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A coerção política e social

Miguel Debiasi

Na antiguidade, Roma expandiu seu império com a política “Pax Romana”. Com essa estratégia política no período de 27 a.C. a 180 d.C. o império de Roma mantinha boa parte de países do mundo sob seu domínio e na relativa paz. Naquela época justificava a guerra como legítima em defesa da paz mundial. O recurso da guerra é legítimo quando favorece a coletividade. Contudo, no terceiro milênio é ato abominável e inaceitável.

Nos últimos anos o Brasil vive uma situação de verdadeira guerra civil. O pivô dessa tensão social é a retirada de direitos. Essa tensão social iniciou com o golpe parlamentar de abril de 2016. A partir disto prosseguiram-se outros fatos maléficos que levaram o Brasil à falência. Diante de tantos desacertos políticos e jurídicos, a população evidencia um cenário nacional de desesperança. Essa desesperança é favorecida pelo descrédito do governo, a corrupção das instituições públicas, de grupos empresariais, e reformas antipopulares. Com isto estabeleceu-se uma guerra civil no país.

Na contramão do império de Roma, que com habilidade política justificava as armas em prol da paz coletiva, o governo brasileiro dilata terror social com seu método maquiavélico. Roma usava a guerra em vista da paz com suas colônias; o governo federal ousa aceitação pública por métodos, reformas, medidas e linguagem de terrorismo social e mental. No caso da Previdência Social, em prol de sua privatização, o governo tem procurado esconder a real situação e com informações inverídicas manipula a opinião pública.

Após o golpe parlamentar de 2016 estabeleceu-se uma coerção política e social da população brasileira. A coerção é fortalecida pela economia e mercado liberal que devasta pessoas e povos, do qual o governo brasileiro e a mídia são parceiros. Esta coerção é fonte de violência individual e coletiva. Ademais, em países subdesenvolvidos como o Brasil, está sendo implantado procedimento de subversão da consciência coletiva. A manipulação política e social acaba por fomentar a economia e o mercado liberal que exige dos estados a renúncia de sua soberania nacional. 

Assim o Estado nacional, articulado em função da economia e do mercado, privilegia poucos e perde sua razão constitucional. Em função do desmonte do Estado brasileiro o escritor Vladimir Safatle afirma que “no Brasil, o governo leva ao extremo uma guerra civil não declarada contra aqueles que vivem de salários, para submetê-los a um regime de medo e insegurança social absoluta a fim de quebrar qualquer ímpeto possível de mudanças nos padrões de circulação do dinheiro e das riquezas. Por isto, o paradigma para entender o Brasil não é o paradigma do governo, mas o paradigma da guerra”.

Neste cenário de desserviço com a população brasileira o Estado é uma peça que se movimenta a favor dos interesses do mercado mundial. Ademais, justamente pelo contrário, ao Estado caberia o papel de zelar pela soberania nacional, preservar seus instrumentos democráticos e programar as políticas públicas com vistas ao bem-comum ou à coletividade. O ponto de partida para o Estado nacional voltar a exercer a função que lhe cabe, de guardiã dos interesses coletivos, é a participação política do cidadão. Vendo a coisa por este ponto de vista, em questão política os interesses são mais obscuros e turvos. No atual descrédito dos políticos, para sair desta situação obscura e turva somente por uma revolução do crer. Algo pouco provável que aconteça no país.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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