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Comportamento formiga

Miguel Debiasi

 

O presente se explica pelo passado. A geração atual é compreendida olhando para a geração antecessora. Os filhos trazem consigo as características dos genitores. Podemos dizer que há uma ubiquidade, uma ligação em todo e em todos. De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? São questões que respondem sobre a história dos indivíduos e da sociedade. Há um histórico construído em tudo e em todos. Esta evidência não deixa margens a lacunas e a dúvidas. As coisas continuam a se reproduzir e será preciso certa atenção em nossas atuais leituras.

A mirmecologia é a ciência que se ocupa do estudo específico das formigas. Esta palavra do grego myrmex, igual à formiga e eko é relativo ao ecossistema e ambiente e logos, significa tratado. A mirmecologia tem um amplo campo de estudo como das formigas e de sua importância para o ecossistema. Esta ciência considera as formigas, como as abelhas, insetos sociais. A relação social das formigas ocorre através das antenas e dos cheiros que exalam. No formigueiro cada formiga possui um papel de cooperação para o bom funcionamento coletivo. A mirmecologia calcula que existem no mundo dezoito mil espécies de formigas, sendo que dez mil estão catalogadas e estudadas. No Brasil existem cerca de duas mil espécies. Conforme estes estudos os incômodos trazidos pelas formigas são mínimos como de uma simples picada e até infecções hospitalares.

Esta compreensão dos “mínimos incômodos” provocados pelas formigas pode ser contestada por aqueles que fazem do cultivo da terra, da colônia e do campo sua subsistência. Algumas espécies de formigas provocam incômodos para a produção agrícola e a pecuária. A formiga-cortadeira danifica a vegetação removendo a folhagem para transportá-las aos seus ninhos. Existem algumas espécies de formigas cortadeiras, como a quenquém, saúva-de-vidro, saúva limão e saúva-mata-pasto. Estas são catalogadas pelo tom avermelhado e as pernas longas. As folhas preferidas da formiga-cortadeira são muitas espécies, como as plantas de mandioca, milho, frutas diversas, algodão, jardim como as roseiras, os eucaliptos e diversificadas pastagens. O corte de folhas é porque as formigas precisam de muita polpa que originam os fungos que alimentam o formigueiro ou a colônia.

O comportamento das formigas nos permite uma leitura social. Na colônia ou no formigueiro há uma organização comum e que obedece a uma lógica hierárquica. A setorização do trabalho é comum a todas as colônias. As formigas maiores são as operárias, aquelas que fazem a segurança da colônia. As menores guardam os ninhos e limpam as trilhas. As médias são as responsáveis pela alimentação. As mínimas cuidam da cultura do fungo. A extensão da organização social de um ninho ou de uma colônia pode cobrir centenas de metros quadrados. Também existem critérios definidos para as escolhas sociais como de fazer os ninhos e organizar sua colônia em solos argilosos e em terra bem drenada. Em sua organização social é nítida a hierarquia e o poder como no papel da reprodução da formiga rainha. Os estudos revelam que em muitas espécies quando há cinco rainhas a colônia pode habitar uma área e nela perpetuar sua presença e sobrevivência.

Com o crescimento do desmatamento e das queimadas, as formigas buscam outros espaços, como o urbano. Os estudiosos descobriram que em ambientes urbanos existem muitas espécies de formigas e constatou-se nelas um comportamento e técnicas competitivas. A competição demanda estratégias ofensivas e defensivas na procura de alimento, na proteção do ninho da colônia ou do formigueiro e para a reprodução. A competição ocorre mediante ação de dois ou mais grupos de trabalho do formigueiro. O comportamento das formigas permite uma leitura da organização da sociedade. A sociedade brasileira é organizada em classes sociais, classificadas em: Classe A, são aqueles que recebem acima de 20 salários mínimos; a Classe B, vai de 10 a 20 salários mínimos; Classe C, de 4 a 10 salários mínimos; Classe D, de 2 a 4 salários mínimos; a Classe E que recebe até 2 salários mínimos, nesta também me incluo.

A organização social da sociedade reproduz em partes os comportamentos das formigas. Porém, com uma diferença fundamental em favor das formigas, no formigueiro todos têm função social por alimentação, moradia, segurança, trabalho, reprodução. Já em nossa sociedade nem todos os indivíduos tem alimentação, moradia prevista pela Constituição Federal, segurança e previdência social prescrita pela Lei Magna, emprego inexiste para milhões de brasileiros, e a reprodução não é assistida que poderia evitar inúmeros abortos. O comportamento social das formigas é solidário e inclusivo, nenhuma permanece à margem da vida da colônia. Enquanto em nossa sociedade muitos humanos são postos à margem, excluídos sem a mínima compaixão. Estes insetos nos ensinam a viver uma organização humana e social justa e de vida compartilhada. Ademais, o comportamento formiga mudará jamais. 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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