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Comunidade: espaço de segurança social

Miguel Debiasi

 

O artigo anterior, intitulado Comunidade: paraíso perdido abriu reflexão acerca da realidade de violência presente em todo o país. Alguns números referentes ao crescimento da violência foram apresentados para não deixar dúvida do grave problema nacional. Desde o chamado “descobrimento” do Brasil, o território brasileiro foi coberto de sangue, violência, guerras, conquistas, tratados políticos de interesse dos poderosos, das elites. No entanto, as pessoas e cidadãos vitimados clamam por solução: segurança social.

Certamente, há um preço a ser pago pela forma errônea da conquista do território nacional. Em muitas páginas registra-se o derramamento de sangue de nativos, indígenas, escravos, pobres, peões, operários, mulheres e crianças. A justiça às classes vitimadas só acontece mediante o quesito partilha social dos bens, dos direitos e da distribuição de oportunidades iguais a todos. Bem como, pela superação das desigualdades sociais, pelo fim dos injustos privilégios como auxílios-moradia, vestuário, alimentação e viagens a juízes, políticos e outros. O contrassenso entre privilegiados e empobrecidos é sinônimo de abandono da justiça, ética social e responsabilidade na redistribuição de renda no país.

Ao continuar a política de beneficiar ricos e poderosos o governo incrementa o arsenal da insegurança e violência social. Com isso, torna-se o principal promotor de insegurança e violência social. Igualmente, facilitar venda das armas é a projeção de medos sociais. O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman diz que uma humanidade segura nasce da inserção de seus cidadãos na comunidade como espaço de proteção às liberdades equilibradas. A proteção à integridade corporal e ética do cidadão só pode vir da comunidade, do viver o comunitário.

Hoje, governos optam por solucionar a tensão e a insegurança social armando a população, colocando o exército na repressão da população, liberando o uso de práticas violentas nas corporações militares. Historicamente, estas medidas não solucionaram o problema de assaltos, roubos, estupros, homicídios, etc. Nenhuma medida que venha da força, das armas, da repressão social tem condições de solucionar as tensões e conflitos sociais. Em contrapartida, há cidadãos que venceram seus temores pela educação, formação e trabalho sem jamais apontarem um dedo em riste aos outros.

Na sociedade capitalista o que importa por excelência é o dinheiro. As pessoas são valorizadas pelo que possuem e compram. Sem uma boa quantia de dinheiro não existe cidadão. A identidade do cidadão é medida pela estética do ter, do poder. A sociedade capitalista substituiu o espírito de comunidade pela prática da individualidade. Contudo, sem a comunidade o ambiente social perde sua estabilidade humana. Na ausência do ser comunidade não há futuro estável para nenhum cidadão do mundo.

A segurança social e a liberdade são valores preciosos a qualquer nação, povo e indivíduo. Somente o bem comum do bem-estar coletivo pode gerar compromisso ético entre os cidadãos. Sem este valor coletivo supremo corre-se o risco de viver numa sociedade sectária a preferir a comunidade que estimula o encontro e reconhecimento do estado de segurança social. Logo, se sociedade capitalista leva à desigualdade social e rompe os elos de irmandade entre os cidadãos, o projeto comunitário procura superar estas patologias ao tutelar a coexistência e uma vida compartilhada. O empecilho para ter uma humanidade em comum é o sistema do capital que ergue muros e ataca a comunidade como espaço de segurança social.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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