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O preço da, do ... subiu!

Miguel Debiasi

 

O professor, educador, escritor, antropólogo e político brasileiro, Darcy Ribeiro (1922-1997), que se destacou pelo seu trabalho em defesa da causa indígena e da educação, nos alerta que há o fato de muitas obviedades e outros não são óbvios. Darcy Ribeiro está dizendo que há fatos que escondem na realidade seus interesses. Em boa parte são interesses de todas as naturezas. Esses interesses são forjados na fornalha da classe dominante, diz o sacerdote jesuíta e teólogo brasileiro João Batista Libanio. Os cidadãos comuns do século XXI são vítimas deste poderio que geralmente se ignora.

Quando damos importância a uma coisa ou a uma realidade determinada buscamos conhecê-la na sua totalidade. Interessar-se em conhecer a realidade da humanidade em geral é no fundo teimar em captar tudo e a partir de todas as coisas possíveis, escreve em suas reflexões sobre a crise e o conhecimento latino-americano, o sociólogo venezuelano Otto Maduro (1945-2013). Para Maduro todo pesquisador ao investigar uma realidade ou coisa deixa milhares de outras fora, que podem estar próximas a suas relações ou distantes de seus olhos. Em toda pesquisa algo ficará para trás, mesmo avançando na descoberta de outras dimensões. E quando construímos uma ideia ficamos vislumbrados pela sua perspectiva, mesmo que seja a única.

Em tempo de conexões virtuais e na consciência em que tudo está interligado, todas as coisas têm sua fundamental importância. Em cada ser criado e por infinitamente pequeno que seja nos deparamos com sua imprescindível importância para evolução e equilíbrio dos ecossistemas. Uma parcela dessa descoberta deve-se muito ao trabalho das ciências modernas e das instituições de pós-graduação que investem em pesquisa. Professores e alunos se destacam pelo resultado das novas pesquisas e pelas soluções alcançadas para maturar uma maior consciência coletiva e que toda atividade humana precisa estar organizada à luz da ética e do equilíbrio ecológico. Há uma exaustiva tarefa pelo conhecimento de tudo que envolve o ser humano, as estruturas cíclicas do universo, os sistemas ecológicos e solares e cresce a consciência de que é preciso chegar ao pico mais alto dos saberes ecológicos, embora este seja infindável. E na imensidão do universo e de tudo que existe buscar conhecer a cada ser e parte é uma longa via, uma utopia a ser percorrida.

No mundo moderno com seu avanço em tecnologia, ciências, comunicação e outros, surgem realidades imprevistas até então desconhecidas que exigirá novas perguntas e respostas. O conhecer e o saber tornou-se uma grande disputa irreversível entre países e continentes e que esconde interesses de toda natureza material e espiritual. Nesse conflito de interesses torna-se tarefa diária do cidadão comum distinguir os diferentes discursos, apologias, crenças, fundamentalismos, dogmatismos e outros. Nós cidadãos comuns do mundo fomos atropelados pela imposição tecnológica, produtos eletrônicos, pela comunicação, relação virtual e outras similares. A tendência desse modelo ou projeto é crescer, incorporar mais cidadãos, consumidores, empresas e seres humanos como objetos a serviço de seus interesses.

Como somos parte integrante desse movimento e dessa lógica de um mundo articulado na sua totalidade, movido pela força do mercado, corre-se o perigo de assumir a imagem e a postura do contexto midiático. Quanto mais nos conectamos, mais somos impedidos de pensar o universo em todas as suas partes, diferenças, discursos, planos e outros. A globalização massificada gera mais sentimentos e conexões que pensamento. O mercado com a força da comunicação midiática dispensa o pensar e a consciência crítica. As notícias sobre a guerra entre países da Europa ocidental se vestem de discursos ideológicos e emoções que deixam o espectador sem pensar, paralisado. Como diz o teólogo Libanio à comunicação midiática substitui o real. Um cidadão por mais conectado que esteja aos acontecimentos, terá muita dificuldade em saber das verdadeiras motivações para a guerra militar entre Rússia e Ucrânia.

Em 2021 o preço da gasolina subiu 46%, a Petrobras promoveu 16 reajustes, conforme dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). O aumento no preço do etanol foi de 58%. O preço médio da gasolina, que custava R$ 4,6 em janeiro, fechou o ano custando, em média, R$ 6,67. Já o litro do diesel passou de R$ 3,6 para R$ 5,3. Ao longo de dezembro de 2021, a gasolina chegou a R$ 7,9 e o diesel R$ 6,9. Os preços dos combustíveis levam a pensar no aumento dos produtos de alimentação, energia, gás, vestuário, saúde, moradia, transporte e outros. A subida dos preços aponta para uma atitude, devemos deter essa política econômica atrelada ao dólar, a moeda dos EUA. Em contrário, imaginem as tremendas dificuldades de um operário, assalariado, desempregado, da classe média baixa, dos aposentados. Pensar a partir dessas realidades humanas, em seus sacrifícios e suas penúrias, leva ao conhecimento dos cidadãos comuns que é possível outro projeto político e econômico para bem comum da população brasileira. É preciso substituir a política econômica do ‘subiu’ por outra, do abaixou, do barato, do acessível a todos. Essa política econômica é possível como foi aplicada em passado recente.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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