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Quem ocupa o espaço que a família não ocupa?

Baixar Áudio por Denise Furlanetto

Assunto do Debate na Rádio Garibaldi

Foto: Divulgação

O programa de Debate desta terça-feira (30), abordou para conversa o texto da colunista do Jornal Pioneiro, Candice Soldatelli, que tratou do tema do uso abusivo de celular. O título é “Quem ocupa o espaço que a família não ocupa?”. A colunista relata um caso presenciado por ela de uma menina acompanhada do pai durante um café em um espaço de Caxias do Sul. Enquanto a criança buscava o olhar do pai, uma atenção, o mesmo estava colado no celular. Candice disse que ficou triste vendo aquela situação e questionou quem irá preencher esse vazio das crianças no futuro, se os pais estão negligenciando a educação no presente?

A Assistente Social, Mônica De Antoni Farias, foi a convidada a falar sobre esse tema, juntamente com os debatedores José Carlos Cichelero e Delano Pieta contando com a opinião de internautas. Enquanto antigamente se falava do tempo em frente ao televisor, hoje é o celular. Diante do celular se observa que os pais estão perdendo o controle do tempo usado pelos seus filhos. A internet tem seus fatores positivos de aproximação das pessoas de longe, de pesquisas, mas é preciso dar um limite no seu uso. Atualmente, as crianças e jovens não enxergam vida longe das redes sociais e têm dificuldade de entrosamento, de conversar com alguém e de curtir as belezas que os olhos podem alcançar.

"A criança até uma certa idade está multo maleável para receber as informações e para ser orientada. A primeira infância é inquestionavelmente a mais importante na vida. Eu trabalhei com a dependência química e posso dizer que um jovem não se torna dependente aos 14 ou 15 anos do nada. Ele teve uma infância por trás. Não tenham dúvidas que ter um filho é a maior tarefa que os pais assumem na vida. Não é só bancar a parte material, é encaminhar, orientar e tentar fazer daquela pessoa um ser do bem. Uma psiquiatra de Curitiba escreveu sob a ótica de uma criança, sendo que 83% delas sentem-se trocadas pelo celular. Os pais ficam preocupados com o tempo que o filho passa fora de casa e eles sentem que são trocados pelo celular. Quando os pais largam o celular a criança vibra", diz Mônica De Antoni Farias (entrevista em ouça a notícia).

Coluna

Quem ocupa o espaço que a família não ocupa?

As armadilhas e os perigos nessa fase da vida (a adolescência) são inúmeros, e isso explica muitas tragédias que infelizmente envolvem menores de idade

Dias atrás, eu tomava um cafezinho num espaço modernoso de Caxias do Sul. Sentados à mesa ao lado, havia um pai e uma filhinha – que não deveria ter mais de seis anos – vestida com o uniforme de uma escola bem tradicional da cidade. O pai de rosto colado no celular com aquele ar de enfado; a menininha de olhos curiosos admirava o ambiente em silêncio enquanto tomava um chocolate quente. De vez em quando, ela buscava o olhar do pai, imóvel e absorto sem sequer trocar uma palavra com a guriazinha.

Juro que tentei não julgar aquele pai: talvez estivesse com problemas no trabalho (e que adulto hoje não tem problemas no trabalho?), talvez estivesse tentando resolver alguma questão importante que o impedia de dar atenção à filha. Contudo, foram longos 30 minutos daquele jeito. Não pude deixar de sentir pena da garotinha: o que será que era tão importante naquele telefone que o impedia de reconhecer a presença da menina ali do seu lado esperando uma migalhinha de atenção?

té penso que as crianças tendem a lidar melhor com a negligência de seus progenitores. Contudo, na adolescência, a dor de quem foi totalmente ignorado e a falta de diálogo se transformam numa fonte inesgotável de revolta, de mágoa e de rancor. O espaço que a família deixou vago na vida daquela criança acaba sendo ocupado por outras coisas quando um adolescente começa a se descobrir e a descobrir o mundo. Se esse jovem tiver sorte, o vazio que o pai e a mãe deixaram de preencher com afeto, com reconhecimento, com proteção poderá até ser preenchido com algo positivo. Muitas vezes, uma boa escola, um grupo de escoteiros, organizações como Interact e Leo Clube, grupos de jovens de diferentes religiões, um primeiro emprego numa empresa com bons chefes, um clube esportivo ou academia podem se transformar na família participativa, presente e interessada no bem-estar do adolescente cuja própria família o negligenciou.

Contudo, as armadilhas e os perigos nessa fase da vida são inúmeros, e isso explica muitas tragédias que infelizmente envolvem menores de idade. As redes sociais e o mundo subterrâneo da Internet estão ocupando espaços nas mentes e nos corações de meninos e de meninas no mundo inteiro com coisas horrendas. O caso recente do garoto de 14 anos apreendido com materiais de grupos neonazistas em Maquiné, aqui no nosso Estado, é uma prova de que muitos pais sequer fazem ideia do que ocupa o tempo, o interesse e a atenção de seus filhos. Por mais humildes e ocupados que fossem, como podem não ter ao menos questionado o que ele andava fazendo tanto tempo na internet e com todos aqueles símbolos nazistas e fascistas em seu quarto, além de facas, canivetes e armas de fogo? Como tudo isso passou despercebido por aquela família dentro daquele lar?

Mas aí é que está: provavelmente, lá era só uma residência, não havia família, nem lar.

CANDICE SOLDATELLI

Central de Conteúdo Unidade Tua Rádio Garibaldi

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