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Fraternidade e Superação da Violência

Miguel Debiasi

O cartaz da Campanha da Fraternidade de 2018 traz uma imagem de pessoas de idades e etnias diferentes de mãos dadas representando a intenção coletiva dos brasileiros pela superação da violência. As pessoas estão em forma de círculo, indicando que o caminho da superação da violência é um agir de múltiplas esferas. No momento em que a violência é insuflada mais uma vez pelo governo com atos de intervenção militar, urge assumir o apelo da Igreja por fraternidade.

A proposta da superação da violência, apresentada pela Igreja no Brasil através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na Quarta-Feira de Cinzas, não poderia ser mais oportuna. Com o tema “Fraternidade e superação da violência”, e com o lema “Vós sois todos irmãos”, do texto bíblico de Mateus 23,8, busca resgatar e fortalecer a ideia de que a experiência da fraternidade é o melhor caminho de justiça e de paz para a atual sociedade e as futuras gerações. Como o papa Francisco disse em 2014, “ouvimos uma chamada e devemos responder: a chamada a romper a espiral do ódio e da violência, a rompê-la com uma única palavra: ‘irmão’. Mas, para dizer esta palavra, devemos todos levantar os olhos ao Céu e reconhecer-nos filhos de um único Pai”. A sociedade equilibrada na justiça só acontece mediante a relação de irmãos. Proposta a ser ambicionada permanentemente pelos cristãos e pelos cidadãos. A violência destrói qualquer relação humana e social.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) “a violência se caracteriza pelo uso intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de pessoas”. Toda violência resulta em dano, seja ele humano, social, cultural, político ou econômico. A Campanha da Fraternidade procura conscientizar sobre as múltiplas formas de violência. Há uma violência como experiência cotidiana, e a institucional, contra jovens, negros, mulheres, crianças, e ainda a exploração sexual, o tráfico humano, o narcotráfico, a intolerância religiosa, etc. Vive-se numa verdadeira cultura da violência. A história do Brasil é uma história de violência contra índios, negros, trabalhadores, pobres, mulheres, crianças e empobrecidos. 

As cifras dos casos de violência no Brasil são alarmantes. Segundo mostra o Mapa da Violência 2016, no Brasil a cada hora cinco pessoas são mortas por uma arma de fogo. Homicídios, sequestros, estupros, chacinas, guerras, rebeliões, motins e ambientes públicos como festas noturnas e a ação da Polícia Militar são os espaços de maior sociabilização da violência. Ao decretar intervenção militar em Estados o governo inflaciona a violência com aparato político e jurídico. Consequentemente, este processo levará ao resultado de uma verdadeira corrosão humana e institucional, aumentando as tensões sociais e insuflando o aumento da violência, sobretudo contra os pobres, negros, favelados e indefesos. A violência nunca é resposta.

A Igreja no Brasil convoca a sociedade para uma profunda reflexão e uma ação pessoal e comunitária em Cristo: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Só a fraternidade pode interromper este verdadeiro barbarismo de liberar o exército para apreensão coletiva sob a força de armas de fogo. Só a fraternidade no coração do ser humano pode superar essa desumanidade do Brasil que se constituiu um verdadeiro campo de violência coletiva. Somente com o olhar para o alto, como pede o papa Francisco, é possível superar esse tempo de crueldade e perseguição aos mais pobres e fracos da sociedade, frutos do perverso sistema de desigualdade econômica. Na experiência de Jesus Cristo, que sofreu a Paixão da Cruz, é possível a eliminação da violência. Em Cristo, que morreu vítima da violência, será necessário ouvir sua voz quando orava no Horto das Oliveiras e disse a Pedro: “Guarda a tua espada na bainha” (Jo 18,11). Desse modo, a proposta da Campanha da Fraternidade 2018 é recorrente desta ordem de Jesus a Pedro, hoje ao governo, militares, sociedade e pessoas violentas.

A violência está presente em nossas casas, latente no coração e na mente dos que se expressam com palavras de animosidade e de intolerância antes de chegar aos gestos violentos. Nem todos pensam igual. Reconhecer e respeitar as diferenças sem estimular discórdia é vital para evitar a violência em qualquer nível. Importante refletir e agir neste sentido neste Ano do Laicato.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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