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Cultive a generosidade

Miguel Debiasi

Dando continuidade ao artigo anterior, sobre “conhece-te a ti mesmo”, este convida a continuar a reflexão e apontar o potencial de todos em prol de sólidas relações sociais, comunitárias e intersubjetivas. Diga-se, o potencial do ser humano não está na autoridade, no poder, na relação vertical. Este se encontra em outras vertentes e com base em relações horizontais. Em contexto de crescente individualismo, contrapor essa tendência é preciso.

O compositor e músico Alberto Costa (1898 -1987) tem uma música de sua autoria intitulada Fica Sempre que expressa com sabedoria a magnitude de um ato generoso. A primeira estrofe da música canta: “Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas”. O perfume é o produto obtido da mistura de óleos aromáticos, álcool e água. Todo perfume tem sua própria essência. No mundo da vaidade e da estética não há pessoa que não use perfume.

A palavra generosidade deriva do latim generositas que se refere à inclinação para dar e partilhar acima de qualquer interesse ou utilidade. No sentido bíblico a pessoa generosa é aquela que partilha e distribui o que possui aos menos favorecidos. Em linguagem secular a generosidade é virtude, um valor positivo. A generosidade também não está estritamente associada aos bens materiais e ao dinheiro. Toda pessoa pode ser generosa ao dedicar seu tempo ao outro ou às causas humanitárias.

A canção de Alberto Costa nos diz que um ato generoso sempre deixa um perfume. Ou seja, um bom odor, agradável cheiro. Isto é, um ato generoso marca qualquer pessoa que o pratica e quem o recebe. É justamente isto que a segunda estrofe da canção aponta: “Dar do pouco que se tem, ao que tem menos ainda enriquece o doador, faz sua alma ainda mais linda”. Então, a generosidade torna imensuravelmente melhores as pessoas, e, consequentemente, a sociedade e o mundo.

Hoje, diante de um mundo tão competitivo, exigente, e que estimula práticas nada solidárias e humanísticas, um ato de generosidade pode fazer a diferença. Pela generosidade a vida humana torna-se mais bela, cheia de essência. Nesta vida há um pouco daquilo que não se pode comprar, apenas ofertar e distribuir. Mas a pessoa fechada em seus próprios interesses é incapaz de perceber a grandeza de um gesto generoso.

A canção conclui com a terceira estrofe: “Dar ao próximo alegria parece coisa tão singela, aos olhos de Deus, porém, é das artes a mais bela”. Na tentativa de contrapor a violência, insegurança e individualismo, a generosidade revela ser em cada pessoa um potencial em prol da sociedade e de um mundo melhor para todos. A reflexão continua no próximo artigo com o tema do voluntariado.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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