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Riqueza e alimentos que não matam a fome

Miguel Debiasi

 

A produção de riqueza e de alimentos não matam a fome do povo brasileiro. Para saciar a fome do povo será preciso menos riqueza e mais distribuição da produção. Contudo, a fome passou a ser uma questão de interesse político-econômico internacional. Quanto maior for o número de famintos, mais fortalecido fica o velho discurso de que é preciso produzir mais para alimentar a população. No entanto, para erradicar a fome do mundo será preciso coragem de propor um outro sistema econômico.

 

Conforme relatório anual da organização não governamental Oxfam Mundial, de toda a riqueza gerada no mundo em 2017, 82% foi parar nas mãos do 1% mais rico do planeta. Enquanto isso, a metade mais pobre da população mundial - 3,7 bilhões de pessoas – não ficou com nada. O relatório detalha que o sistema econômico globalizado possibilita que a elite econômica acumule vastas fortunas enquanto milhões de pessoas lutam para sobreviver com baixos salários. Atualmente há 2043 bilionários no mundo. Nove entre cada 10 bilionários no mundo são homens. A riqueza dos bilionários aumentou em média 13% ao ano. Enquanto isso, mais da metade da população mundial vive com renda de US$ 2, equivalente a míseros R$ 8,00.

 

Na avaliação da diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, “o que vemos é um aumento absurdo da concentração de renda e riqueza no mundo, provocando mais pobreza e o aumento das desigualdades. Isso mostra que a economia segue sendo muito boa para quem já tem muito e péssima para quem tem pouco”. Segundo estudo da Oxfam, entre os fatores que contribuem para esse quadro está a redução de custos trabalhistas, como salários e direitos, para maximizar retornos aos acionistas. Alerta o estudo: “pensar apenas na geração de novos empregos, mantendo as condições precárias de trabalho, é uma forma ineficiente de se eliminar a pobreza”.

 

Em contrapartida a este sistema econômico falido que produz pobres e pobreza, e que privilegia os afortunados, serão necessárias medidas eficazes. Medidas que segundo a Oxfam Brasil são: limitar os retornos a acionistas e altos executivos de empresas e garantir o pagamento de salários dignos para todos os trabalhadores que permita terem uma vida decente; eliminar as diferenças salariais por gênero e proteger os direitos das trabalhadoras, sendo precisos para fazer frente ao ritmo do atual sistema 217 anos para reduzir as diferenças salariais e oportunidades de empregos entre homens e mulheres; garantir que os paguem numa cota justa de impostos e tributos, combatendo efetivamente a evasão e sonegação fiscais; aumentar gastos com serviços públicos, como saúde e educação; cobrar um imposto global de 1,5% sobre a riqueza dos bilionários poderia cobrir os custos de manter todas as crianças do mundo na escola.

 

A Oxfam conclui que seria ilusão pensar que crescendo o PIB a vida da população melhora. No caso, o pífio crescimento da economia brasileira, 0,6% por conta do agronegócio, é ilusão, porque o que estamos produzindo vai para fora do país. A soja vai para fazer rações para a criação de porcos na China, óleo de cozinha para a Europa, a carne para alimentar a população do Oriente Médio. Isto significa que nem mesmo o recorde de produção de alimentos do Brasil mata a fome de ninguém, pelo contrário, o povo fica mais pobre. Para o engenheiro e ex-banqueiro de investimentos Eduardo Moreira, “não é só o crescimento econômico pífio que deveria preocupar, mas também para onde vai a riqueza gerada no país”.

 

O IBGE, que anunciou em dezembro o PIB brasileiro de 0,6% em 2019, está sendo pressionado por organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a revista Britânica de economia The Economist a rever os cálculos considerando ser menor o crescimento. Então, o crescimento econômico é maquiado no intuito de desinformar a opinião pública. Em contrapartida, a realidade denuncia um círculo vicioso da concentração de riqueza e quanto maior a produção de alimentos mais pobres são gerados. O empobrecimento do povo brasileiro é a prova mais contundente da economia perversa, produzindo a maior desigualdade social mundial.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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