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Ano da misericórdia se volta aos que sofrem

por Luciane Modena

Jubileu, promulgado pelo Papa Francisco, ocorre de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016

Foto: Osservatore Romano/AFP/Divulgação

Texto de frei Carlos Rockenbach, capuchinho, pároco da paróquia Imaculada Conceição, de Caxias do Sul

O Ano Santo Ordinário, instituído já no Antigo Testamento (Lv 25,6-10), se dá na Igreja em anos já estabelecidos pelo Vaticano. O Ano Santo Extraordinário é proclamado como uma celebração especial. O Papa Francisco promulgou o Jubileu da Misericórdia que inicia dia 8 de dezembro deste ano e termina dia 20 de novembro de 2016. O Jubileu é um ano no qual os fiéis são convidados a buscarem a conversão, a se empenharem na transformação do mundo, a fazerem atos de piedade e se beneficiarem das graças das indulgências concedidas pelo Papa. Todo Jubileu tem um significado profundamente espiritual e visa a santificação de todos os batizados. 

Neste Ano Santo, o Papa Francisco desafia a fazermos “a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas”. 

O perdão é o instrumento colocado nas nossas mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições para se viver feliz. Acolhamos a exortação do apóstolo: «Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento» (Ef 4,26). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a fé: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5,7) é a bem-aventurança que deve inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo. O Papa anunciou um jubileu agora porque viu essa necessidade diante da realidade do mundo.

Caminho que une Deus ao homem

Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade; é o ato supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro; é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com os olhos sinceros o irmão que se encontra no caminho da vida; é o caminho que une Deus e o homem, porque abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do pecado. Misericórdia é “ter compaixão”, é “padecer com” o outro.

É ter a “sensibilidade e a capacidade de pôr-se na pele dos outros”, de “sentir no próprio coração e nas entranhas o seu sofrimento, sua dor e sua miséria”. É viver em permanente atitude de êxodo para as periferias existenciais de uma humanidade sofredora e mendicante de amor, ternura, compaixão, de proximidade e de fraternidade. A misericórdia é da essência de Deus, é sua forma mais profunda de ser, é sua identidade.

Jesus Cristo é o rosto da misericórdia de Deus Pai

Os evangelhos apresentam Jesus como alguém que tem sensibilidade histórica. “Ao ver as multidões tem compaixão delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor (Mt 9,36). Preocupa-se com os cegos, os paralíticos, os surdos, os leprosos. Está atento à opressão em que viviam as mulheres. A misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até o mais íntimo de suas vísceras.

As vísceras, as entranhas são o lugar onde estão localizadas nossas emoções mais íntimas e mais intensas. Quando os evangelhos falam da compaixão de Jesus como sendo movido em suas entranhas, eles expressam algo muito profundo e misterioso. A compaixão que Jesus sentia era obviamente muito diferente dos sentimentos superficiais ou passageiros de pesar ou de simpatia. Está relacionada com a palavra hebraica para designar a compaixão, rachamim, que se refere ao útero de Javé. A compaixão é uma emoção tão profunda, central e poderosa em Jesus que só pode ser descrita como um movimento do útero (âmago) de Deus.

Jesus tem dor nas entranhas. Sofre com a situação do povo. Deixa-se tocar por suas necessidades. Sua prática histórica rompe com os padrões convencionais. Jesus olha a vida a partir dos últimos e procura orientar seus discípulos a compreenderem que Deus quer a vida para todos (Jo 10,10), e quando a vida é ameaçada, Jesus a defende, mostrando que Deus é o defensor dos pobres (Ex 3,7-10; Mt 9,35-36). Essa é sua atitude frente à mulher perseguida (Jo 8,1-8), com os leprosos (Lc 17,11-19), na cura do cego (Mc 8,22-26), diante da dor da mãe que perde o filho (Lc 7,11-17). Da mesma maneira, mostra que a partilha é a atitude fundamental para que a vida seja possível para todos (Mc 6,30-44), que a conversão exige o estabelecimento da justiça nas relações entre as pessoas (Lc 19,1-10) e que o verdadeiro cumprimento da Lei se estabelece na partilha dos bens com os pobres (Mc 10,17-27).

Todos os sinais que Jesus realiza, sobretudo com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão. Com essa forma de agir, os evangelhos apontam o caminho a seguir.

Reconhecer-se como necessitados

A misericórdia é a mensagem central e mais forte de Jesus. É ainda muito forte, entre nós, a experiência retrógrada de “regular” a vida das pessoas através da imposição de requisitos prévios e proibições que sufocam a liberdade e tornam mais pesado e fatigante o viver cotidiano. Prontos para condenar, em vez de acolher. Capazes de julgar, mas não de inclinar-nos diante das misérias da humanidade. O primeiro e único passo necessário para fazer a experiência da misericórdia é reconhecer-se necessitado da misericórdia. “O Senhor nunca se cansa de perdoar: nunca! Somos nós que nos cansamos de pedir-lhe perdão”.

A misericórdia de Jesus é motivo de escândalo para muitos. Ele não foi condenado e entregue à morte porque se manchara com algum crime segundo o direito romano, nem porque havia desmentido a palavra de Deus contida nas leis e nos profetas, e sim pelo seu comportamento demasiado misericordioso: anunciava de fato o perdão, sem recorrer a uma justiça retribuitiva e punitiva. O seu modo de comportar-se revelou que a misericórdia não é um corretivo para mitigar a justiça. A justiça de Deus é sempre misericórdia.    

Envolver-se com aquele que sofre

Obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. Obras de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

O Papa Francisco evoca a misericórdia não somente como perdão dos pecados, como um dom do coração de Deus, mas amplia o conceito com a imagem de Mt 25, de onde provêm as obras de misericórdia. Diz o Papa: “Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda”. A misericórdia, neste sentido, é um movimento de deslocamento da indiferença ao envolvimento com os que estão privados da própria dignidade. Ela não perde a dimensão de perdão e bom conselho, mas exige uma experiência samaritana de envolvimento com a dor do outro, daquele que sofre.

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