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Situação crítica do trabalho contemporâneo

Miguel Debiasi

Como vai o trabalho? Pergunta que nos fazem seguidamente. Geralmente respondemos a partir da experiência e da visão subjetiva. Para a sociedade contemporânea o trabalho é um problema, como da falta de empregos, condições de serviços, remuneração, paridade salarial, mão-de-obra qualificada, lesões e doenças, escravidão, pouco investimento na ciência e tecnologia e outros. O trabalho é a base do ser humano, da sociedade e das nações. Sem trabalho, o futuro da humanidade seria incerto. A situação crítica do trabalho exige reflexão e melhoras.

 

De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentados no Congresso Mundial de Segurança e Saúde, realizado em setembro de 2021, lesões e doenças relacionadas ao trabalho provocam a morte de 1,9 milhões de pessoas anualmente. As maiores causas de mortes relacionadas ao trabalho foram de doenças pulmonares obstrutivas crônicas 450.000 mortes; acidente vascular cerebral 400.000 mortes; e cardiopatia isquêmica 350.000 mortes; lesões ocupacionais causaram 360.000 mil mortes. O estudo leva em consideração 19 fatores de risco ocupacional, a exposição a longas jornadas de trabalho é responsável 750.000 mortes e a exposição à poluição do ar como de partículas, gases e fumos metálicos, ferros e cobre causou 450.000 mortes.

 

Desde 2000 a OMS e a OIT oferecem relatórios anuais de monitoramento global que permite que governantes e formuladores de políticas públicas e privadas acompanhem as perdas de saúde relacionadas ao trabalho no nível nacional, regional e mundial. Os relatórios permitem que governantes e formuladores foquem nos setores mais problemáticos e planejem políticas e recursos de implementação e de intervenções apropriadas para melhorar as condições de segurança do trabalho e da saúde de trabalhadores(as).

 

No relatório de 2021 a OMS e a OIT indicaram que o desemprego atingiu 220 milhões de pessoas, acima dos 187 milhões de 2019; 2 bilhões de pessoas estão na economia informal; 50 milhões de vivem em situação de escravidão, realizando trabalhos forçados no setor privado; 6,3% milhões vítimas da exploração sexual forçadas; e 3,9% milhões de trabalho forçado imposto pelo Estado. OMS e OIT enfatizam que é urgente a transição para a economia formal, para garantir proteção social e condições de trabalho decentes aos trabalhadores(as). Os relatórios da OMS e da OIT mostram que são necessárias mais ações e políticas eficientes para garantir locais de trabalho mais saudáveis, seguros, resilientes e socialmente mais justos.

 

Na previsão do Fórum Econômico Mundial (FEM) de 2018, até o ano de 2030, 50% dos empregos da atualidade deixarão de existir e para suprir a necessidade de novos postos de trabalho é preciso investir em ciência e tecnologia. O Fórum indicou que a Inteligência Artificial e o Aprendizado de máquinas vão demandar novos profissionais nas próximas décadas. Ciência e tecnologia é a base para a inovação, trata-se de uma nova ideia de trabalho e que será preciso um farto investimento de recursos em pesquisa. O governo federal nos últimos quatro anos promoveu o corte de recursos de bolsas científicas da Capes e CNPq, que são importantes órgãos para formar e treinar pesquisadores, que podem gerar a base para a cadeia de inovações de trabalho no Brasil.

 

A Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição brasileira de ensino superior, que tem como objetivo principal preparar pessoas qualificadas para a administração pública e privada do país, previa que com a pandemia da Covid-19 nascia uma nova forma de trabalho, o remoto em que o trabalhador não sairia de casa. Com o fim da pandemia vê-se o contrário, o trabalhador(a) voltou aos postos de trabalho e 50% destes buscam novos empregos e melhores condições salariais e de serviços. No retorno ao trabalho presencial, o trabalhador(a) tem benefícios como da interação, relacionamento, protagonismo, crescimento pessoal e profissional. Fato que revela que o trabalhador(a) faz uma reflexão de seu trabalho e busca novas concepções de trabalho.

 

 A Conferência Nacional da Indústria (CNI), no Dia Internacional da Mulher, divulgou pesquisa que a paridade salarial entre mulheres e homens é a ação mais importante para igualdade de gênero. Na mesma data, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou pesquisa da diferença de remuneração entre homens e mulheres, que vinha em tendência de queda até 2020 e voltou a subir no país atingindo 22% no final de 2022. A mulher ou uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha o homem, executando o mesmo serviço. Nessa data, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um Projeto de Lei para garantir remuneração igual entre homens e mulheres que exercem a mesma função.

 

Nas informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Fórum Econômico Mundial (FEM), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Conferência Nacional da Indústria (CNI) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o trabalho é um grande problema para a sociedade contemporânea. É chocante saber que 1,9 milhão de mortes anualmente são decorrentes de lesões e doenças relacionadas ao trabalho. Revolta a consciência de saber que em pleno século XXI milhões de seres humanos são submetidos ao trabalho escravo e à exploração sexual. Espanta qualquer cidadão saber dos poucos recursos aplicados em pesquisa científica e tecnológica, igualmente a falta de ações políticas públicas e privada para qualificação de trabalhadores(as), para inovações do trabalho e de outras alternativas ocupacionais.

 

As normas internacionais do trabalho e as diretrizes de Segurança e Saúde da OMS e da OIT, bem como, seus relatórios de monitoramento do trabalho global e as estatísticas dos Institutos brasileiros são ferramentas: para a inovação e para as melhorias das condições de trabalho, proteção da saúde dos trabalhadores(as), reduzir as lesões, doenças, mortes, escravidão, diferenças salariais e precariedade das condições de trabalho. Pesquisas, monitoramentos e informações científicas indicam da situação crítica do trabalho contemporâneo a ser melhorada no século XXI.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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