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Relações internacionais mais humanitárias

Miguel Debiasi

Tudo na vida passa por relações. Há uma relação entre Deus e as pessoas. Existem as relações interpessoais. Tem as relações entre países articuladas por regras diplomáticas. A vida é uma relação. O governo é uma relação. Os países são uma relação. As tensões entre países é fruto das relações econômicas e ideológicas sectárias. Essas tensões precisam ser superadas por relações internacionais diplomáticas, justas e sensatas.

Na elevação de tantas tensões internacionais é preciso um discernimento de sua causa. O termo discernimento do latim discernere significa o ato de discernir, de fazer uma apreciação. Discernimento é a capacidade de apreciar, analisar e fazer a escolha correta. O discernimento baseia-se fundamentalmente numa compreensão sábia, justa e de um entendimento e conhecimento de causa. O cidadão precisa diante de qualquer situação, observar atentamente suas nuances, separar o correto e o errado, o justo e o injusto. Assim, utiliza um critério lógico para tomar sua decisão e manifestar sua compreensão dos fatos.

Em tudo na vida é preciso discernimento. Em nosso tempo fala-se muito em discernimento profissional, vocacional, espiritual, político, ético, ecológico e outros. Santo Inácio de Loyola (1491-1556) escreve que o discernimento espiritual através da meditação e do exame da consciência leva o indivíduo a encontrar as chamadas afeições ordenadas e a vontade de Deus, a qual é autêntica para si. O discernimento espiritual é a capacidade de afastar todos os tipos de impulso da alma, para que a mesma se torne serena o suficiente e capte sabiamente a vontade de Deus, indicando um caminho e missão que a pessoa deve realizar na vida.

O mundo cada vez mais globalizado pela força da economia de mercado, acirrada por lucros provoca grandes conflitos entre nações. A crise econômica do sistema capitalista financeiro, iniciada em 2008 e agravada pela pandemia da Covid-19 deixou em aberto um palco mundial de grandes conflitos de interesses. As tensões são visíveis entre os países mais poderosos, como EUA e países asiáticos, bloco Ocidente versus Oriente, a ponto de levar ao fechamento de consulados e embaixadas em vários países.

Historicamente a política econômica provocou fortes tensões mundiais. As lutas por domínio e controle econômico foram causa de guerras, conflitos e de rompimento de relações internacionais e de acordos bilaterais. Em nosso tempo, o mundo cada vez mais aberto para globalização, todas as nações deveriam zelar pelas relações internacionais pacíficas e estabelecer alianças e parceiros comerciais mundiais. Parece-nos ser um grande desafio da política econômica chegar aos relacionamentos internacionais sólidos e pacíficos para todo mundo.

Para alcançar a paz mundial será preciso que impere uma diplomacia internacional mais decisiva. Nos últimos tempos, vários chefes de Estado tomaram o caminho oposto da diplomacia, e acabaram fortalecendo relações internacionais de interesse ideológicos. Como resultado dessa postura formou-se pequenos guetos ideológicos e párias internacionais, fechando os caminhos de diálogos construídos ao longo da história pela política diplomática. Para agravar as tensões internacionais alguns países romperam com a política diplomática e até impuseram sanções contra outros. Nos últimos anos, conduzido por interesses ideológicos, o Brasil rompeu acordos comerciais com as nações da América Latina e com outras organizações globais.

No enfrentamento da pandemia do coronavírus, países mostraram como a diplomacia e as relações internacionais são essenciais para o bem comum da humanidade. De um lado, nações se uniram para buscar uma vacina e continentes inteiros concordaram com o fechamento de fronteiras e governos ajudaram financeiramente os países mais pobres do mundo. Por outro lado, houve nações que não colaboraram e culparam a China por ter permitido que a doença se espalhasse pelo mundo. A postura de interesses ideológicos dificultou o exercício da política da diplomacia internacional e que com seus planos beneficiassem toda a população mundial.

Ainda que haja regras diplomáticas para ajuda bilaterais, países tratam as outras nações a partir de quem é figura central do governo e dos seus interesses ideológicos. Países alinhados a essa política ideológica tendem ao rompimento das relações internacionais e não percebem a gravidade que provocam. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mantém a mesma política de pressão máxima de seu antecessor Donald Trump com relação ao país de Cuba, com objetivo de levar sua economia ao total colapso. O bloqueio dos EUA a Cuba que iniciou em 1962 tem causado desconforto a política diplomática dos demais países da América e do mundo. No enfrentamento da Covid-19 houve até bloqueio de envio de agulhas, seringas, luvas, máscaras, gel, sabão e outros, por pressão dos EUA.

Mas a política diplomática de Cuba mostrou sua grandeza de solidariedade e espírito de humanismo internacional. Em pouco tempo de pesquisa desenvolveu três vacinas contra a Covid-19. Para mais, ofereceu esse medicamento para o mundo e enviou milhares de profissionais da área da saúde como médicos especializados, técnicos e enfermeiros para ajudar, sobretudo os países da Europa, as nações ricas. O êxito em Cuba foi tanto que é um dos países com menos morte de Covid do mundo.

A humanidade do século XXI espera relações internacionais mais justas e equilibradas, de bom senso político que evita desastres humanitários de proporções planetárias. Os EUA a maior potência econômica do mundo ao continuar mantendo bloqueio econômico a outros países por interesses políticos ideológicos parece-nos uma insanidade. A sociedade do século XXI demonstra que rejeita toda incapacidade de governos de dialogarem com os diferentes. Para mais, a humanidade caminha para abertura imprescindível entre países. Cientes que a paz universal passa por relações internacionais sólidas e que beneficiam a população mundial, acima de quaisquer interesses econômicos e ideológicos de governos de seus governantes.  

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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