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A pedagogia da celebração da Páscoa

Miguel Debiasi

 

A Páscoa é a celebração central dos cristãos. Para celebrar este mistério central da fé em Cristo, a Igreja convida os cristãos a quarenta dias de preparação, pois a solenidade da Páscoa do Senhor exige um ato de fé enriquecido por uma pedagogia preparatória que leva à maior conversão.

Lendo os evangelhos fica evidente que Jesus conduziu seus discípulos durante três anos para participar da Última Ceia. Conforme os evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), a Última Ceia do Senhor foi celebrada na tarde da quinta-feira, no dia anterior a sua condenação. Ainda pelos textos dos evangelhos Sinóticos é perceptível que Jesus teria constituído novo rito para celebrar a Páscoa, o seu próprio, diferente do recebido da tradição da antiga Páscoa (Êxodo 12, 1ss; 23,14ss). Contudo, independente do rito celebrativo há toda uma preparação para a ceia pascal: “os discípulos aproximaram-se de Jesus dizendo: onde queres que te preparemos para comer a Páscoa”? (Mateus 26,18).

Na preocupação dos discípulos é notório que a preparação do lugar trata-se de um serviço que precedia propriamente a ceia pascal. Este serviço é inquestionável nas palavras de Jesus: “Ide à cidade, à casa de alguém e dizei-lhe: O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa irei celebrar a Páscoa com meus discípulos” (Mateus 26,18). O texto deixa claro o serviço preparatório para a Última Ceia do Senhor: “os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa” (Mateus 26,19). Certamente, os preparativos para a ceia Pascal, bem como o lugar, são decorrentes de algo mais essencial, do seguimento dos discípulos a Jesus. Seguramente, Jesus pede a seus discípulos a preparação do lugar da Ceia por terem feito uma longa caminhada com Ele, percorrendo povos desde a Galileia, e finalmente em Jerusalém.

Os quatro evangelhos e o apóstolo Paulo, na carta aos Coríntios, narram a Última Ceia de Jesus: “enquanto comiam, Jesus tomou o pão e tendo-o abençoado, partiu-o e distribuindo-o aos discípulos, disse: Tomai e comei, isto é o meu corpo” (Mateus 26,26). E depois, tomou o cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: “Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mateus 26,27-28). A narrativa bíblica da Última Ceia do Senhor também descreve sua condenação à morte e a forma violenta a ser executada, pelo derramamento de seu sangue.

Além disso, os textos bíblicos mostram que o anúncio da Boa Notícia do Reino com início na Galileia rumo a Jerusalém desemboca no processo que levou Jesus à cruz. O motivo de sua morte, decretada pelas autoridades romanas, após ter provocado ciúme dos sumos sacerdotes, dos chefes da religião, conforme os escritos bíblicos foi em decorrência de seus ensinamentos ao povo. Ainda que a morte do Cristo tenha sido um conflito motivado pela religião e o poder religioso, pode-se afirmar que o fato é decorrente de seus ensinamentos sobre o Reino de Deus Pai.

A Última Ceia é o cume da caminhada de Jesus, que anunciou e fez a vontade do Pai num sentido profundo pelo qual entrega sua vida: “em verdade, em verdade, vos digo: o Filho, por si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; tudo o que este faz o Filho o faz igualmente” (João 5,19). Pode-se crer que a Última Ceia revela-se como ato de amor pleno de Jesus pela obra de Deus Pai, redentora da humanidade: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23,46).

O gesto de Jesus lavar os pés dos discípulos durante a Última Ceia é a maior prova do amor de Jesus, serve para salvar a humanidade: “Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (João 13,1-15). Em razão deste ensinamento deixado pelo Senhor para celebrar a Páscoa é preciso colocar-se na pedagogia do Reino de Deus, do amor prestado e dado aos irmãos e irmãs. Logo, para celebrar a festa da Páscoa exige-se uma preparação, de instituir em cada pessoa a capacidade de servir ao outro por fé em Cristo. Sem esta caminhada preparatória, diminui-se o sentido da festa da Páscoa.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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