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Ano da oração, o ano preparatório

Miguel Debiasi

A oração cristã conduz o ser humano para três direções: para Deus, para o próximo e para dentro de si mesmo. Jesus Cristo vivenciou com muita intensidade a oração, a ponto de transfigurar-se e revelar-se na profunda intimidade com Deus Pai aos seus discípulos (Marcos 9,2-10). O exercício da oração é da natureza de Deus e o ser humano não pode prescindir dessa experiência, tão libertadora e renovadora de esperança.

Visando a celebração do Jubileu de sessenta anos do Vaticano II em 2025, o Papa Francisco em janeiro declarou aberto o Ano da Oração (2024), afirmando: “Começamos o ano de oração, ano dedicado a descobrir o grande valor e a absoluta necessidade da oração, da oração na vida pessoal, na vida da Igreja, da oração no mundo”.

O Jubileu do Vaticano II em 2025 coincide com os 1700 anos do Concílio de Niceia (325 d. C.), que afirmou a natureza divina de Jesus e sua relação filial com Deus Pai, elaborou parte do Credo Niceno e fixou a data da celebração da Páscoa. O Jubileu terá um caráter ecumênico e numa das rotas de peregrinação propostas, o Iter europaeum, é a visitação das 28 Igrejas que se referem a 27 países europeus e à União Europeia, com alguns templos de outras comunidades cristãs. A expectativa do Papa é da presença de 32 milhões de peregrinos em Roma para o Jubileu 2025.

O ano santo de 2025 vai ser o 27º Jubileu ordinário da Igreja. Na história da Igreja o Papa Bonifácio VIII em 1300 com a bula Antiquorum fide relatio, institui o primeiro ano santo no modelo bíblico, cinquentenário (Levítico 25) e posteriormente foram fixados de 25 em 25 anos.

Até o presente momento foram 26 Anos Santos Ordinários na história da Igreja. O último ordinário foi Jubileu de 2000, pela chegada do terceiro milênio da era cristã. Quanto aos Jubileus extraordinários, o penúltimo foi o de 1983, instituído por João Paulo II pelos 1950 anos da Redenção. O último Jubileu foi o ano santo extraordinário dedicado à Misericórdia, de 29 de novembro de 2015 a 20 de novembro de 2016, convocado pelo Papa Francisco com a Bula Misericordiae Vultus, a Face da Misericórdia.

A celebração dos jubileus na História da Salvação começou com os hebreus. Para os hebreus o Jubileu era um ano declarado santo que acontecia a cada 50 anos, no qual, o povo parava e fazia a partilha dos bens materiais, a reforma agrária e social tudo para restituir a igualdade a todos os filhos de Israel (Êxodo 23,10-11; Levítico 25). Um Jubileu ordinário ou extraordinário pode ser realizado em ocasião de um acontecimento de particular importância a Igreja ou a humanidade. Com o tema Peregrinos da Esperança, o Jubileu de 2025 convida a Igreja a nutrir a Esperança nas decisões do Vaticano II.

O ano de oração (2024) em preparação ao Jubileu do Vaticano II vem em boa hora. Em tempo que pouco se lê e se reflete os documentos do concílio. Em tempo que a geração sacerdotal pós-concilio da hipervalorização aos ritos litúrgicos sem o profetismo da palavra do Evangelho. Tempo em que a Igreja fortalece o clericalismo e o centralismo institucional reduzindo o protagonismo do povo de Deus. Tempo em que significativo número dos líderes da Igreja abdicou da missão restringindo-se às questões espirituais e de sacristia. Tempo em que a Igreja perde adeptos e o número dos indiferentes cresce, dado a rigidez das normas, da cobrança moralista, do discurso teológico vazio e pela inércia pastoral.

A Esperança de uma Igreja renovada e capaz de responder aos desafios do Evangelho é o que aponta o Papa Francisco em sua carta ao escolher o tema do Jubileu: “Devemos manter acesa a chama da Esperança que nos foi dada, e fazer de tudo para que cada um reconquiste a força e a certeza de olhar para o futuro com coração aberto e confiante”. O Evangelho se incultura em novos tempos e culturas através de novas motivações de vida cristã e pelas novas práxis de evangelização.

Ao rezar se medita, compreende e se compromete de forma profética com o projeto de Deus. Esta é a experiência de oração dos importantes personagens bíblicos como os patriarcas Abraão, Isaac, Jacó (Gênesis 18; 22-33; 20,17; 25,21; 32,9-12). Moisés frequentemente orava a Deus (Êxodo 32,31-32; Números 14,13-19). Seu sucessor Josué tinha consciência da eficácia da oração (Josué 10,12-15). Os profetas Elias (1Reis 18,36-38), Habacuc (2), Jó (Jó 1,20-21), todos recorriam a oração dada a exigência do profetismo do Senhor.

O povo de Israel no exílio e no pós-exílio em oração buscava novamente restabelecer-se com Deus e com sua obra (Esdras 9,5-15; Neemias 1,5-11; 9,10; Daniel 9,3-19). No Novo Testamento temos Jesus Cristo uma vida de oração que por ela obteve as forças e a fidelidade para cumprir a missão recebida do Pai (Lucas 6,12; 9,18; 21,37; 22,40-44). O próprio Jesus ensina os seus discípulos e aos seguidores a rezarem ao Deus Pai (Mateus 6,9-13).

O Jubileu representa um ano santo que poderá contribuir em muito com a Esperança de sermos uma Igreja do Vaticano II, comprometida com o pobre, profética frente às injustiças sociais, libertadora de pessoas e de povos, transformadora de culturas e da sociedade contemporânea. Para que essa esperança se torne realidade, reze intensamente como você sabe rezar, esta é sua melhor contribuição em preparação ao Jubileu do Vaticano II. Em oração estará ajudando a renovar a Igreja, cristãos e a humanidade.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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