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Professor: Um risco prazeiroso

Vanildo Luiz Zugno

Ser professor é uma opção arriscada. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, em todos os países do mundo, é uma das profissões com os mais altos índices de stress. No Brasil, a pressão emocional vem acompanhada pela baixa remuneração. Num ranking de 48 países organizado pela OCDE, os professores e professoras brasileiros são os mais mal pagos. Junte-se a isso, a falta de reconhecimento social. São raros os docentes que já não ouviram a pergunta: “Você não trabalha? Só dá aula?” Como se “dar aula” não fosse trabalho!

Por que persistimos, então, nessa ocupação? Pelas razões de qualquer outra profissão: necessidade e satisfação. Por necessidade, porque todo ser humano, para sobreviver, precisa trabalhar. E ensinar é um labor como qualquer outro que busca a justa remuneração para a satisfação das necessidades básicas e dos prazeres que a vida humana merece.

E há também a satisfação como deveria haver em qualquer outra profissão. Uns sentem prazer em jogar futebol, em arar a terra, em esculpir ou desenhar, fabricar carros, cozinhar, limpar uma casa, vender... E nós sentimos prazer em ensinar, em transmitir conhecimento e em ver pessoas crescerem no saber e no ser. É neste último aspecto que está o maior prazer do professor e da professora.

Prazer que, há de se reconhecer, vem sempre acompanhado de uma dose de ansiedade. Afinal, o que vai ser desta criança, jovem ou adulto com o qual ocupamos nossas horas e dias?

Ser professor é viver a vida no futuro do pretérito. Quais vão ser as consequências futuras daquilo que ensinamos às pessoas do hoje que já é ontem? Pergunta difícil que, como diz o tempo verbal que, mesmo sendo do modo indicativo, é sumamente dubitativo, marcam o dia a dia do professor e da professora.

Afinal, pessoas não são coisas nem máquinas. Não são determináveis. Não podemos moldá-las conforme nossos desejos e interesses. O êxito de nosso trabalho não depende, em última instância, de nós. Está assentado na acolhida e cultivo do que semeamos por parte de quem está à nossa frente. Ele é o sujeito. Nós, apenas os meios.

A maioria dos estudantes passa pelas nossas vidas e desaparece... Nunca mais os vemos ou temos notícias. Mesmo daqueles e daquelas que pareciam tão próximos. Outros aparecem muito tempo depois, quase sempre por acaso. Aparições que podem trazer alegria ou dor. Às vezes a notícia não é boa. Aquele ou aquela que um dia foi nosso aluno tomou um rumo na vida que o fez infeliz. Outras vezes a alegria explode ao descobrirmos que todo aquele potencial que apenas vislumbrávamos agora desabrochou e está a nossa frente uma pessoa realizada e transbordante de contribuições para a sociedade.

E a culminância do prazer do professor acontece quando um daqueles jovens que havia desaparecido da memória te encontra e diz: “Eu achava as suas aulas chatas e você muito exigente, mas agora me dei conta de como aquilo era importante e está sendo útil em minha vida”.

Mas há um degrau a mais, o suprassumo da razão de continuar na profissão de professor. É quando alguém chega e te diz: “As suas aulas me ajudaram a mudar o rumo da minha vida. Foi ouvindo a sua explicação que tomei uma decisão que foi decisiva para mim”. É uma frase que não tem preço. Ela compensa todas as horas mal pagas e arduamente trabalhadas. Ouvi-la, uma vez que seja na vida, justifica todos os esforços de quem se dedica ao ensino. É a realização antecipada de tudo o que sonhamos. É o presente do futuro.

Tenho o prazer de dizer que já ouvi essa frase. E foi  muito bom ouvi-la! Por ela e por todas as outras, agradeço a cada um e cada uma que, nestes 22 anos de magistério, partilharam a sala de aula comigo. Obrigado!

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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