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Romarias: animação pessoal e renovação eclesial

Miguel Debiasi

A fé é a verdadeira luz que conduz a humanidade. O Cristo, enviado do Pai, assim se apresenta ao povo Israel: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas” (Jo 12,46). As romarias que a Igreja promove são luzeiros de animação pessoal e de renovação eclesial.

O filósofo alemão Ludwig Wittgenstein assim explicou a ligação entre fé e vida: “acreditar seria comparável à experiência do enamoramento, concebida como algo subjetivo, impossível de propor como verdade válida para todos”. De fato, a fé não necessariamente busca esclarecer a verdade, mas dar entendimento do amor de Deus pela humanidade. Por este caminho, a fé não está limitada à verdade, ainda que ajude a iluminar as dúvidas e incertezas humanas. Também pelo exercício religioso a fé não tem o caráter de obrigação, mas de uma livre opção de encontrar-se com Deus, luz da vida. Certamente pela fé a pessoa faz crescer as asas da esperança à luz do mistério de Deus, e assim transformar vida e mundo em obra do Reino.

Numa sociedade plural em experiências religiosas, as romarias são sempre uma oportunidade de desvendar caminhos de animar as pessoas e a Igreja. No início do cristianismo, o termo romaria se reportava à sede da Igreja, Roma, local de peregrinação dos fiéis. Pode-se dizer que as romarias continuam na esteira da fé de Abraão, no caminho do êxodo do povo de Israel, na memória de um passado de libertação e no progressivo realizar das promessas divinas a ganhar plenitude em Jesus Cristo que manifesta o caráter decisivo da fé cristã. As grandes concentrações de fiéis em romarias tornaram-se uma oportunidade de renovação da fé das pessoas, consequentemente das estruturas e do trabalho eclesial.

Hoje são inúmeras as romarias. Os romeiros além de se dirigirem às basílicas de Roma e a Jerusalém, Terra Santa, berço do cristianismo, vão aos santuários, catedrais, grutas, montanhas, capitéis, igrejas. São locais que ajudam no crescimento da fé dos romeiros e neles recebem respostas espirituais nem sempre encontradas em trabalho pastoral paroquial. Por isso, surge a necessidade de uma eclesiologia que valorize elementos subjetivos da fé sem esquecer a importância da comunidade cristã. As grandes concentrações de romeiros dizem que é impossível crer sozinhos. E mais, a fé cresce na interioridade do crente, não de forma isolada entre o eu fiel e o Tu divino. Ou seja, as romarias são a manifestação da comunhão das pessoas com a Igreja, que vivem do mesmo Credo, da mesma liturgia, do mesmo Espírito. Cremos. Por essa razão, nas grandes romarias e nas peregrinações a fé tende a difundir-se e animar as pessoas a viverem a alegria do Evangelho, da fé em Cristo. Elas estão na casa da Mãe Igreja, que juntamente à multidão ergue as mãos e as vozes para rezar sua fé que conduz a significar em Cristo. Assim a Igreja permanece unida pela fé. Neste sentido, São Leão Magno podia afirmar: “Se a fé não é una, não é fé”.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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