Em julho, Elto Luis Bourscheidt, de 52 anos, iniciou o tratamento quimioterápico na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), do Hospital Geral. Diagnosticado com câncer no intestino, ele já fez dez das 12 sessões previstas. A carga de medicação acaba dificultando o dia a dia do paciente. A região da boca é um dos pontos mais afetados.

“Tem dias que não consigo me alimentar direito. Dói muito”, explica o caxiense.

Essa reação à quimioterapia é bastante comum. Gengiva, língua e lábios ficam bastantes sensíveis durante o tratamento. Com o objetivo de ampliar o conforto de Bourscheidt e de demais pacientes em tratamento na Unacon, professores e acadêmicos de Odontologia realizaram um atendimento experimental na última terça-feira, dia 1º de novembro. Por meio de um projeto de Extensão, a rotina de imersão no ambiente hospitalar passará a ser cada vez mais comum. Além do local que atende casos de câncer, o projeto de atendimento contempla também as internações na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

No primeiro contato no hospital, além de informações sobre os cuidados para prevenir as lesões bucais causadas pela ação da medicação, a equipe da Odontologia também fez a aplicação de laserterapia em pacientes que apresentavam mucosite – inflamação que pode levar a úlceras dolorosas e feridas.

Submetido a intervenções por causa de um câncer na língua, José Benedito de Oliveira Gomes, de 37 anos, já convivia com as primeiras mucosites na boca. Foi submetido ao tratamento com laser que deve, nos próximos dias, aliviar e curar com mais rapidez as lesões. O procedimento melhora a produção de colágeno nos tecidos e facilita a angiogênese – crescimento de novos vasos sanguíneos.

“A Odontologia Hospitalar atua em pacientes em condições sistematicamente alteradas. O objetivo é melhorar a qualidade de vida deles e permitir a manutenção do tratamento sem pausas”, explica a professora do curso de Odontologia Marina Curra.

Conforme ela, as reações à medicação podem ocasionar graves problemas orais que não permitem aos doentes a ingestão de alimentos. Devido à fraqueza causada pelas doses de fármacos, muitos pacientes precisam cancelar temporariamente o recebimento da medicação.

A docente explica ainda que os Odontólogos podem atuar sobre as mucosites de maneira preventiva ou curativa. Com base em pesquisas desenvolvidas por ela, em casos de quimioterapia de alto risco, a ação dos dentistas pode reduzir os casos de mucosite de 70% para 12% das pessoas em tratamento.

Além da ação na Unacon, docentes e alunos do curso de Odontologia da UCS também vão desenvolver trabalhos na Unidade de Terapia Intensa do Hospital Geral. Eles atuarão junto aos pacientes, promovendo ações de higienização bucal para prevenir infecções bucais que podem se agravar em pacientes em UTI. Quadros infecciosos, xerostomia (secura pela carência de salivação) e a presença de equipamentos de ventilação podem gerar casos de pneumonia nosocomial, doença que complica o tratamento médico.

As iniciativas no âmbito da Unacon e da UTI reforçam o compromisso de tratamento e prevenção com eficiência do Hospital Geral. Ao mesmo tempo, permitem um espaço de aprendizado aos acadêmicos do curso. Do mesmo modo, as ações reforçam o crescimento da Odontologia Hospitalar, segmento de mercado que tem acolhido profissionais especialmente no eixo Rio-São Paulo, mas que também tem se expandido para outras partes do país.

O atendimento para os cerca de 30 pacientes da quimioterapia e 82 da radioterapia, além das internações da UTI, irão ocorrer três vezes por semana.