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O agro não é pop, nem tech, nem ...

Miguel Debiasi

A política parlamentar se perverteu paramentando-se da religião. A religião se perverte numa metamorfose em política. Em muitos casos a política partidária cresce absorvendo as energias da religião. Esta religião usa as energias maquinando com todas as artes da ideologia da política econômica burguesa. Ao tentar a Cristo, o Diabo declara ter “os reinos do mundo e sua glória” à sua inteira disposição (Lucas 4,6). Que farão os éticos, os justos, os cristãos verdadeiros e fiéis ao Evangelho diante deste cenário? Pois, os outros já sabemos como procedem, inclusive, com toda sua ambição.

O teólogo Clodovis Boff descreve o cenário nacional numa frase: “a política alçando-se a mística e a mística rebaixando-se a política”. Nem no apogeu da Idade Média onde política e religião formavam um única coisa e unidade social, produzindo a cultura da cristandade, a palavra Deus tenha sido empregada com perversa ideologia como em nosso tempo. No atual cenário transborda discursos e pessoas públicas “possessos de poder divino”. Ao mesmo tempo, arvorando divisa entre a política e a religião. Quando o desejo pelo poder se apossa de um homem ou de grupos ideológicos, torna-se fatalmente perigoso ao povo, e este, será submetido a monstruosos sacrifícios. A literatura bíblica-apocalíptica está repleta de sinais monstruosos e a forma horrorosa, em que os possessos alcançaram a religião, a fé do povo (Daniel 7; Apocalipse 13).

A secularização da religião não está fora da lógica da política liberal. Aliás, fez da religião um princípio imanente em tudo, e o transcende foi instrumentalizado, a serviços dos poderosos. Na politização da religião e da mistificação da política muitos cristãos, sem consciência e sem fé evangélica, se mostram vulneráveis. Muitos outros seduzidos pelo discurso da prosperidade, venturoso, bem-sucedido, afortunado, se lançam na atividade política partidária, na mais ideológica conservadora e extremista. Na exacerbação da perversão da religião e da política, investem forças em causas próprias, ferindo a consciência evangélica e práxis da política como a ciência que organiza o oikos, ou casa comum, a cidade-Estado no seu conjunto. A religião perde seu horizonte maior, o Evangelho, e a política a sua medida, a ciência, da vida pública. Os políticos e religiosos neoconservadores norte-americanos e brasileiros são o retrato da: da política-funcional da fé e da fé-funcional da política. 

O agro, do latim = campo, agricultura, não é suficiente para desenvolvimento humano dos 213 milhões de brasileiros. Ser um celeiro de produção de grãos e de carne do mundo pode aumentar a pobreza da população brasileira. Os países mais desenvolvidos pensaram as fases de crescimento econômico de forma harmonizada com a realidade de sua população. Estes pensaram num processo que os trabalhadores foram inseridos em todos os setores da economia, sobretudo, aquelas vindos das áreas agrícolas para a industrialização, evitando o desemprego. Foi um processo de transferência geográfica e laboriosa com base numa renda família mínima para evitar o desemprego e o empobrecimento da população.

No Brasil a população foi submetida a um brutal êxodo rural criando o fenômeno da favelização, elevando os números da exclusão social. As potências agrícolas do mundo não empregam mais que 5% da população, como Espanha, Estados Unidos, França, Itália, usando de tecnologia, serviços sofisticados na agroindústria, processos genéticos, produtos químicos avançados ecologicamente, pesquisas e tecnologias qualificadas e outros meios. No Brasil, os investimentos em pesquisa por meio da Embrapa são mínimos. O agro brasileiro é dependente das multinacionais, desde insumos, tecnologia, da compra e venda de produtos. Embora sendo um celeiro em grãos e carne do mundo, vive a maior estagnação econômica, o desemprego, precarização do trabalho, desintegração do território com queimadas, desmatamento, insegurança alimentar e outros. O agro do Brasil é apenas coadjuvante do processo de enriquecimento dos países desenvolvidos com exportação de bens primários, de commodities.

Para ser o pop, tech do agro, será preciso uma reindustrizalização do país, pensar na sustentabilidade ambiental, enfrentar o desmatamento, multar os milionários do gado, carvão, cana e soja que provocam as queimadas de forma sistemática pelo território Brasil. Principalmente, para ser um agro pop, tech, é preciso carne e alimentos sobre a mesa de todos os brasileiros, algo muito distante de acontecer a curto, médio plano. Para este legítimo e integral desenvolvimento, a política precisa cumprir seu papel, prover o bem comum, e a religião a missão do Evangelho, da libertação na máxima de Jesus: “buscai, primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6,33). Se isto acontecer, seria uma revolução na religião e na política do parlamento.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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