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Subsídios Exegéticos Para A Liturgia Dominical, 13º domingo do tempo Comum

por João Romanini

13º Domingo do Tempo Comum 27 de junho de 2021

Foto: Divulgação

13º Domingo do Tempo Comum

27 de junho de 2021

Evangelho: Mc 5, 21-43

Primeira Leitura: Sb 1, 13-15; 2, 23-24    

Segunda  Leitura: 2 Cor 8, 7.9.13-15

Salmo: 29, 2.4.5-6.11.12a.13b

 

Particularidades da narrativa em Marcos em relação aos demais sinóticos.

Esta narrativa que inclui a “Mulher com hemorragia” e “Jairo e Talita” apresenta uma construção particular. Possivelmente originada no Evangelho da comunidade de Marcos, também se apresenta nos outros sinóticos (Mt 9,18-26, Lc 8,40-56). Sendo assim, foi uma tradição comum, introduzida primeiramente por este Evangelho. Acontece que a comunidade de Mateus não se interessa tanto por esta narrativa e a apresenta de forma resumida, omitindo especialmente os detalhes referentes a Jairo (o diálogo com Jesus), os discípulos que lhe acompanharam ao aposento da menina e a ordem para que lhe dessem de comer, entre outros. Já Lucas se aproxima mais da narrativa da comunidade de Marcos, apenas omitindo as palavras em aramaico “Talita cumi” (Mc 5,41). Então, qual seria a intensão da comunidade de Marcos e manter com tanta fidelidade esta costura narrativa ao ponto de incluir a expressão em aramaico?

A costura narrativa e o sentido da inclusão além do “senso comum”

Marcos 5,21-43 apresenta dois milagres, ambos envolvendo mulheres, literalmente costurados em uma única narrativa, o que não pode ter sido por acaso. A costura é feita através de expressões estruturantes:

A- As apresentações - (v.21-26) Jesus passa para “o outro lado”, encontra “muita gente comum” (óxlos polús) em contraste como o “chefe/primeiro/principal da sinagoga” (archisunagógon) “Jairo” que “cai aos seus pés”. No versículo 23 é apresentada a “pequena/jovem filha” (tugáter).  Jesus vai junto com este homem, sendo seguido/acolitado (ekouloútei) e “apertado” pela “muita gente comum”. “Uma mulher que tinha um fluxo de sangue há doze anos” é apresentada. E logo se narra seu sofrimento, passando por muitos médicos (iatros), gastando/perdendo tudo o que tinha, e ficando ainda pior. Mas a chave simbólica está no número de anos!

B – A primeira ação questionada pela presença da multidão - (v.27-33) Dá-se a primeira ação: a mulher anônima se apropria da bênção tocando nas vestes. Aqui aparecem novos personagens: os discípulos, que questionam Jesus sobre a reação após ser tocado pela mulher.

C – A fé exemplar da pessoa que excluída que se torna filha - (v.34-35) A mulher conta o que fez e sua fé é reconhecida por Jesus, chamando-a de “pequena/jovem filha” (o mesmo termo usado para a filha de Jairo em 5,23).

B’ – (v.35-37) – A segunda ação questionada pela morte da filha -  Chega a notícia da morte que a “pequena/jovem filha” está morta e, diante do que as pessoas da sinagoga questionam sobre a necessidade de “incomodar o Mestre” (em Marcos, Jesus é chamado de “Mestre” 12 vezes, estando apenas atrás de Lucas, 18 vezes). Com o apelo à fé (que a mulher já demostrou ter): “não tenhas medo, somente crê” (v.36b). Escolhendo, os mesmos discípulos que lhe acompanharam no monte da transfiguração (v.37; cf. 9,2).

A’ – (v.37-43) – A apresentação da menina/mulher -Agora a “pequena/jovem filha” é chamada, por primeira vez, de “menina” (paidou), o que corresponde ao termo aramaico “Talita” (v.39.40.41). Mencionando que a menina tinha doze anos, isto é, estava se tornando “mulher” (próxima ao tempo da menstruação).

Como vemos na descrição da costura narrativa apresentada acima, ela carrega o enfrentamento da incompreensão do sentido inclusivo da fé. A situação apresentada por estas mulheres/filinhas e seus desdobramentos é a forma de Jesus ensinar sobre isto, por isso é chamado de Mestre (didaskalon). O número doze une ambas as situações, ambas ações, o grupo dos discípulos e, portanto, a missão da comunidade de Jesus como um todo. É uma lição que se aprende a partir das pessoas anônimas, quando se está no meio das pessoas simples, quando se atravessa “para outro lado”, daquilo que o “senso comum” (o que geralmente é aceito como “normal” ou “possível”). Daí os questionamentos tanto do grupo de discípulos quanto do grupo da sinagoga. Se estabelece, então, o direito de ir além do senso comum! A mulher, embora tremendo de medo, se atreve a tocar nas vestes e tem sua fé reconhecida como capaz de promover cura, vida e inclusão. O chefe da sinagoga tem de suplicar, superar o medo, ter fé, para que sua filinha seja salva, o que só acontece quando Jesus revela a capacidade de levantar por si mesma, assumindo, inclusive, sua identidade e ancestralidade cultural, aramaica, daí a importância da expressão: “Talita cumi”.

A relação com os outros textos para este Domingo

O livro de Sabedoria aponta para o sentido vital de tudo o criado, inclusive tendo sentido terapêutico, assim como o sentido vital da existência humana. No entanto, este princípio sapiencial só é possível quando as pessoas antes excluídas, silenciadas, mantidas no anonimato, são reconhecidas em suas ações, que se atrevem a furar o cerco da exclusão e se negam a aceitar a morte como realidade insuperável. Na Segunda Carta aos Coríntios, neste sentido, chama a atenção a sensibilidade da igreja dos primeiros tempos em relação as exclusões e desigualdade a serem superadas pelo “sincero amor”, quando afirma: “Não se trata de que outros vivam tranquilamente e a vocês falte, mas que haja igualdade” (2 Cor 13-14a).

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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