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Teologia e Igreja em processo de urbanização

Miguel Debiasi

A questão urbana tem sido objeto de estudo da Teologia e da Igreja. O ambiente urbano é um dos eixos de reflexão do Concílio Vaticano II. No período pós-concílio as Conferências Episcopais Gerais da América Latina e do Caribe intensificaram estudos do fenômeno da urbanização. Sua compreensão leva a buscar soluções no campo da ação pastoral.

A preocupação com o fenômeno urbano está no centro da reflexão da Teologia e da Igreja há cinco décadas. Neste tempo foram proporcionados fóruns, seminários de debate com as comunidades eclesiais e entre teólogos, antropólogos, sociólogos, intelectuais. Deste processo de discussão surgiram muitos subsídios de análise e de estudos. Quanto aos do Magistério da Igreja destaca-se a Exortação Apostólica Tertio Millennio Adveniente (Advento do terceiro milênio) do papa João Paulo II, publicado em 1994; O projeto Ser Igreja no Novo Milênio, pela ocasião do ano 2000, publicado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Os teólogos contribuíram com muitos e qualificados subsídios. Entre tantos destacam-se as obras de José Comblin Teologia da Cidade e Viver na Cidade, publicadas em 1991 e 1996. As dioceses, bispos, sacerdotes e lideranças também se debruçaram sobre a questão urbana. Em suma, a questão urbana conseguiu articular Teologia e Igreja num mesmo eixo de reflexão.

Mas, o fenômeno urbano vive num constante processo de mudanças. No dizer do teólogo brasileiro Joel Portella Amado, “vive em contextos de aguda urbanização e a adesão a Jesus está desvinculada da adesão à comunidade eclesial”. A desvinculação da “adesão a Jesus e não adesão com a vida comunitária eclesial” ocorre devido ao processo de urbanização com sua facilidade de transformações, mobilidades e pluralidades. Deste novo período de urbanização apresenta-se o problema da falta de vivência comunitário-eclesial. Isto significa o risco de reduzir a influência do Evangelho em ambiente urbano. Então, o problema que o mundo urbano põe à Teologia e à Igreja não diz respeito somente às ações pastorais, mas ao todo da vida da comunidade cristã.

 

Desde modo, a dificuldade do anúncio de Cristo em ambientes urbanos diz respeito a experiências, estruturas, projetos e ações pastorais da Igreja que não correspondem aos novos contextos socioculturais. A desvinculação da “adesão a Jesus e não adesão à Igreja” é uma questão histórica relacionada com o modelo eclesial configurado e dinamizado pela Igreja paroquial. A Igreja paroquial estruturada em seu território geográfico não condiz com mobilidade, pluralismo, descartabilidade, individualismo, utilitarismo, imediatismo, emotivismo, esteticismo dos contextos urbanos. O fenômeno urbano faz a desterritorialização da vida humana. Em ambientes urbanos tudo se desenraíza e desloca para além-fronteiras tanto físicas como simbólicas. Nos atuais contextos urbanos a vida está na constante desterritorialização. Com alta tecnologia e informática, o físico ou território perde importância para o espaço virtual. Um novo estilo de vida não condiz com a proposta da comunidade paroquial.

As consequências do processo de urbanização na comunidade eclesial são a diminuição da presença das pessoas em favor daquelas que se originam e se articulam no espaço virtual. Com o enfraquecimento da comunidade real, a Igreja perde em muito a capacidade de influenciar pelo evangelho a vida das pessoas. Desta forma, à medida que se dispersam e se originam grupos virtuais vê-se enfraquecer o poder da Igreja diante da sociedade. Nessa perspectiva, o Eu emerge como critério da vida que se desprende do comunitário eclesial.

Então, evangelizar hoje precisa ter claro o novo estilo de vida do indivíduo. A ação pastoral já não pode ignorar este modelo de vida. Cabe perguntar: que elementos são relevantes em uma comunidade eclesial em ambiente urbano? É possível em contexto urbano configurar comunidades eclesiais que articulem novo estilo de vida e evangelho? Fica como certa a resposta que o contexto urbano acena precisar de um novo modelo de comunidade eclesial. Consequentemente, de nova estrutura e de nova ação pastoral.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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