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A soberba insulta os humildes

Miguel Debiasi

Historicamente no Brasil, considerou-se normal a divisão de classe social, os privilégios de etnias europeias, a discriminação de gêneros, a submissão das minorias, o extermínio de indígenas, negros, pobres e outros. Ao mesmo tempo, houve toda uma força política de fazer do Estado um mecanismo de controle social, agindo em função da lógica e dos interesses da classe mandatária. A contraposição a este sistema parece não ter muita força sociopolítica e com isso fortalecesse o poderoso beneficiado da situação histórica.

Se quisermos nos deter a uma observação mais apurada desta realidade brasileira como da leitura sociológica ocuparíamos inúmeras páginas e reinterpretaríamos a história da colonização do país. Em primeiro lugar, iriamos aprofundar estudos a ponto de analisarmos as narrativas históricas e as classificaríamos entre inautênticas e autenticas. Em segundo, iríamos relacionar estas narrativas da história do Brasil com a opção moral de fundo, considerando haver uma ordem sociopolítica que orienta e controla: ao cidadão comum cabe esse espaço, fazer isto e viver nessa condição. Terceiro, mergulharíamos fundo na natureza do Estado e de sua função política, hoje, como intérprete e porta voz dos interesses da classe dominante.

Como se vê, a leitura giraria em torno deste núcleo central: no Brasil as classes sociais se constituíram num paradoxo: de um lado o elitismo e de outro, os discriminados. Esta constituição sociopolítica brasileira não é de providência divina, mas evidentemente da força política e da pretensão burguesa. A realidade do povo brasileiro, portanto, não é simples obra do acaso. A submissão, a desigualdade social e a diferença econômica entre as classes sociais, pressupõe um sistema e um comando totalitário. No atual sistema há forças de comando e interesses constituídos para alcançar um objetivo e um fim, aumentar a desigualdade entre as classes sociais. Todos os órgãos de poderes da nação estão constituídos de leis e de membros da classe A ou a superior, e que nunca vão ser ocupados por um cidadão pobre, humilde, ainda que tenha acontecido exceções.

Essa estrutura da sociedade brasileira está expressa nos símbolos nacionais, como da bandeira com seu slogan, dos hinos o nacional, estaduais e municipais e outros ícones. Hoje, será preciso uma releitura crítica da história do Brasil, da colonização do país, da posição sociopolítica dos privilegiados, das narrativas e dos sujeitos que idealizaram as várias constituições. Há uma realidade que nos informa de uma verdadeira violação social, de um lado da face dispõe de leis asseguradas com base nos privilégios da classe superior que impõe seus interesses sobre os inferiores, aqueles que são a maioria estão ao lado oposto. Como diz a teologia de Sócrates, filósofo grego, é possível demonstrar com base nos privilégios que o homem tem uma relação de superioridade sobre os outros pela posse da alma e da inteligência.

A inteligência, portanto, é importante para Sócrates. A concepção de Deus que ensina Sócrates está associada a inteligência que conhece todas as coisas sem exceção. Deus é essa inteligência como uma atividade ordenadora e de providência. Deus é essa inteligência e providência que se ocupa com o mundo e com o homem virtuoso que supera o mal. Deus ocupa-se com o Bem, portanto, de todo homem. Esta é razão pela qual Sócrates associa a concepção de Deus ao Bem. No pensamento cristão, coerente com a natureza de Deus, onisciência, onipotência e onipresença, garante que todo indivíduo é merecedor da vida e livre de toda violação humana e social. À vista disso, cabe aos cristãos e aos homens tementes a Deus cuidarem uns dos outros, porque todos foram ordenados pela inteligência a conhecerem o Bem e preservá-lo, como pensava Sócrates.   

Os ministros da economia, Paulo Guedes, que tem empresa em paraíso fiscal, ganhando milhões de dólares por ano, tem seguidamente insultado as pessoas humildes. O ministro insultou as domésticas por causa das viagens para Disney, sugerindo que estas passeiam pelo Nordeste, lugar reservado aos pobres, enquanto ele próprio passa férias em Miami. Chamou os servidores públicos de parasitas. Atribuiu o endividamento do Estado brasileiro aos trabalhadores por receberem um alto salário mínimo. Tratou com ofensa os desempregados. Disse que não suporta dividir o acento do avião com o pobre. Expôs que não suporta o negro, o filho do trabalhador frequentando as universidades brasileiras. O ministro da economia é a representação da constituição da sociedade brasileira, de um lado, os privilegiados gozando de suas mordomias e do outro, os insultados por serem pobres. Muito provavelmente, o país será soberano quando superar esse tipo de preconceitos e diminuir o abismo entre as classes sociais. Esse passo e essa conquista só pode ser executada por quem pensa e age diferente, desprovidos de toda soberba e repleto de humildade.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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