão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) vive-se numa “sociedade líquida”. Ou por outra, não há mais utopias e projetos duráveis. A sociedade pós-moderna não apresenta nenhum projeto duradouro. Vive-se de momentos e de valores mutáveis, definidos por Bauman como líquidos ou fluidos.

 

            Ciente da mudança cultural da sociedade, o papa Francisco entende que ela ofusca a compreensão do sentido da vocação cristã. Por conseguinte, propõe para 2018 um sínodo sobre as vocações com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Com essa iniciativa, e pensando na missão e no futuro da Igreja, o papa coloca os jovens no centro da reflexão teologal e eclesial. No encerramento da XXVIII Jornada Mundial da Juventude na cidade de Cracóvia, em 26 de julho de 2016, perguntaram aos jovens: “As coisas podem mudar?”. Sim! - responderam os jovens. Logo, para o pontífice o sínodo é oportunidade de reviravolta na reflexão e na ação da Igreja, como a construção de uma cultura vocacional.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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