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Subsídios exegéticos para o 5º Domingo do Tempo Comum ano B

por João Romanini

Reflexão para o domingo de 07 de fevereiro 2021

Foto: Divulgação

SUBSÍDIOS EXEGÉTICOS

LITURGIA DOMINICAL - ANO B

 

5º Domingo do Tempo Comum

Dia: 7 de  Fevereiro de 2021

Primeira Leitura: Jó 7,1-7.

Salmo: 146,1-2.3-4.5-6.

Segunda Leitura: I Cor 9,16-19.22-23.

Evangelho: Mc 1,29-39

 

Introdução: Intimidade e Empatia.

O Evangelho deste domingo mostra as ligações entre intimidade, empatia e solidariedade popular. Na intimidade e a empatia vivenciada no círculo pessoal/familiar da casa de Simão e André se gera a comunidade de serviço em favor das pessoas mais vulneráveis. A intimidade da consciência humana em Jó lança o desafio empático com as pessoas que são vítimas de relações de opressão e escravização. Paulo parte de sua experiência pessoal de missão e declara a vivência empática entre as pessoas fracas. Um domingo onde as leituras bíblicas ligam a vivência pessoal da fé com o compromisso social e político.

Marcos: intimidade e empatia

Em Mc 1,29  está o final de uma narrativa da “sinagoga de Cafarnaum”, que inicia em 1,21. Embora em outras narrativas se fale que Jesus entrou em sinagogas (3,1), pregou (1,39) e ensinou (6,2), este é o único texto onde se menciona que ele e os discípulos “saíram da sinagoga” indo para a “casa” (oikia). Este movimento marca quando a comunidade de Marcos visualiza o surgimento da comunidade “cristã”. Na intimidade da casa, a comunidade vive o encontro com Jesus. A casa aparece novamente em 9,33; quando “partindo para Cafarnaum” entraram na casa. Na casa Jesus se revela como “servo de todos” (9,35). A casa tem como referência inicial Simão e seu irmão André (portanto é a casa materna/paterna de ambos, 1,16). Simão ainda não é conhecido como “Pedro” (cf. 3,16). O texto dá entender que ambos falaram para Jesus (intercederam) pela sogra de Simão, que estava acamada (1,30). Esta mulher vulnerável é imagem de toda a comunidade de Marcos, perseguida, ferida, frustrada. Jesus a toma pela mão (outro gesto de profunda intimidade e ternura) e a febre desaparece imediatamente. A mulher/comunidade tocada por Jesus, começou a servir!

Na segunda parte do texto, a “casa” se torna referência para todas as pessoas vulneráveis, doentes e excluídas. A referência “quando o sol se pôs”, indica que o sábado passou, o que permite que, sem exclusão, “todas” as pessoas doentes ou “possuídas” vão ao encontro de Jesus (1,32), ampliando-se no versículo seguinte quando “toda a cidade” se reúne na porta da casa (1,33). Verifica-se um movimento de igreja de saída, que vai da intimidade empática, para a empatia inclusiva em relação às pessoas mais vulneráveis, e daí parte para a missão que faz a ação política solidária (cidade/pólis). 

Uma primeira conclusão em 1,34 substitui “todos/as” (pas), por “muitos/as” (polús). Os “demônios” como forças espirituais da morte e do sofrimento perceberem quem era Jesus (eído, de “ver”, não de “saber”), mas ele não deixa estes “falar” (laleo). Esta é uma prévia do chamado “segredo messiânico” em Marcos. As forças de morte percebem logo quem é Jesus e qual é sua missão, mas esta missão deve ser desenvolvida a partir da comunidade, da intimidade, da empatia e do compromisso social e político. Jesus é o Messias que emerge da comunidade, não imposto ou implantado por nenhum poder.

O dia em que a comunidade foi gerada segue. Ainda escuro, no amanhecer do primeiro dia da semana - dia da ressurreição, como é dito em Mc 16,2- Jesus se afasta, gerando, na comunidade, um sentimento de abandono muito semelhante ao da sua morte (1,35). A comunidade, liderada por Simão, sai em busca de Jesus, como no episódio da ressurreição (1,36-37; cf. 16,7). Jesus anuncia a missão de compromisso social e político a partir da comunidade, dizendo literalmente “dentro disso, pois eu vim/vou” (eis touto exelton). Jesus provoca a “eclesiogênese” (cf. Clodovis e Leonardo Boff) desde a intimidade, passando pela empatia e projetando o compromisso social e político. Jesus continua pregando por toda a Galileia, nas “sinagogas deles” (sunagogas auton), mas sempre voltando para a casa/comunidade como referência, expulsando as forças de morte (1,39).

Ligação com os outros textos

O texto de Jó exige o mesmo cuidado do que o texto de Marcos, em não ver na pessoa (sogra de Pedro) apenas ela, mas a expressão de muitas outras na mesma situação. Assim quando no livro de Jó se pergunta: “não está o homem condenado a trabalhos forçados aqui na terra?” (7,1-3), não se conecta a intimidade do sofrimento humano, com a empatia e o compromisso social e político? Quando ao apóstolo Paulo afirma “para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos”, não expressa ali, através da sua intimidade de fé, a empatia e o compromisso social e político? Assim podemos ver, através destas leituras, que este é o caminho da fé, da construção comunitária e da missão de Deus.

 

 

 

ROTEIRO DE CELEBRAÇÃO

QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM  – 07/02/2021

A misericórdia de Jesus nos devolve a dignidade perdida

 

ACOLHIDA

Animador: Queridos irmãos e irmãos em Cristo misericordioso e compassivo, Paz e Bem! Na Liturgia do quinto domingo do Tempo Comum, a ação libertadora e curadora de Jesus identifica e expulsa os “espíritos maus” e perversos da discriminação, da exclusão das mulheres, dos enfermos e pobres.  Na alegria de celebrar Jesus Cristo que liberta e salva, e como Igreja em saída ao encontro dos irmãos e irmãs que clamam por vida e dignidade, iniciemos nossa celebração, cantando.

 

ATO PENITENCIAL

Animador: Jesus, movido por uma misericórdia sem limites e um amor incondicional, quer nos curar e libertar das enfermidades do corpo, da mente e da alma. Coloquemo-nos confiantes nas mãos e no coração de Deus e peçamos seu perdão.

- Pelas vezes que alimentamos em nosso coração, sentimentos de indiferença, discriminação e ódio, cantemos...

- Pelas vezes que somos insensíveis e omissos diante do sofrimento dos enfermos, pobres e excluídos, cantemos...

- Pelas vezes que compactuamos com este sistema perverso que concentra a riqueza cada vez mais nas mãos de poucos, cantemos...

 

HINO DO GLÓRIA

Animador: Glorifiquemos a Trindade Santa por todas as pessoas que movidas pelo amor continuam os gestos de misericórdia em favor dos enfermos e pobres, cantando.

 

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura: Jó 7,1-4.6-7

Segunda Leitura: 1Cor 9,16-19.22-23

Evangelho: Mc 1,29-39

REFLEXÃO

- O evangelho de domingo passado, nos mostrou Jesus, que, através de um ensinamento feito com autoridade, expulsou “espíritos maus” de uma pessoa. O evangelho de hoje nos apresenta explicitamente alguns dos “espíritos maus” que corrompem a mente e envenenam o coração humano: a discriminação da mulher, sobretudo da enferma, dos doentes em geral, pobres assaltados em seus direitos e em sua dignidade.

- A primeira leitura nos apresenta Jó, que era um homem de bem e de bens, tinha tudo o que qualquer pessoa desejaria ter; bens materiais, dinheiro, uma bela família, saúde, amigos, fé em Deus. Poderia-se dizer: assim é fácil crer em Deus. Quero ver crer em Deus na miséria! Pois é, Jó tinha tudo isso, mas perdeu tudo, seus bens materiais, seus amigos, a família, a saúde, mas não perdeu a fé em Deus. Há quem perde a fé, o sentido da vida e se revolta contra Deus por muito menos. Essa situação de Jó nos mostra que às vezes é preciso chegar ao fundo do poço para ver que Deus não nos abandona. Mostra que Deus é maior que todas as nossas dores e misérias. Mostra que nossa missão neste mundo não se encontra nos bens que possuímos, e que quem tem fé verdadeira, mesmo que seja minúscula como um grão de mostarda, é capaz de superar e vencer os obstáculos e sofrimentos. Enfim, mostra que nossa missão neste mundo é lutar contra o sofrimento, mesmo que para isso tenhamos que ver nossa vida ameaçada, ou nossa esperança por um fio. Lutar não apenas contra o nosso sofrimento, mas contra o sofrimento de nossos semelhantes e de qualquer ser vivo.

- Paulo, na sua carta aos Coríntios reforça esta verdade e a consciência da missão recebida de Deus de anunciar o evangelho, não como título de glória para ele, mas obrigação, ou seja, uma necessidade que lhe foi imposta: “Ai de mim se eu não anunciar o evangelho”. Tornou-se servo de todos, fazendo-se tudo para todos, para conquistar alguns para o reino. Servir gratuitamente, como São Paulo o fez, dá verdadeiro sentido e significado a nossa vida e missão.

- O Evangelho trata dessa mesma questão, mostrando Jesus fazendo o bem e ensinando os seus discípulos a fazer o mesmo. O bem é algo contagiante, nos diz o Papa Francisco. Quem é beneficiado pelas boas ações dos outros se coloca prontamente à disposição para também fazer o bem. Jesus sai da sinagoga e vai logo à casa de Simão. Jesus mostra uma Igreja que sai dos templos e vai ao encontro das pessoas, sobretudo dos enfermos, pobres e necessitados. A missão da Igreja é ir ao encontro das pessoas que sofrem e são discriminadas, representadas na sogra de Pedro. Jesus foi onde ela estava, aproximou-se dela, segurou-a pela mão e ajudou-a a levantar-se. Jesus nos ensina a ser solidários, a estender a mão aos necessitados, a ajuda-los a se levantarem, para que eles também possam fazer o mesmo com outros que necessitam. Todas as vezes que estendemos a mão a alguém necessitado, revelamos Deus a esta pessoa, e as pessoas que encontram Deus, tem suas vidas transformadas. Todos nós podemos recuperar vidas, devolver esperanças, dar um pouco mais de alegria. Jesus não se limitou a ajudar a mulher a se levantar em sua prostração. Ele continuou sua missão, foi para outros lugares, foi ao encontro de outros necessitados nas periferias existências do seu tempo e nos mostrou com isto que não basta fazer o bem esporadicamente, mas que a solidariedade, a misericórdia, a compaixão é essência de nossa vida cristã, de nossa missão.

PRECES DA COMUNIDADE

Animador: A vida do homem na terra tem alternativas de alegria e de dor, sorrisos e lágrimas. Nossa oração se dirige ao Pai para pedir conforto, saúde e bênção. Digamos juntos: Curai, Senhor, os corações feridos!

  1. Pela santa Mãe Igreja, para que ela seja, aos olhos de todos os homens, o sinal do amor e da misericórdia de Jesus, vencedor do mal e da morte, rezemos ao Senhor.
  2. Para que a paz e a segurança sejam restabelecidas em nossa sociedade e que sejam banidas as guerras, os conflitos, o tráfico de drogas e tudo aquilo que gera morte, rezemos ao Senhor.
  3. A fim de que abençoeis todos aqueles que se dedicam a aliviar o sofrimento dos doentes, como: seus familiares, os voluntários da saúde, os médicos, os enfermeiros, rezemos ao Senhor.
  4. Por aqueles que carregam no corpo alguma deficiência ou enfermidade, e que por isso são vítimas do preconceito e da falta de amor dos cristãos; para que unam seus sofrimentos aos do Cristo na cruz, e tenham confiança no Cristo ressuscitado, rezemos ao Senhor.
  5. Para que o senhor cure os nossos corações, as nossas feridas do corpo e da alma, a fim de que possamos servir uns aos outros repletos de paz e de amor, rezemos ao Senhor.

 

OFERTÓRIO

Animador: Confiar em Jesus Libertador, ir ao seu encontro, buscá-lo na oração diária, na santa Eucaristia; só desta forma teremos força para enfrentar as dificuldades. Canto das oferendas.

 

COMUNHÃO

Animador: Jesus é o Pão vivo descido do céu. É Ele mesmo que vem nos curar de toda e qualquer enfermidade. Que a febre do egoísmo e do medo se abaixe perante aquele que é o Senhor da vida e da saúde. Cantemos.

 

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