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Aprender a viver com os outros

Miguel Debiasi

 

A guerra é a manifestação real da divisão do mundo entre povos, países, continentes. É o desfecho dos conflitos de políticas econômicas ocidente versus oriente gerada pelas potências mundiais. A guerra beira uma ação selvagem, irracional, bestial. Nenhuma guerra se justifica. Ela é intolerável. Porém, a guerra é fato. Ela mostra a incapacidade das nações conviverem na paz. O terceiro milênio inicia com o desafio nada fácil, levar as autoridades mundiais a conviverem em paz com os outros e governarem de forma soberana e harmoniosa.

No agravamento dos conflitos políticos econômicos e na vontade de governos guerrearem nos deparamos com a inoperância das organizações e alianças internacionais. Nessa inoperância nos perguntamos: Os conflitos entre potências econômicas submeterá a humanidade às tragédias do século XX de duas guerras mundiais? A Organização das Nações Unidas (ONU), como principal organismo internacional com a missão de preservar a paz e a segurança mundial, porque não se antecipou a guerra com sanções? A ONU como principal organismo de estimular a cooperação internacional na área econômica, social, cultural e humanitária porque não abriu um canal de diálogo entre Rússia e Ucrânia e os países envolvidos? A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que sendo a aliança militar intergovernamental, criada em 4 de abril de 1949, poucos anos após a Segunda Guerra Mundial, porque foi incapaz de mediar uma relação entre a Rússia e a Ucrânia? E na aplicação de desmensurados recursos em fabricação bélica e armas nucleares é possível um mundo pacificado? No momento as perguntas ficaram sem respostas.

A guerra é a escandalosa incapacidade de conviver com as posições antagônicas. Governos e mercados geram contínuas tensões que levam à brutalidade humana. Na história do século XX não faltam fatos de estupidez humana. O inadmissível lançamento das bombas atômicas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki para forçar a rendição japonesa já no final da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945. O Holocausto ou o genocídio de judeus realizado a comando dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com 6 milhões de pessoas mortas. A Guerra do Golfo Pérsico, na década de 1990, empreendida pelos Estados Unidos. Da mesma maneira, a tentativa dos Estados Unidos de mediar acordos nas questões do Oriente Médio entre palestinos e israelenses. O apoio político e financeiro dos EUA à Israel, país de tradição judaica, historicamente inimigo do povo palestino, islâmico em sua grande maioria, em que se colocaria como nação inimiga do Islã. Este apoio não passaria despercebido como foram os ataques terroristas às torres gêmeas em Onze de Setembro de 2001, coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda. O fato é que as brutalidades humanas se repetem com muita frequência no século XXI.

Em face dos sucessivos fatos abomináveis pela incapacidade das organizações, alianças e acordos internacionais, outro olhar se detém sobre as condições para superará-los. A civilização não tem nenhum futuro sem a convivência fraterna. Sem respeito às soberanias nacionais não haverá nação livre e independente. A sociedade humana não tem sentido sem a convivência respeitosa e harmoniosa entre diferentes. É imprescindível aprender a conviver com os outros, impedindo todo ato contrário à racionalidade, a liberdade, a sociabilidade, a solidariedade. No momento essas e outras condições carecem de cuidados e de vontade política internacional.  

A convivência com os outros e o viver juntos é um aprendizado a ser construído. Aos cristãos esse aprendizado é o antídoto a tanto veneno dos interesses políticos e econômicos espelhado pela força da livre competição de mercado. O salmista exclama: “Ah! Como é bom e como é lindo, habitar como irmãos, assim todos juntos” (Salmo 133,1). Jesus Cristo o único Mestre da humanidade pressentindo a paixão de cruz deixa-nos o maior mandamento para a convivência fraterna: “amai-vos uns aos outros; aquele que dá a vida pelo outro tem maior amor” (João 15,12-13). E proíbe alguém que resista ao mal pelo uso da violência e toda brutalidade humana só pode ser superada no mundo pelo paradoxo: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5,44). É urgente viver esse ensinamento de Jesus Cristo como o maior aprendizado da vida.

A cultura ocidental, berço da formulação dos direitos humanos e do cristianismo precisa valorizar mais o ensinamento do Evangelho e a prática da tolerância. A cultura oriental lugar de tantas experiências sociais e religiosas de vida em grupo, em comunidade, em família, precisa construir caminhos de diálogo e de mútua colaboração. Enfim, o caminho de um autêntico viver juntos é o autoconhecimento e reconhecimento de si mesmo e dos outros. Isso implica aprender a viver no diálogo mútuo, intercâmbio de diferenças, empatia, tarefas comuns, crer juntos e com mais cuidados se percorre o caminho da convivência com os outros. Nesta tensão internacional ao governo brasileiro cabe um posicionamento mais claro e contundente pela paz e defesa da soberania dos países.      

 

     

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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