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Ivanda Francescatto: a história da banca encontrada nos Classificados de um jornal caxiense

Baixar Áudio por Rodrigo Fischer

Este é o primeiro de quatro episódios da série “Jornais, revistas e muitos mais: as vidas por trás das bancas de Caxias”, que conta a trajetória dos proprietários dos espaços na cidade

Foto: Rodrigo Fischer/Divulgação

“É muito importante que tenha as bancas de [jornais] e revistas, porque a gente precisa de cultura, precisamos ler o gibi para estimular a criança e fornecer palavras cruzadas para o pessoal da terceira idade. Tem uma série de coisas que as bancas podem agregar.”

Esta é Ivanda Francescatto, 64 anos, proprietária da banca de jornais e revistas que fica na rua Alfredo Chaves, nº 1333, próxima a Prefeitura de Caxias do Sul, no bairro Exposição. Por trás de sua opinião, há um longo caminho até se tornar dona do espaço. Existe uma história. Uma vida. E diversas escolhas.

Ivanda é natural de Antônio Prado, considerada a cidade mais italiana do Brasil. Caxias do Sul se tornou uma opção em 1978, quando decidiu que aspirava terminar o ensino médio em um município visto como o polo da Região da Serra Gaúcha. Aos 21 anos mudou-se com seus irmãos e foi parar em uma casa alugada no bairro Pio X, onde se empenhou para concluir os estudos na E.E.E.F. Emilio Meyer e na E.E.E.F. Santa Catarina. Dois anos depois sua vida mudaria...

Ela tinha se casado recentemente com o atual ex-marido. Em um dia, estava em casa e decidiu abrir o jornal para ler o que acontecia na cidade. Na época, Caxias ganhava a primeira adutora da Barragem do Faxinal, professores entravam em greve, o Cristóvão de Mendoza sofria um ataque à bomba e o primeiro presidente eleito após a ditadura militar, Tancredo Neves, então senador pelo Partido Popular (PP), chegava à cidade. Mas foi a parte dos Classificados que chamou a atenção. Ivanda conta que viu uma banca de jornais e revistas para a venda e compartilhou a ideia com seu marido, até porque tinha um familiar que trabalhava com esse tipo de estabelecimento e o negócio tinha dado certo.

“No começo eu era recém-casada e vi nos jornais, na parte dos classificados, uma banca para vender e a gente optou por comprar. Eu tinha familiar que trabalhava com revistas e falou que a gente podia comprar que era uma boa.”

O começo foi difícil. Ela não entendia como funcionava uma banca e isso refletia nos atendimentos com a comunidade. O tempo foi passando e ela começou a perceber como o espaço deveria ser gerido. Há 40 anos a frente do estabelecimento, a vida mostrou para Ivanda que o seu meio de sustento possibilitou a criação das duas filhas: Ivânia e Vanessa. O trabalho pagou os estudos delas. Hoje em dia, uma atua em um hospital da cidade e a outra como nutricionista. Além da família, a banca deu clientes que se tornaram amigos. Ela relata que o espaço não era destinado apenas para a venda, mas era uma acolhida para pessoas que necessitavam de uma palavra de aconchego.

“Na verdade, ali não se vendia só revistas, se dava informação e se cuidava das pessoas que, às vezes, se sentiam mal. Em vários momentos tive que deixar a banca e levar o cliente para a casa. Era um serviço público que a gente fazia.”

O fim de um sonho

O que foi construído nos anos 1980 parecia que se desmoronaria em 2019. Em fevereiro, Ivanda ouviu do Executivo municipal que estava irregular no espaço. A justificativa era que existiriam pagamentos atrasados há 30 anos e teria até março para deixar o local próximo ao Centro Administrativo. Brigas judiciais fizeram com que ela permanecesse proprietária da banca até julho. Neste mês, ela teve que deixar seu negócio, o local que sustentou suas duas filhas e que a permitia ter uma independência financeira. Para Ivanda, a notícia foi uma surpresa.

“Foi uma surpresa muito grande, nem acreditava que fosse verdade, te digo que até acontecer eu achava que ia conseguir reverter. Foi muito triste, porque a gente tem um projeto de vida.”

Ela teve que se reinventar, mas não deixou o empreendimento de vendas de jornais e revistas para trás. Um mês depois improvisou uma banca na sua casa, no bairro Exposição, onde mora com uma das filhas. Permaneceu com o negócio porque gostava e precisava trabalhar. Ivanda agradece por não ter perdido sua clientela e mudado seu projeto de vida.

“Eu gosto de trabalhar com banca, porque tenho os clientes e eu, nessa idade, preciso trabalhar. Todos têm projetos de vidas e precisava trabalhar. Então eu consegui e os clientes, graças a Deus, estão voltando.”

Parecia que não teria volta, pois viu sua banca se tornar ponto de comercialização de produtos agrícolas. Porém o final de 2019 marcou uma nova surpresa para Ivanda Francescatto. Em dezembro, a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei que tornou os espaços em Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. Foi um sopro de esperança para ela. O que a impedia de sonhar ainda mais foi a irredutibilidade do então prefeito Daniel Guerra em reverter a decisão.

O recomeço

Só que o dia 22 de dezembro de 2019 marcaria a virada em sua vida. O líder do Executivo municipal teve o mandato cassado e os direitos políticos retirados por oito anos pelo voto de 18 vereadores. A chegada de Flávio Cassina (PTB) como prefeito interino de Caxias do Sul acabou com o que parecia irreversível. O projeto de lei foi aprovado e as bancas voltaram para seus antigos donos. Não teve presente melhor neste início de 2020 para Ivanda.

“Estou bem feliz. Acho que Caxias tem lugar para trabalhar com venda de salames, mas que seja em um espaço adequado e que as bancas [de jornais e revistas] fiquem onde elas estão, pois há revistas para vender. Eu estou feliz porque as bancas vão continuar nas cidades.”

Este foi o primeiro de quatro episódios da série “Jornais, revistas e muitos mais: as vidas por trás das bancas de Caxias”, que conta a trajetória dos proprietários dos espaços na cidade. A próxima história será de Roque Simas, dono do lugar localizado próximo ao antigo Pronto Atendimento 24 horas (PA 24H), o Postão.

(Ouça a história completa no "Ouvir Notícia" abaixo da manchete).

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