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O valor das devoções religiosas

Miguel Debiasi

 

            Seguidamente escuto perguntas a respeito das devoções aos santos e a Virgem Maria. Normalmente são perguntas de quem se sentiu questionado em sua espiritualidade. Não há mal algum em ter devoção aos santos e a Virgem Maria, pois isso traz graças e bênção. O questionamento às devoções descreve a tensão do mundo religioso plural. Na pluralidade das religiões é preciso entender a fé do outro, eis a postura sábia e correta.

            A cultura do povo brasileiro é caracterizada por muitos elementos religiosos. Entre cultura e religião há uma ligação intrínseca. São dois elementos inseparáveis. Existe uma construção mútua. Na religião há muita cultura. E na cultura muito de religião. Por sua vez, a religião projeta na cultura valores, tradições, conteúdos, etc. E a cultura não se restringe à economia, política, ética, mas carrega em si muitos elementos da religião. A religião formula a experiência da comunidade de fé que não está isolada de uma cultura. Logo, cultura e religião não são abstratas ou isoladas, mas encarnam a concreção histórica em que a condição e realidade humana estão presentes.

            Consequentemente, as devoções são um precioso elemento da cultura e ajudam a formular a experiência de fé das pessoas. No cristianismo as práticas devocionais - sejam pessoais, familiares ou comunitárias - acrescentam aos devotos extraordinário crescimento e fortalecimento da fé. A fé cristã tem demonstrado ser capaz de inculturação em todos os contextos e, nas práticas devocionais, de enriquecer as culturas dos povos. Antes de tudo, dedicar orações aos santos e a Virgem Maria leva ao encontro com Cristo, descobrindo em seu amor o sinal de comunhão com as pessoas e com o Reino de Deus. E, assim, a oração da comunidade cristã aos santos e a Virgem Maria torna-se luz e fortalecimento no Deus criador da vida e do mundo.

            Com isso, a Igreja valoriza as devoções e reconhece os santos como pessoas que se destacaram na caminhada de fé. Muitos derramaram seu sangue por amor a Cristo. Então, frente a um mundo religioso plural, no fundo os questionamentos são para persuadir os devotos a trocarem de religião. Com certeza, a espiritualidade católica resultante das devoções vai muito além das promessas de curas milagrosas que outras denominações religiosas vendem aos seus fiéis. E mais, em todas as religiões, à medida que se responder aos caminhos que levam ao encontro com o Deus de Jesus, torna-se possível alcançar a santidade. Pois para Deus o que importa não é a religião que pratica, mas é a capacidade com que se vive a fé. Na mesma razão, pode-se entender o Evangelho como mais que uma religião, mas como um projeto de vida, plenamente possível para se chegar à santidade. Dito com outras palavras, Deus espera não que sejamos perfeitos, e sim santos.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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