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Os deuses modernos, o mercado e a economia

Miguel Debiasi

A raiz da idolatria ao mercado e a economia pode ser encontrada na profunda recusa de Deus. Tal recusa tomou na sociedade moderna o formato de um novo d-eu-s que é o antropocentrismo com suas estruturas econômicas e com seus projetos temporais. Para este antropocentrismo o mundo é o reino do ser humano, onde a pessoa coloca todo o seu poder. O antropocentrista é convicto que o triunfo do mundo depende do sucesso do reinado humano. Estes dizem acreditar em Deus, porém, na condição que o mundo seja concebido como o lugar do reinado humano. Para Deus essa lógica antropocêntrica está enlouquecida, ideia gerada pelas classes privilegiadas.

A filosofia moderna colocou a ideia que o mundo é um lugar do ser humano, onde vive sob o signo da “morte de Deus”. A grande porta voz dessa concepção é atribuída ao filósofo alemão Nietzsche (1844-1900). A influência do pensador na cultura ocidental cristã moderna continua aponto de hoje identificar no pensamento filosófico um nietzscheísmo. Em sua obra Assim falou Zaratustra, título em que se autodenomina, Nietzsche introduziu novas figuras de linguagem que expressam o vazio da sociedade moderna e da cultura ocidental cristã. Expressões como a “morte de Deus”, “tudo é oco, tudo é igual, tudo passou”, “proclamador do grande cansaço”, “tudo é igual; nada merece pena”, “para que viver? Tudo é vão! Viver é trilhar palha. Viver é queimar-se sem chegar a se aquecer”. Obviamente, todas essas expressões devem ser examinadas à luz do sentido da vida e da existência humana como propõe Nietzsche. Para Nietzsche tudo na vida precisa de um apurado sentido, pela falta qual, o filósofo expõe sua crítica da incapacidade do projeto da modernidade.

O ateísmo nietzschiano representa um radical questionamento da cultura ocidental cristã e do projeto da modernidade, ambos de insuficientes respostas ao ser humano e o sentido de sua existência. A crítica nietzschiana ainda não foi contraposta pela teologia, pela Igreja, pelos cristãos e pelos teóricos modernos. Como Nietzsche constata a “morte de Deus”, não foi uma morte morrida, mas sim de uma “morte matada”. Os algozes foram os próprios homens que manipulando a ideia de Deus e que organizaram seu reinado no mundo, privilegiando uma classe social. Para estes modernistas privilegiados Deus tornou-se um estorvo ou a “pedra de calcanhar de Aquiles”. Com efeito, nesse sistema a religião entrou para a dimensão metafísica abandonando o mundo real para o ser humano reinar com seu projeto. Nesse contexto em que Deus foi morto é advento para ser humano realizar seus projetos econômicos.

A crença em Deus está deixando de dar sentido à vida e solidez à existência humana, o mundo ganha outra valorização, a temporal assegurada pela economia e mercado. O mundo parece tão somente mundano e onde a religião está desconectada da realidade material das pessoas. Sem a interferência de Deus a vida humana goza puramente do mundo real e material. A propósito disso, a materialização da vida serve a economia, da qual, a política governamental brasileira nestes últimos anos tem servido com fidelidade e radicalidade. Decorre disso que os bens públicos e empresas estatais brasileiras estão sendo entregues de forma inescrupulosa, desonesta e enganosa, sem o conhecimento da opinião pública. A vítima da vez do governo federal foi a Eletrobras que controla 233 usinas, que produzem 1/3 da energia consumida no Brasil, possui uma estrutura de 70 mil quilômetros de linhas de transmissão.

A privatização da Eletrobras teve protestos dos funcionários que por meio de greves e notas públicas denunciaram o desmonte da estatal. Os funcionários apontaram as razões para a não privatização: 1) preços mais caros da conta da luz elevando 20% o preço já primeiro semestre; 2) os preços da indústria e seus custos operacionais são repassados ao consumidor atingindo toda economia das famílias de forma negativa; 3) apagões e serviços ruins em vista do tarifaço; 4) demissões de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, reduzindo o número de 13.6000 para menos de nove mil; 5) risco ao meio ambiente pela péssima manutenção das 47 barragens hídricas elevando as possibilidades de rompimentos, semelhante as do Vale em Brumadinho e Mariana (MG); 6) a Eletrobras é lucrativa e teve superávit de R$ 30 bilhões em três anos e distribuiu mais de R$ 20 bilhões em dividendos para a União; 7) a Eletrobras tem recursos em caixa para investir em serviço de qualidade e gerando empregos para recuperar a economia que está em crise no país; 8) vender a Eletrobras significa também perder a soberania nacional no campo da energia, entregando-a ao oligopólio e monopólio mundial. Em suma, o povo brasileiro fica cada vez mais refém dos adoradores do d-eu-s do mercado, e da economia, estes não tem piedade e misericórdia, explorar é sua paixão, a conta do consumidor é prova disso.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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