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Alguns modelos fracassaram

Miguel Debiasi

Platão e Aristóteles, filósofos gregos, tinham a firme convicção que a retórica, a arte de falar bem ou de falar as claras, não tem a função de ensinar e de expor a verdade. Para os filósofos a função da retórica é persuadir e convencer os outros. No debate político a retórica é usada para convencer a opinião púbica. O uso da retórica com essa finalidade promove a depreciação da ciência da política e o desencanto pelas coisas públicas e comuns ou coletivas. Esta situação para ser superada exige dos governos e autoridades políticas um ir além do uso da retórica, formar a opinião pública pela verdade.

No campo filosófico há uma diferenciação entre o dialético e o retórico. A dialética estuda a estrutura do pensar e do raciocinar que se movem como base em elementos fundados cientificamente e não em opiniões. A dialética se articula com elementos que se apresentam como aceitáveis para todos ou para a grande maioria das pessoas, portanto, não em opiniões isoladas. A retórica estuda os procedimentos com os quais os homens se aconselham, acusam, defendem-se e elogiam em geral. Isto significa que a retórica se move não a partir de elementos científicos, mas de opiniões prováveis. Para Platão e Aristóteles a retórica parte de um raciocínio provável que corresponde a indução lógica. Então, a retórica é uma espécie de “metodologia do persuadir”, uma arte que tem por objetivo convencer os outros.

Platão e Aristóteles tinham refutado essa arte de persuasão, pelo fato que ela não ensina, mas engana e não diz a verdade. A retórica seria como uma imitação poética, onde a verdade desaparece. Pois a função do poeta não é dizer a verdade sobre as coisas acontecidas, mas mostrar como poderiam ter acontecido de outras possibilidades. A poesia estaria muito mais para dizer o universal do que dizer a história no seu particular, aquilo que se fez e o que aconteceu como ato verdadeiro. Na política, este tipo de raciocínio retórico tem encontrado muitos adeptos contemporâneos.

Sob governo Donald Trump, a fome nos EUA superou ao período da Grande Depressão Econômica de 1929. Dados oficiais do governo dos EUA afirmam que 26 milhões de adultos passam fome no país. A Feeding America, organização que distribui alimentos no país, estima que o número que passam fome é bem superior, chegando 54 milhões de estadunidenses. A Feeding America organizou mais de 200 bancos de alimentos espalhados por todo o país, oferecendo uma refeição diária a 54 milhões de estadunidense. Já a Revista Fórum publicou no final do governo Trump que 60 milhões de estadunidenses vivem com apenas uma refeição diária. No entanto, Trump usava de uma retórica ou de um discurso para esconder do mundo a realidade do povo estadunidense, milhões de pessoas famintas. Num outro compasso e com outra retórica o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, assumiu a realidade e tomou como uma das primeiras medidas de seu governo investir US$ 3 trilhões, em auxílio emergencial as famílias para conter a fome e a pobreza do país. Na insuficiente desta medida, o governo Biden investiu 1,9 trilhão para socorrer as empresas com o foco de conter desemprego e fomentar a recuperação da economia dos Estados Unidos.

O modelo Trump chegou ao Brasil pelo governo Bolsonaro. Segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que o número de brasileiros endividados cresce 0,7% ao mês. Já a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), aponta 66,3% dos consumidores estão endividados. Segundo o IBGE, 60 milhões de brasileiros entraram para o mapa da fome mundial. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), mostra que a taxa de desemprego do país chegou a 14,4%. Mas com uma atitude negacionista dos fatos, Bolsonaro vende a ideia que seu governo tem elevado o país para o maior índice de crescimento econômico e da oportunidade para todos. Obviamente, oportunidade para todos aqueles que estão saqueando a nação pelas privatizações das grandes estatais, os beneficiários pela flexibilização das leis do meio-ambiente e dos financiados pelo orçamento secreto, o chamado Bolsolão. O discurso do governo é desmentido pelos 68 milhões de brasileiros que passam fome e 93 milhões sem um direito e uma seguridade social.   

O governo Trump deixou a população estadunidense faminta e desamparada. No Brasil, o lastro de pobreza, desemprego, corrupção sistêmica, destruição das políticas públicas, aniquilamento das leis ambientais, sucateamento dos serviços públicos, privatizações dos setores primários da economia e outros, são as marcas do governo Bolsonaro. O modelo Trump e Bolsonaro é amargo por demais, para o Estado e para o povo. Assim, como Biden, o futuro governo do Brasil terá muito trabalho para recuperar a economia, tirar o país do mapa da fome, da corrupção, da destruição ambiental, da crise hídrica, do sucateamento da estrutura pública. Infelizmente, no caso do Brasil, quem paga a conta deste fracasso são os trabalhadores, o povo brasileiro desempregado e desassistido.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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