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Viver na realidade e pensar numa outra

Miguel Debiasi

 

“Ninguém pode atravessar o mar deste século se não for carregado pela cruz de Cristo”, afirmava Santo Agostinho (354-430). A cada século suas cruzes e seus cidadãos e sua credibilidade que para Agostinho está em viverem segundo o projeto de Cristo. Todos os séculos são autênticos para os cristãos quando a fé em Cristo for tão real e verdadeira que supera as cruzes que atormentam a vida. No século XXI é preciso atravessar as tormentas do curso do tempo a fazer-se-cristão no sentido mais profundo do seguimento a Cristo.

Nos primeiros séculos do cristianismo foi exigido dos Santos Padres a tarefa de recolher os escritos fidedignos e selecionar os autênticos dos inautênticos. Os primeiros recolhidos foram os textos das cartas de Paulo dirigidas às comunidades cristãs. Nesta difícil tarefa foram precisos três séculos que levou a formulação do cânon definitivo. O cânon do Novo Testamento foi fixado em 367 por obra do doutor e santo da Igreja Atanásio de Alexandria. Mesmo isto fixado os primeiros cristãos continuaram a produzir escritos que não entraram para os canônicos que são os chamados apócrifos. Os apócrifos, hoje, são textos muito pesquisados pelos teólogos, biblistas, cristãos e não-cristãos. Ainda que não sejam canônicos eles têm muita importância histórica, como para a fé.

Aos primeiros cristãos para além da tarefa de garimpar e selecionar os documentos autênticos enfrentaram muitas dificuldades como das distinções de vários níveis de compreensão dos textos bíblicos. O movimento agnóstico complicava as coisas para os primeiros cristãos e os santos padres, rejeitando o Antigo Testamento e chegaram a declará-lo como uma obra de um Deus diferente e inferior ao do Novo Testamento. A própria linguagem antropomórfica Antigo Testamento ou do veterotestamentária dificultava as interpretações dos textos bíblicos. O judeu Fílon de Alexandria que desenvolveu sua atividade filosófica no primeiro I, propôs a interpretação do texto bíblico em vários níveis como teológico, moral e filosófico. Fílon pode ser considerado um precursor dos Santos padres ou da Patrística.

Nessa árdua tarefa em defesa da doutrina do cristianismo que se estendeu por séculos é possível distinguir três etapas: a) o dos “Padres Apostólicos” do século I, assim chamados porque estavam ligados aos apóstolos e ao seu espírito, estes não enfrentaram os problemas filosóficos, limitaram-se as questões morais e ascéticas, destacam-se o Clemente Romano, Inácio de Antióquia, Policarpo de Esmira; b) a segunda etapa é a dos “Padres apologistas”, que, ao longo do século II, realizaram uma defesa sistemática do cristianismo, os filósofos aparecem como os grandes adversários a serem combatidos; c) a terceira etapa é propriamente da Patrística, que vai do terceiro III ao início da Idade Média e na qual a filosofia e o elemento filosófico, sobretudo o platônico, tem uma importância considerável. Os Santos Padres, são todos aqueles teólogos, filósofos e homens da fé que contribuíram para construir o edifício doutrinário do cristianismo, que a Igreja acolheu e sancionou.       

A tarefa dos Santos Padres foi antes de tudo religiosa e teológica, e fizeram de sua filosofia a parte integrante de sua fé. A teologia e a filosofia de Santo Agostinho (354-430) apontam para o vértice do pensamento da Patrística que é compreendida como a filosofia cristã, contrapondo-se aos ataques dos pagãos e dos hereges. As questões debatidas pelos Santos Padres formularam o corpo doutrinal da fé cristã, como: da Trindade, da Encarnação, as relações entre liberdade e graça e entre fé e razão. A formulação do dogma da Trindade só ocorreu em 325, no Concílio de Nicéia. A formulação da doutrina cristológica foi concluída com o Concílio de Calcedônia em 452, onde estabeleceu duas naturezas em uma pessoa, a de Jesus, compreendendo Jesus como “verdadeiro Deus” e “verdadeiro homem”. As relações entre liberdade e graça e fé e razão exigiram longas reflexões dando uma rica interpretações e consequências.

A economia do Brasil afunda e acumula a taxa mais baixa de crescimento se comparada com a média global de 7,6% e dos países emergentes de 9,5%. As previsões do economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Gita Gopinath, o aumento da taxa básica de juros, a alta inflacionária e os poucos investimentos do governo colocam o Brasil nos mais baixos índices de crescimento econômico do planeta. A estagnação e o não crescimento do Brasil não é um problema de fé, ou de religião, de Deus, da família, mas da falta de um projeto econômico viável para o país. Um projeto econômico viável pode colocar o país novamente entre as mais importantes economias emergentes do mundo. Mas, para isto, exige-se uma densidade política e capacidade de execução, algo em falta no atual governo.      

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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