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Deus e os pobres

Miguel Debiasi

As mudanças demográficas ocorridas no século XX colocam no centro do mundo o imigrante, pobre. O pobre é fruto da economia, da política, da tecnologia voltada mais à produção material e menos ao humano. Como consequência, inicia-se o terceiro milênio com crise do sistema econômico, colapso financeiro sem produção e consumo. Por esta razão a problemática do pobre a todos compromete, sobretudo ao sistema.

A pobreza fere a consciência de todos. O pobre, na etimologia latina pauper, significa pouco. É aquele que produz pouco, o insuficiente para viver. Na dimensão social é aquele que está à margem da sociedade. Em dimensão econômica é aquele que não produz e não consome. Na dimensão política, pobre é aquele necessitado de assistência pública. Em dimensão religiosa, o pobre é o preferido do amor de Deus. Aquele pelo qual a revelação divina deposita sua ação preferencial, ainda que não exclusiva. Para os cristãos, é aquele que merece a solidariedade da comunidade.

Para o teólogo belga José Comblin (1923-2011), o tema dos pobres é o “núcleo central do cristianismo”. Porém, nem sempre o pobre foi tema central da reflexão da teologia e da ação da Igreja. No entanto, o pobre esteve na preocupação primeira de Deus, e em Jesus é destinatário do Reino: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20b). Jesus de Nazaré chama de bem-aventurados “os pobres”, para designar os herdeiros do Reino de Deus. A língua grega faz duas classificações da palavra pobre. Uma usada no português significa relativamente pobres, os que precisavam trabalhar arduamente para a sobrevivência. A outra é pénetes, que significa absolutamente pobres, os que se encontram desprovidos de moradia, alimentação, etc.

Em presente contexto, os pobres são todos que não possuem o indispensável para a vida. A situação de pobreza em que vivem milhões de pessoas torna-se escândalo aos olhos de Deus, como afirma José Comblin. O papa Francisco, sensível a esta realidade humana, denuncia a situação de pobreza em meio à “globalização da indiferença”. O enfrentamento à pobreza, segundo o pontífice, é feito “sobretudo pelas pessoas que professam a fé cristã e pelas Igrejas, como a Católica, que está quase totalmente integrada no mundo dominante”. A preocupação com esta realidade humana na opção preferencial pelos pobres se cultiva no seguimento a Jesus, “o amor aos pobres”, como afirma José Comblin.

O papa Francisco desperta a consciência da humanidade do escândalo de uma “cultura do bem-estar, que leva a pensar em nós mesmos” e tornou o ser humano insensível aos gritos do outro, o pobre. A superação da globalização da indiferença vem pelo cultivar o princípio do evangelho de Jesus. O evangelho é o fruto do imenso amor de Jesus pelos pobres. Em suma, cultivar o encontro com Jesus tange ao amor solidário e compassivo com os empobrecidos do tempo que se chama hoje, como escreve José Comblin.

 

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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