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A Economia Destrutiva

Vanildo Luiz Zugno

Como todos que me conhecem sabem, não sou economista de formação. De economia conheço apenas o que um leigo curioso pode aprender através de leituras dos profissionais da área. E, como a economia é a mola e o eixo de nossa vida em sociedade, com um pouco de atenção e interesse, todos podemos dela aprender algo. Por isso me aventuro aqui a escrever sobre o tema. Se os economistas acharem que estou errado, por favor, me advirtam para que eu me corrija.

Se não estou equivocado, todo o pensamento econômico dos últimos séculos está fundamentado no mito do desenvolvimento infinito, ou seja, na afirmação de que uma economia “boa” é aquela capaz de gerar cada vez mais produtos e serviços e possibilitar às pessoas consumir cada vez em maior quantidade aquilo que elas desejarem. O sonho de todo governante é entregar, no fim de cada ano, uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto superior à do ano anterior. Falhar neste objetivo é risco de não ser reeleito ou de não fazer seu sucessor. Foi o que aconteceu em 1992 quando, George Bush, depois de ter 92% de aprovação após a invasão do Iraque, não conseguiu reeleger-se e perdeu para Bill Clinton. O democrata tinha como assessor econômico James Carville que formulou a lapidar frase: “É a economia, estúpido!” Focando na economia e não na guerra, Clinton venceu Bush.

Mas, e se o mito do crescimento infinito não passar de uma quimera? Hoje há os que levantam esta hipótese e a comprovam através da teoria do descrescimento que propugna uma economia baseada não na produção e no consumo, mas na qualidade de vida dos humanos e dos outros seres com quem compartilhamos a navegação sobre o Planeta Terra. É uma proposta econômica alternativa que nasce de outra compreensão do humano e da vida. Os economistas ecologistas e os da “economia do dom” vão, grosso modo, nesta direção. A prova mais simples da verossimilidade desta teoria é de que hoje, no mundo, produz-se mais alimentos dos que seriam necessários para nutir a humanidade. Bastaria distribuir melhor a comida para que ninguém mais passasse fome. O Brasil é o maior produtor mundial de carne. Mas faz tempo que a churrasqueira está desativada!

Voltando à lógica do crescimento: o que fazer quando já não há mais consumidores para os produtos gerados? Como crescer mais quando já se produziu tanto que os potenciais consumidores já estão satisfeitos e os que ainda não puderam consumir o produto não tem o dinheiro para pagar por ele e nunca o terão?

A saída é destruir os produtos disponíveis para produzir novos que os substituam. Os brasileiros conhecemos esta situação. Em 1931, o Governo Provisório de Getúlio Vargas queimou milhões de sacas de café para assim manter o preço do produto no mercado internacional. E, quando o preço baixou, outras milhões de sacas foram produzidas para manter aquecida a economia dos plantadores de café. Os preços continuaram no mesmo patamar. Quem podia tomar café antes, continuou tomando. Quem não podia, ficou cheirando o perfume do grão queimado no Porto de Santos.

Mas há outra forma mais eficaz de fazer girar uma economia que chegou à estagnação pela superprodução: é a guerra. E ela tem a vantagem de conectar os dois polos, o destrutivo e o produtivo. Destroem-se os velhos produtos e serviços e geram-se novos. As empresas que fabricam as armas que transformam em escombros as cidades e a infraestrutura de um país são as mesmas que, depois, irão reconstruir aquilo que elas mesmas ajudaram a destruir. E tudo pago com o dinheiro de quem apenas é convidado para oferecer as vidas de seus filhos para que as grandes corporações tenham lucros. A atual guerra da Ucrânia nem terminou e a União Europeia e os Estados Unidos já fizeram uma conferência para discutir a reconstrução da Ucrânia. Em outras palavras, com quem vai ficar o butim. A Ucrânia será (já está) arrasada. Levará anos para ser reconstruída. Mas a Rússia, a União Europeia e os EUA já estão ganhando com a guerra praticando a economia destrutiva que é a forma radical de manter vivo o mito do crescimento infinito.

O assessor de Bill Clinton tinha razão ao dizer que o que move o eleitor é a economia. Bush, no entanto, também estava correto ao fazer da guerra o motor principal da economia. E o triste é constatar que Clinton só teve sucesso devido ao sucesso de Bush. Enquanto não mudarmos o mito de que o crescimento infinito é o objetivo da economia, outros Bush, Biden e Putin virão. E outras guerras assolarão a humanidade gerando morte e destruição.

P.S.: Se Garrincha estivesse vivo, perguntaria aos europeus e norte-americanos se eles já combinaram com os russos com quem vai ficar a reconstrução da Ucrânia!

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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