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Um mundo sem desemprego, é possível?

Miguel Debiasi

 

As gerações passadas constituíam grandes famílias pensando em possuir uma relativa força para o trabalho. Sou do tempo que as famílias eram numerosas e que íamos ao trabalho ainda crianças. As mãos calejadas eram símbolo da educação e do aprendizado recebidos dos nossos pais. Tudo na vida girava em torno do trabalho e ninguém podia faltar com esse compromisso diário. Somos da cultura de que o trabalho é fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano. Hoje, para muitos, o trabalho faz falta na vida.

Com o passar dos séculos e nas sucessivas revoluções burguesas, o trabalho passou a ser compreendido como produtor de riqueza. Na segunda metade do século XIX, o filósofo Karl Marx (1818-1883), definiu o trabalho como um instrumento de humilhação dos indivíduos. Isto porque o filósofo observava que a modalidade de produção capitalista tornou-se sinônimo de ação alienada e o ser humano tornou-se coisa, ferramenta de produção.

Em nosso tempo, normalmente, quando falamos de desemprego nos referimos às pessoas que possuem idade para trabalhar e não estão trabalhando ou permanecem fora do mundo do trabalho. Os estudos sociológicos dizem que o desemprego está relacionado a uma situação social de não emprego, na qual o indivíduo não trabalha e não recebe nenhum retorno salarial.

Socialmente, a partir de Karl Marx, entende-se como emprego a venda de mão de obra ou força de trabalho em troca de uma remuneração ou salário, que pode ser diário, semanal ou mensal. E, havendo vínculo empregatício ou não, caso não haja, desempenha-se o trabalho informal.

Trabalho e emprego são conceitos, por vezes, confundidos. Na realidade, trabalho refere-se a qualquer atividade desenvolvida pelo ser humano. Entendemos o emprego como atividade que o indivíduo realiza e obtém salário ou remuneração em troca.

Hoje é possível eleger as principais causas do desemprego. Como primeira, o desemprego é gerado a partir do momento em que um posto de trabalho é fechado. O principal fator que gera o fechamento dos postos de trabalho é a crise econômica de um país. Quando a economia de um país não vai bem, empresas, indústrias e setores de serviços deixam de funcionar e demitem seus funcionários, gerando o desemprego.

Nas causas do desemprego, está a política da redução de custos que é implementada nas indústrias, nas grandes empresas e nos setores de serviços, que demitem funcionários a fim de reduzir os gastos na sua folha salarial. A falta de qualificação profissional é outra causa do fator desemprego. Na demanda por funcionários especializados, os indivíduos que não possuem tais exigências são demitidos ou não contratados.

No aprimoramento tecnológico e na automatização, muitos postos de trabalhos substituem a mão de obra pelas máquinas. Desde a Primeira Revolução Industrial que ocorreu na Inglaterra por volta de 1760 até 1850, quando se iniciou a Segunda Revolução Industrial, a mão de obra humana foi sendo substituída por máquinas.

O engenheiro e economista alemão Klaus Martin Schwab (1938), um dos fundadores do Fórum Econômico Mundial (1971), foi o primeiro a defender a ideia de que entramos a partir de 2010 na Quarta Revolução Industrial. Essa é marcada pela convergência e integração de tecnologias avançadas, incluindo inteligência artificial, internet das coisas (Iot), big data, computação em nuvem, realidade aumentada e virtual e manufatura aditiva. A Quarta Revolução Industrial tem contribuído para o aumento das taxas de desemprego mundialmente.

Os estudiosos classificam os tipos de desempregos e os principais são: o sazonal, cíclico, friccional e estrutural. O desemprego sazonal acontece em determinada época do ano. Ele é causado por variações de oferta de trabalho em determinado tempo. Esse fenômeno é comum na agricultura em função da época de plantio e de colheita, e no comércio, devido às datas comemorativas na sociedade.

O desemprego cíclico acontece em função de alguma crise econômica e política. Nesse contexto, há a diminuição de produção e recessão econômica, obrigando as empresas a diminuírem a produção e gastos com a mão de obra. O desemprego friccional ocorre quando os indivíduos saem de seus empregos por vontade própria em busca de uma oportunidade melhor de trabalho. Há o desemprego estrutural, que ocorre quando aqueles que, por motivo de qualificação, não podem atuar mais naquela empresa por razões como a mudança dos modos de produção pela automatização.

As consequências do desemprego são muitas como as sociais, culturais, psicológicas e econômicas. Estudos apontam que o desemprego aumenta os problemas relacionados com a saúde física e mental do trabalhador: a autoestima, a insatisfação, a frustração e a mudança de humor, a falta do bem-estar. Os aspectos sociais que mais se destacam com o desemprego é o aumento da pobreza e da exclusão social. Nessas circunstâncias, há a redução da qualidade de vida das pessoas, das famílias e da sociedade como um todo, por fim, aumento da desigualdade social.

O jurista, economista e sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) considerado um dos fundadores da sociologia, disse que “o trabalho dignifica o homem”. Weber destacou que o trabalho se encaixa como uma das ações sociais mais nobres e dignas presentes na sociedade. 

Em maio de 2024, a taxa de desemprego no Brasil caiu a 7,1%, a menor dos últimos 10 anos. Isso mostra que a política econômica do governo federal vem produzindo frutos e essa envolve um plano de desenvolvimento econômico articulado com as políticas públicas de defesa da seguridade social, da educação, da saúde humana e de serviços sociais, da reindustrialização do país, do equilíbrio fiscal, do desenvolvimento econômico alinhado ao desenvolvimento social fomentado na economia interna e de exportação.

A humanidade e os cristãos, pelos valores do Evangelho e éticos, poderiam acreditar num mundo sem desemprego, pois, o trabalho é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. As pessoas de mãos calejadas sabem, que de braços cruzados e sem trabalho ninguém é feliz, ninguém se sente realizado. Essa máxima foi assumida pela pessoa de Jesus que ensinou: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (João 5,17).  

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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