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A memória do passado

Miguel Debiasi

Geralmente ao terminar o ano faz-se a retrospectiva do que passou e com isso projeta-se esperança para o futuro. As pessoas fazem a relação entre o passado, presente e futuro. Certamente, os fatos produzem suas consequências para os dias futuros. Acreditam que fazendo uma leitura do passado oferecem-se condições de melhorar o futuro. Na esperança que isso seja verdadeiro, na voz da memória reporto-me aos acontecimentos do ano que termina.

O revolucionário socialista argentino Ernesto Rafael Guevara de La Serna (1928-1967), mais conhecido como Che Guevara, pronunciou a célebre frase: “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Embora haja quem diga que a frase é de Edmundo Burke (1729-1797), político, filósofo e orador irlandês, deste pensamento não se pode escapar: é preciso ter na memória os acontecidos. Em tese, não há possibilidades de mudar o presente e o futuro do Brasil sem conhecimento dos projetos que foram aprovados e executados nos últimos anos. Isso leva a considerar como última e decisiva condição para mudança a consciência dos fatos acontecidos.

Sendo assim, com base nas informações dos órgãos e instituições públicas do Brasil apresenta-se ocorridos do ano que se encerra. Segundo estudo da Transparência Internacional o Brasil caiu 17 posições e atingiu a pior colocação no último ano na classificação de combate à corrupção. Na análise de Bruno Brandão, da Transparência Internacional, “foi uma das maiores quedas já registradas na história do país, ficando na 96ª posição, atrás de países como Timor Leste (91ª), Burkina Faso (74ª), Arábia Saudita (57ª)”. No quesito crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), entre 43 países o Brasil ficou na 40ª posição. Para a monitora dos resultados dos países com as maiores economias do mundo, Austing Rating, o resultado do Brasil ficou aquém do esperado.

No momento um dos grandes problemas do Brasil é o desemprego. Segundo estudo realizado pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) as únicas vagas de trabalho foram no teto de um salário mínimo, R$ 954,00. A pesquisa PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), ligada ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), constatou a perda de 3 milhões de postos de trabalho com carteira assinada após período da reforma trabalhista. Segundo o economista da Globo, Merval Pereira, a renda per capita no Brasil em 2018 está 9% abaixo do nível de 2014, primeiro ano do segundo mandato de Dilma Roussef. Segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 3.804,06, quatro vezes superior ao que está em vigor, de R$ 954,00.

Conforme dados divulgados em outubro pelo jornal Valor Econômico, no ano de 2018 a Petrobras registrou a perda de R$ 160 bilhões. O valor da companhia em 2013, antes da Lava-Jato, era de R$ 350 bilhões, e atualmente chega a R$ 292,4 bilhões. Com a gestão de Pedro Parente, a estatal pagou o equivalente a R$ 10 bilhões aos investidores americanos e fez o leilão dos poços de pré-sal adquiridos por empresas como Shell, Exxon e Chevron. Com as perdas da companhia houve um aumento de mais de 30% do combustível, gás de cozinha, energia elétrica, etc.

Segundo reportagem de Daiane Costa e Bárbara Nóbrega, publicada no jornal O Globo no final de outubro, o número de jovens entre 15 e 29 anos que não estudam, não trabalham e nem procuram emprego, os chamados "nem-nem-nem", triplicou desde 2014. A agência de categorização do risco Fitch rebaixou a classificação do Brasil a “BB com perspectiva negativa” e chamou a situação fiscal do país de “importante retrocesso”.

Na análise de Miguel do Rosário, no blog Cafezinho: "A corrupção não é mais, nem de longe, o principal problema do país, e tem de ser combatida com moderação, inteligência e bom senso. O principal problema do país hoje é o desemprego, e para combatê-lo, o sistema de justiça como um todo precisa ser enquadrado. Não é apenas a Lava-Jato que tem de acabar, e sim qualquer operação midiático-judicial que não tenha como preocupação central a questão da preservação do emprego".

Como escrevem Marx e Engels em A ideologia alemã: “Nós conhecemos somente a única ciência: a ciência da história”. Logo, é indispensável conhecer os projetos, as reformas que levaram ao sucateamento do Brasil nestes últimos anos. Lamentavelmente, os resultados afetam o futuro

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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