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Segundo Domingo da quaresma

por João Carlos Romanini

Subsídios exegéticos para a liturgia dominical - ano A - 08/03/2020

Foto: Divulgação

 

Segundo Domingo da quaresma

Evangelho: Mt 17,1-9

Primeira Leitura: Gn 12,1-4

Segunda  Leitura: 2 Tm 1,8b-10.

Salmo: Sl 33,4-5. 18-19. 20+22 (R.22)

O lugar do texto dentro da narrativa da comunidade de Mateus

BAIXE O ROTEIRO DA CELEBRAÇÃO

O texto do Evangelho segundo a comunidade de Mateus para este Segundo Domingo da Quaresma está dentro da segunda parte do Evangelho que narra o caminho de Jesus para Jerusalém apresentando a predição da sua paixão. É bom lembrar que esta comunidade é formada por pessoas refugiadas, sobreviventes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Esta comunidade resgata a figura de Jesus chorando por Jerusalém e dizendo: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”( Mt 23,37, replicada em Lc 13.34). Podemos chamar esta parte de “caminho do martírio”. Neste caminho há três anúncios da paixão que estruturam a narrativa: 16,21-13; 17,22-23; 20,17-19. Não cabe dúvida de que há uma identificação entre o sofrimento das comunidades cristãs durante a dura repressão romana contra a revolta judaica, e o caminho que leva para Cruz. O texto imediatamente anterior à perícope para este domingo adverte sobre a perseguição e morte a que estarão expostas as pessoas que seguem Jesus, e a necessidade de resistir dando a vida (16,24-28). Logo após na narrativa cura de um jovem que sofre de epilepsia se exalta o poder da fé como caminho de resistência diante das impossibilidades (20-21). Embora a narrativa da Transfiguração seja comum a todos os Evangelhos Sinóticos (cf. Mc 9,2-8 e Lc 9,28-36), aqui assume o sentido da resistência diante da repressão e a violência.

A perícope em si: questões de delimitação e estrutura

Há dificuldades na delimitação desta perícope, pois alguns comentaristas apresentam 17,1-13 como uma unidade, não subdividindo-a. A questão gira ao redor do versículo 9 que apresenta uma dificuldade particular pois é o nexo entre o que está sendo narrado nos primeiros oito versículos e o é narrado nos seguintes cinco versículos. Uma das características do grego koiné é levar adiante a narrativa usando o vocábulo kai (e, então). Encontramos este recurso no início dos versículos 1,2 e 3, depois reaparece no 5b, 6,7 e 9, 10.

Portanto, os versículos 4 a 5ª, e se tomarmos todo o texto até 13, os versículos 11 a 13, são paradas na narrativa. O versículo 4 começa com a palavra apocriteis geralmente usada com o sentido de “responder” (cf. Mt 3,15;4,4;8,8;11,4.25;12,38.39.48; 13,11.37 e muitos outros); inclusive em relação a respostas dadas por Pedro, como em 14,28;15,15; 16,16 e 19,27. Mas, aqui não temos uma pergunta a ser respondida. Seria esta a única vez em todo o Evangelho que esta palavra é usada no sentido de manifestar uma opinião e não responder uma pergunta? Ou o texto quer indicar que a visão mística da transfiguração era uma questão que exigia uma resposta? Vamos nos aventurar nesta última possibilidade, pois a situação vivida pela comunidade de Mateus, envolvendo perseguição e morte, certamente gerava muitas perguntas que só poderiam ser respondidas de forma correta, como diz o versículo 5b, se ouvida a voz do “Filho Amado”. De certa forma o versículo 8 deixa isso novamente claro quando, ao levantar a vista, encontram que contam apenas com Jesus. A descida do monte – no versículo 9 – como foi a subida, é apenas com Jesus, dando a pista de que as respostas estão na ressurreição. Ao descer, novas questões, e uma nova resposta de Jesus encerrando com mais um aviso da paixão. Isto é não ressurreição sem Cruz.

Pistas de interpretação da Transfiguração na narrativa da comunidade de Mateus

A Transfiguração é uma jornada de subida e descida. Temos diversas pistas do sentido do “monte” (em grego oros) neste Evangelho. O chamado “Sermão do Monte” que se inicia com as bem-aventuranças no capítulo 5, destaca estes lugares como espaços sagrados de encontro e revelação (“Vendo as multidões subiu ao monte”).  Também é lugar de “retiro” de Jesus onde, seguindo a ideia de “novo Moisés” proposta por este Evangelho, recebe as instruções divinas e as repassa para as pessoas que lhe seguem (cf. 8,1 e 17,9). O que há de novo nesta narrativa é que a comunidade das pessoas que seguem Jesus está representada em João, Tiago e Pedro. Estes três discípulos representam a diversidade dentro da comunidade o que permite haver diversas percepções.

Moisés e Elias são figuras centrais na teologia de Jesus. Mas, ambas entendidas a partir da sensibilidade solidária! Há uma instrumentalização de Moisés é o instrumento de uma religiosidade hipócrita (cf. Mt 23.1-3). A presença de Moisés junto a Jesus mostra que o caminho do amor e da justiça, que passa pela Cruz e Ressurreição, é o pleno cumprimento do projeto divino do Êxodo plasmado na “lei”. Elias é ligado diretamente a João Batista (cf. 11,10-14; 17,13). Não é um profetismo abstrato, mas a ação concreta de um profeta mártir. Assim a comunidade pode se identificar com ambos: Moisés na vivência do projeto do Reinado Divino em Jesus, Elias na presença concreta de denúncia e anúncio dos sistemas anti-evangélicos (especialmente na superação da religiosidade opressora) e do projeto do Evangelho (já apresentado por Jesus no Sermão do Monte).

Conexões entre o Evangelho e os outros textos para este Domingo

O texto de Gn 12,1-4 abre a narrativa dos clãs familiares de pastores e pastoras seminômades que segue até o final do livro. Essas são também narrativas de resistência de pessoas que viviam à margem do Sistema de Produção Asiático Escravagista e suas monarquias. Deus acompanha a jornada de resistência e alimenta a esperança da vida com sua bênção, não apenas para uma família, mas para todas. No versículo Gn 12,3 a palavra bênção se repete três vezes, e a palavra usada para terra é a “adamáh”, isto é, a terra cultivável, a terra do povo camponês excluído pelo sistema.

As Cartas a Timóteo, embora não se descarte que contenham trechos escritos por Paulo, são consideradas “deutero-paulinas”, isto é, escritas como continuidade do labor missionário do apóstolo. Paulo, assim como a igreja dos primeiros tempos, sofre perseguição e morte por causa do Evangelho. A manifestação gloriosa de Deus em Cristo é vista na resistência que supera o poder da morte (2 Tm 1,10).

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Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana:

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE FRANCISCNA

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