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Um Brasil subserviente ao império americano

Miguel Debiasi

 

A quem beneficia a subserviência do Brasil à política externa? Para responder e entender a condição do Brasil de colocar-se subserviente aos EUA usa-se uma história que se pretende que funcione como epígrafe de uma reflexão sobre a política externa do governo federal.

A história é retirada de um texto intitulado Estudos pós-coloniais, da doutora da Universidade de Lisboa, Portugal, Inocência Mata. Narra sobre um grupo de turistas da Europa em visita a uma reserva selvagem da África. Em certa altura, após terem visto muitas espécies de animais selvagens, um turista atreve-se e pergunta ao guia africano: “como é que se chama aquele animal branco com riscos pretos?". O guia respondeu: “chama-se zebra”. Mas, faz a objeção: “Mas, atenção, não é um animal branco com riscos pretos. Pelo contrário, é um animal preto com riscos brancos”. Porém, o turista não se satisfez com a resposta do guia e a discussão prolongou-se por muito tempo sem que houvesse entendimento.

Após a visita o guia africano refletiu consigo mesmo: “mas isto foi sempre assim, o animal é um animal preto com riscos brancos, não sei como é que esse senhor vem agora, ainda por cima nem sabia que animal era, vem aqui e quer obrigar-me a pensar que o animal é branco com riscos pretos”. A história ajuda a traçar uma genealogia da ação dos saberes e dos poderes que se rastreiam no mundo. Logicamente, nesse rastreio histórico tornam-se evidentes os saberes eurocêntricos a fazerem das demais culturas uma inferioridade e subserviência.

Mais que um fato verídico num parque selvagem da África, a breve narrativa revela uma lógica de superioridade de saberes e indica uma prática cultural de submissão do terceiro mundo. Contudo, o fato contribui no entendimento da postura de subserviência do Presidente da República Jair Bolsonaro à política imperial norte-americana. A subserviência de um país é consolidada sobre dois pilares: da ideologia e da relação colonial. A ideologia é caracterizada no gesto de naturalização da subalternidade do presidente. Noutras palavras, colocou o país em estado periférico pela submissão da soberania nacional à política externa.

O segundo pilar da subserviência, a colonial, que agora particularmente no governo Jair Bolsonaro adquire estado de neocolonial. Na verdade, é incapacidade de construção de nova política para o país. Pior, o governo pretende ampliar a velha política do “toma lá, dá cá” ao prospectar acordos a submeter o continente do Sul ao interesse norte-americano. Decorre desta postura a política de colonialidade o discurso de ódio às diferenças, sejam elas étnica, de raça, de classe, de gênero, de orientação sexual, etc. A cada passo do novo governo desvela-se a neocolonialidade que em contrapartida fortalece a hegemonia geopolítica dos EUA.

Em razão desta postura a cada dia o governo aumenta as tensões políticas e prospecta constituir-se numa ideologia abominável ao alienar-se a fictícias parcerias imperiais. Obviamente, ao submeter-se a dependência política dos EUA o governo perde o apoio popular e aumenta as críticas. Críticas como: “uma onda de vergonha e indignação tomou conta das redes sociais desde o início da visita da trupe de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. São tantas as ofensas grosseiras e agressões ao povo brasileiro, à nossa história como país independente, que as pessoas já não sabem mais nem o que dizer”, disse o jornalista Ricardo Kotscho.

O jornalista Pepe Escobar avalia a visita de Bolsonaro ao presidente dos EUA, Donald Trump: “Em 34 anos como correspondente internacional eu já vi muita submissão diplomática, mas isso está em uma classe especial de subserviência”. O jornalista Aldo Fornazieri diz “de forma consciente ou atabalhoada, Bolsonaro é em tudo o contrário daquilo que um presidente deveria ser, principalmente neste momento. Um presidente deve unir e apaziguar. Ele desune, agride e dissemina ódio e ressentimentos”. A subserviência só traz benefícios para um lado, do império, dos grandes grupos econômicos.

Em analogia com a história acima, o governo não sabe distinguir soberania nacional da subserviência internacional. Com isso, provoca confusão geopolítica na América Latina e nas relações de bipolaridade. Pior, abre as portas do país para um império e o resultado desta parceria desigual é mais pobreza ao povo brasileiro. Nesta postura, mais anos de sofrimentos se desenham no horizonte do Brasil.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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