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Natal: o símbolo dá o que pensar.

Vanildo Luiz Zugno

Natal: o símbolo dá o que pensar.

Na manhã do dia, 23 de novembro de 2021, um caminhão guindaste rompeu o silêncio da Praça de São Pedro no Vaticano. Retirada de cima de um caminhão, uma árvore de 28 metros foi levantada e fixada na vertical. Ali permanecerá até o dia 9 de janeiro de 1922. O majestoso pinheiro, com em torno de 110 anos de idade, é originário de uma floresta sustentável do Trentino, no Norte da Itália. A agência de notícias do Vaticano diz que a árvore será decorada com ornamentos esféricos de madeira e iluminada com lâmpadas LED de baixo consumo.

Colocar uma “árvore de Natal” na praça de São Pedro é uma prática recente. Tem apenas 40 anos. A primeira foi ali colocada em 1982 quando João Paulo II era o Papa. Desde então, a cada ano, várias regiões da Europa disputam o direito de enviar a sua árvore para o Vaticano.

Ao ler a notícias, várias considerações me vieram à mente. Duas quero partilhá-las com os amigos para que pensemos juntos e juntas. A primeira uma inquietação franciscana tão cara ao Papa Francisco, como ele o demonstra na “Laudato Sì”. É uma preocupação ecológica. Quando Francisco de Assis, em Greccio, celebrou o Natal com a população local, fez vir, junto ao presépio, um boi e um burro. Apenas dois animais. Mas o suficiente para mostrar que a salvação trazida por Nosso Senhor Jesus Cristo abarca toda a criação. É um símbolo. E São Francisco, antes mesmo que Paul Ricoeur, sabia que os símbolos dão o que pensar.

E aqui eu penso: em tempos de “Laudato Sì”, de aquecimento global, de devastação da Amazônia, de Sínodo para a Amazônia, ainda faz sentido cortar uma árvore de 110 anos para colocá-la na Praça de São Pedro onde permanecerá por algumas semanas e depois... o que será feito com essa vida de 110 anos que foi interrompida apenas para o deleite visual dos que passam por Roma neste tempo de inverno? Milhões de fotos desta árvore circularão pelas redes sociais. Que mensagem elas levam para o mundo?

A segunda preocupação é sobre a relação entre religião e cultura. Todos sabemos que a data do Natal foi uma apropriação cristã da festa pagã do sol invictus, divindade erigida pelo Imperador Aureliano como religião oficial romana no ano de 274d.C.. Ao buscar uma aproximação com o cristianismo, o Imperador Constantino proibiu o culto ao sol invictus e substituiu o festival de 25 de dezembro pela comemoração do nascimento de Jesus Cristo.

O pinheiro é outro exemplo de apropriação de um símbolo pagão pelo cristianismo. Ele era utilizado por várias religiões para representar a presença da divindade. Quando os missionários cristãos penetraram nas regiões ocupadas pelos germânicos e escandinavos, eles assumiram esse símbolo religioso e incorporaram-no à festa natalina. Lutero, em seu intuito de purificar o cristianismo dos símbolos pagãos e sabendo que não podia contrapor-se a essa tradição, insistia em que a árvore deveria ser triangular para representar nela as três pessoas da Santíssima Trindade. Atitude sábia. Não se pode lutar contra a cultura. Pelo contrário. O cristianismo, assim como todas as religiões, sempre se expressa através dos símbolos culturais compreensíveis às pessoas.

E aqui eu me faço uma segunda pergunta: qual o símbolo da cultura de hoje que mais é associado ao Natal? Temo não estar equivocado ao afirmar que a grande maioria das pessoas hoje, quando pensa em Natal, pensa em Papai Noel. Na maioria dos presépios, desde as casas até os centros comerciais, não há lugar para Jesus. Maria e José continuam rodando por aí em busca de um lugar onde o menino poderá nascer. E é muito provável que tenham que, outra vez, buscar uma manjedoura.

Não creio que seja possível evangelizar o Papai Noel. Mais: temo que o Papai Noel já tenha comercializado definitivamente o Menino Jesus. Por isso, minha opção é radical: nada de presentes no Natal. E, para o presépio, nada de árvores. Nem naturais e muito menos as artificias. No máximo, um presépio artesanal, feito com materiais locais e da economia cooperativa e sustentável.

Isso não muda o mundo. Mas é um símbolo. E o símbolo dá o que pensar.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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