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A missão de Deus na cidade

Miguel Debiasi

Para refletir a respeito da missão de Deus na cidade recorre-se aos textos bíblicos: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados, quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha recolhe seus pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! Eis que vossa casa ficará abandonada. Sim, eu vos digo, não me vereis até o dia em que direis: Bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Lucas 13, 34-35). À rejeição de Jesus pelas autoridades da cidade de Jerusalém, pergunta-se: De que modo ver a cidade como o lugar da missão de Deus? Deveras há muito que versar sobre a vida urbana.

A análise de Jesus sobre a cidade pode ser considerada o ponto de partida de um trabalho pastoral da Igreja em sociedade moderna, de vida urbana. Para o teólogo luterano Arzemiro Hoffmann, “o futuro da Igreja, no Brasil, desenha-se pela atitude que ela toma diante da urbanização”. Sem dúvida alguma, a sociedade brasileira torna-se cada vez mais urbanizada e toca à Igreja pensar formas de evangelizar na cidade. Embora a cidade seja uma construção humana, na Bíblia ela representa o lugar da revelação de Deus. A cidade é lugar onde reside o Povo de Deus, por isso, é o palco onde se desenrola toda a história da salvação. O lugar de realizar a justiça de Deus, seu Reino e seu juízo final sobre a caminhada do seu povo.

O Povo de Deus da Antiga Aliança ou os israelitas subiam à cidade de Jerusalém três vezes ao ano para celebrações importantes. As festas da Páscoa do Senhor, teu Deus, porque Ele te tirou do Egito, de noite. Depois, para a celebração da festa das Semanas do Senhor, teu Deus; o que deres será tributo voluntário da tua mão, segundo o Senhor, teu Deus, te tiver abençoado. E a festa dos Tabernáculos, na qual guardarás sete dias, quando colheres da tua eira e do teu lagar (segundo Deuteronômio 16,1.10.13). Conforme a Bíblia, Jerusalém era a cidade para onde o Povo de Deus se dirigia a fim de adorar a Deus no seu templo. Em razão desta compreensão teológica, Jerusalém representava a busca pela presença de Deus, significado de suma importância para a caminhada do Povo de Deus.

A cidade pode ser observada sob várias óticas, sendo para a Igreja lugar da missão de Deus. Desde o chamado de Abraão, Deus age e revela-se na cidade do homem (Gênesis 11,31-19,9). Com Moisés convocado para libertar seu povo da cidade do Egito não foi diferente (Êxodo 3). Também foi assim com os profetas convocados a irem à cidade anunciar a aliança de Deus com o seu povo, como por exemplo Elias (1Reis 18). Jesus mesmo sai do deserto e vai à cidade de Cafarnaum para iniciar sua missão pública (Mateus 4,12-17). Pedro, o escolhido por Jesus para ser o chefe da Igreja e dos apóstolos, prega em Jerusalém (Atos dos Apóstolos 11). A vocação de Paulo, apóstolo, nasce em contexto urbano (Atos dos Apóstolos 9). Suas viagens missionárias foram justamente para pregar na cidade e criar a Igreja urbana. Assim, do livro do Gênesis ao Apocalipse a cidade está no centro da ação de Deus.

No Brasil, aproximadamente 80% da população vive na cidade. Os patriarcas e matriarcas do Povo de Deus encontraram na cidade a pedagogia de manter viva a esperança na promessa do Senhor. A Igreja primitiva nasceu no mundo urbano. O cristianismo se espalhou pelo mundo através de sua ação no meio urbano. Hoje, a Igreja precisa encontrar não um jeito, mas talvez múltiplas formas de evangelizar a cidade. Apesar do contexto complexo da cidade, o ser humano que ali reside quer ouvir a voz de Deus e servir-se dela como caminho, verdade e vida.

Por desafiador que seja à Igreja criar uma pastoral urbana, também será preciso insurgir-se contra os mecanismos de opressão do sistema sobre a cidade. Para constituir um plano de ação pastoral urbana eficiente, basta recordar dos feitos do Senhor como a libertação do seu povo da dura escravidão do Egito onde foram obrigados a “construírem para o Faraó as cidades armazéns de Pitom e Ramsés” (Êxodo 1.11). Ou até mesmo diante das cidades grandes e fortificadas e com muros até o céu (Deuteronômio 1,28; 9,11), será preciso apostar em espaços urbanos. Pois a comunidade eleita ou seu povo escolhido hoje vive na cidade, lugar onde o dom de Deus se realiza (Apocalipse 21).

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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