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Perdão não merecido

Miguel Debiasi

Entre as muitas dificuldades do ser humano está o perdão. Nem todos conseguem conceder perdão a outrem. É mais difícil de ser concedido quando envolve dinheiro, posses, patrimônio, herança. Por sua vez, o governo brasileiro concede perdão de Dívidas Ativas com a União justamente a quem não merecia. O perdão do governo é ato malfeito contra a população brasileira.

O sentido de perdão tem ampla compreensão e aplicação que transcende a subjetividade, a espiritualidade. O termo perdoar, do latim perdonare, significa deixar de querer mal a alguém por um ato desagradável, hostil, que o prejudicou ou fez sofrer. No sentido espiritual, significa renunciar ao desejo de reparação em busca da reconciliação das partes. No sentido antropológico, significa não guardar ressentimento em relação a um agravo. Com efeito, perdoar transcende a dimensão pessoal, subjetiva, religiosa, adentra a esfera pública, coletiva, social. Nisto, o atual governo tem sido generoso em perdão de dívidas com a União, revertendo em prejuízos e sacrifícios ao povo.

A “Casa do Povo”, assim denominada pelos deputados do Congresso Nacional, constituída por 594 parlamentares, dos quais 42% são empresários, tornou-se o Palácio VIP. Se preferir, palácio capturado pelo dinheiro. Na atual conjuntura política salta aos olhos que a democracia foi banida da “Casa do Povo”. A própria composição do Congresso Nacional não representa a democracia. Pois, apesar das mulheres representarem 51% da população brasileira, na “Casa do Povo” elas são apenas 12% dos parlamentares. Nada há de democrático no preço que o povo paga para eleger um parlamentar. Em 2014, o custo médio ficou em dois milhões de reais para eleger um deputado federal e em cinco milhões para eleger um senador. Os dados são do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). Na “Casa do Povo”, hoje mais para casa VIP dos empresários, latifundiários, bispos e pastores evangélicos, não surpreende a aprovação de reformas e projetos que ferem a soberania nacional. Com esse perfil político, é bastante lógico levara o cidadão a trabalhar mais horas e anos para receber menos salário e ficar sem aposentadoria, seguridade social, etc.

Outro lamento contra a Casa VIP são as Medidas Provisórias, as chamadas MPs, que garantem perdões bilionários às empresas privadas com a União. As medidas promovem verdadeiro calote tributário. Na esteira das benesses públicas a bancada de latifundiários recebe do governo anistia de suas dívidas particulares. Dos grandes grupos econômicos, além de contemplados com o perdão das dívidas, o governo aceita parcelamentos de débitos empresariais. São malfeitos como o novo Refis aprovado pela Medida Provisória 766 de Michel Temer que permite aos caloteiros pagarem somente 20% de suas dívidas.

A Casa VIP, Congresso e Senado Nacional, são contemplados com verbas exorbitantes do governo em prol dos interesses dos parlamentares que nenhum benefício traz à população. Neste último ano o governo federal ficou mais generoso que a Madre Teresa de Calcutá. Porém, com uma enorme diferença. A Madre Tereza era caridosa com os pobres, abandonados e excluídos do sistema. Porém, o governo federal tem sido bondosamente generoso com os poderosos empresários e grupos econômicos ao conceder perdão aos bancos privados e às empresas. Em troca do apoio político, o governo prolonga o prazo de pagamento das dívidas por 20 anos sem juros, multas e encargos. No próximo artigo veremos as consequências disto, o prejuízo para a nação.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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